A varíola dos macacos foi confirmada, até o momento, em mais de 16 mil pacientes espalhados por 74 países.
No dia 23 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a doença como uma emergência global de saúde. Outras enfermidades que ganharam o mesmo status nos últimos anos foram covid-19, zika e ebola.
No Brasil, foram detectados mais de 600 casos até o momento. Os dados foram compilados pelo Our World In Data. e pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
A varíola dos macacos é uma infecção causada por um vírus que geralmente se manifesta de forma leve — os principais sintomas são febre, dor e o aparecimento de lesões e feridas em algumas partes específicas do corpo, como você confere a seguir.
O que é a varíola dos macacos?
Trata-se de doença causada pelo vírus monkeypox, que pertence à mesma família do vírus da varíola humana.
Os casos dessa infecção eram relativamente comuns na África Central e na África Ocidental, especialmente em regiões com florestas tropicais. Mais recentemente, o número de casos parece ter aumentado também em áreas urbanas.
Apesar do nome, os principais hospedeiros desse vírus na natureza são roedores. Mas primatas não humanos também são afetados por esse tipo de varíola.
Como a varíola dos macacos é transmitida?
A varíola dos macacos é transmitida quando alguém tem contato próximo com as lesões de pele, as secreções respiratórias ou os objetos usados por uma pessoa que está infectada.
O vírus ainda pode ser passado de mãe para filho durante a gestação, através da placenta.
Até agora, o patógeno não foi descrito oficialmente como uma infecção sexualmente transmissível, mas a doença pode ser passada durante a relação sexual pela proximidade e o contato pele a pele entre as pessoas envolvidas.
Muitos dos casos registrados até o momento foram observados em homens que fazem sexo com outros homens. Isso levou, inclusive, a Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido a pedir que esses indivíduos prestem mais atenção a coceiras ou lesões de pele que lhes pareçam incomuns, especialmente na região anal e genital.
Eles foram orientados a contactar seus serviços locais de saúde no caso de algum sintoma ou preocupação. Mas autoridades ressaltam que qualquer pessoa, independentemente da orientação sexual, pode ser contaminada.
Animais infectados, como macacos, ratos e esquilos, também podem transmitir o vírus.
Quais são os sintomas da varíola dos macacos?
A OMS explica que o período de incubação (o tempo entre o vírus invadir as células e o aparecimento dos primeiros sintomas) costuma variar de 6 a 13 dias, mas pode chegar até a 21 dias.
A partir do início dos sintomas, a infecção pode ser dividida em dois momentos.
Primeiro, acontece o período de invasão, que dura até 5 dias. Neste momento, o paciente pode apresentar:
- Febre;
- Dor de cabeça forte;
- Inchaço nos linfonodos (conhecido popularmente como “íngua”);
- Dor nas costas;
- Dores musculares;
- Falta de energia intensa.
Terminado o período de invasão, começa a segunda etapa, que é marcada por feridas na pele. Geralmente, essas marcas cutâneas surgem depois de 1 a 3 dias do início da febre.
As feridas costumam se concentrar no rosto, nas extremidades do corpo, como a palma das mãos e na sola dos pés, na mucosa da boca, na genitália e nos olhos.
Os médicos relatam que, no surto atual, as lesões têm sido mais frequentemente encontradas na região do ânus e dos genitais.
Elas surgem como feridas planas e, com o passar do tempo, formam pequenas bolhas com líquido dentro. Depois, ganham uma casquinha.
Mas o paciente pode ter apenas uma vermelhidão na pele que se assemelha a uma irritação.
O número de marcas cutâneas varia bastante: alguns pacientes apresentam poucas, enquanto outros chegam a ter milhares.
A varíola dos macacos pode matar?
Na maioria das vezes, a varíola dos macacos é um quadro autolimitado. Isso significa que, após duas a quatro semanas, os sintomas passam e a pessoa fica bem.
Os casos mais severos acontecem com mais frequência em crianças e têm a ver com a condição de saúde e uma grande exposição ao vírus.
As complicações também são mais comuns em pacientes com problemas no sistema imunológico.
Quadros graves estão relacionados ao surgimento de pneumonia, sepse, encefalite (inflamação do cérebro) e infecção ocular, que pode até levar à cegueira.
