Nos últimos tempos, muito tem se falado sobre transtorno do espectro do autismo (TEA), porém pouco se sabe sobre sua causa. (talvez esteja associado a fatores congênitos, como mutações genéticas e fatores de risco pré-natais, perinatais e neonatais).
Além disso, anormalidades na morfologia e função do cérebro têm sido observadas em crianças com TEA desde a primeira infância. Outro fator ambiental pós-natal relatado foi a duração do tempo de tela.
Vale lembrar que em 2019, a Organização Mundial da Saúde publicou diretrizes afirmando que as crianças não devem ser expostas a telas com um ano de idade ou menos. A Academia Americana de Pediatria também recomendou que as crianças não sejam expostas a telas até os 18 meses de idade.
Estudo
Em janeiro deste ano, pesquisadores japoneses publicaram no JAMA Pediatrics um estudo de coorte com 84.030 pares de mães e bebês. O estudo incluiu crianças nascidas de mulheres recrutadas entre janeiro de 2011 e março de 2014, e os dados foram analisados em dezembro de 2020. O objetivo foi avaliar a associação entre o tempo de tela na infância e o desenvolvimento do TEA aos três anos de idade.
Crianças diagnosticadas com TEA aos três anos de idade foram avaliadas por meio de um questionário aplicado às mães das