Historicamente, calcula-se que a taxa de mortalidade por varíola dos macacos varie entre 3 e 6% nos pacientes infectados. No surto atual, foram confirmadas até o momento 5 mortes.
Em linhas gerais, pessoas com mais de 40 ou 50 anos parecem estar mais protegidas. Isso acontece porque elas foram vacinadas contra a varíola no passado — sabe-se que esse imunizante também confere uma boa proteção contra o vírus monkeypox.
Qual é o tratamento?
O tratamento da varíola dos macacos envolve o suporte clínico e o alívio dos sintomas, como dor e febre.
Geralmente, os profissionais de saúde pedem muito cuidado com a alimentação e a hidratação, para que o organismo tenha boas condições de combater o vírus.
Quando o paciente sofre com infecções secundárias, também é possível usar medicamentos específicos para lidar com esses outros vírus, bactérias, fungos ou protozoários.
A OMS também destaca que existe um antiviral chamado tecovirimat, que foi desenvolvido especificamente para tratar a varíola dos macacos.
Ele já foi liberado pela Agência Europeia de Medicamentos, mas não está disponível de forma mais ampla.
Como a doença é diagnosticada?
Se o profissional de saúde suspeita que um paciente está com varíola dos macacos, ele pode indicar a realização de alguns testes.
Os exames laboratoriais, alguns deles já disponíveis no Brasil, analisam a amostra, geralmente colhida das lesões na pele, e detectam a presença do vírus.
Uma das técnicas utilizadas é a PCR, que ficou muito conhecida durante a pandemia de covid-19.
Tem como prevenir essa doença?
As vacinas são a principal forma de prevenção.
De acordo com a OMS, uma série de estudos observacionais descobriu que o imunizante que protege contra a varíola tem uma efetividade de 85% contra a varíola dos macacos.
Como o vírus causador da varíola foi completamente erradicado, o programa de vacinação contra essa doença foi paralisado a partir dos anos 1980.
Existe, porém, uma vacina mais recente contra a varíola dos macacos, feita a partir do vírus atenuado modificado em laboratório.
Usada num esquema de duas doses, ela está aprovada em alguns lugares desde 2019. A disponibilidade deste imunizante no momento é bem limitada.
Mas em alguns lugares, como o Reino Unido, a vacinação para conter a varíola do macacos já foi iniciada. Por ora, as doses só estão disponíveis neste país para três grupos: trabalhadores da área de saúde, indivíduos que tiveram contato próximo com alguém que foi diagnosticado com a doença e, por último, homens gays, bissexuais ou que fazem sexo com outros homens.
No Brasil, o Ministério da Saúde anunciou que está negociando a compra de vacinas contra a varíola. O Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz também estão estudando a possibilidade de fabricar doses no próprio país.
Além da vacina, outras formas de prevenção envolvem a vigilância e a identificação rápida de novos casos.
Indivíduos que foram diagnosticados com varíola dos macacos devem ficar em isolamento e evitar o contato próximo com outras pessoas até as feridas na pele desaparecerem por completo — isso diminui o risco de transmitir o vírus adiante e criar novas cadeias de transmissão na comunidade.
Pessoas gays estão mais expostas à infecção?
Muitos casos foram identificados em homens que tiveram relação sexual com outros homens, mas a varíola dos macacos não é considerada uma infecção sexualmente transmissível.
O especialista da OMS Andy Seale entende que, “embora estejamos vendo alguns casos em homens, esta não é uma ‘doença gay’, como algumas pessoas e as mídias sociais a rotularam. Qualquer pessoa pode contrair esta doença através do contato próximo.”
As doenças sexualmente transmissíveis exigem contato sexual para serem transmitidas, enquanto “você não precisa ter contato sexual para transmitir a varíola dos macacos”, diferenciou Seale.
O número relativamente alto de homens homossexuais que relataram a doença pode ser explicado pelo fato de que esse grupo está sendo mais proativo ao perceber os sintomas e buscar os serviços de saúde.
“Esse grupo demográfico geralmente é aquele que monitora sua saúde quando se trata de potenciais ISTs (infecções sexualmente transmissíveis)”, explicou Seale.
“Sabemos que [homens que fazem sexo com homens] quando detectam uma ferida incomum na pele, provavelmente são os que buscam tratamento mais rapidamente”.
– Este texto foi publicado originalmente em BBC News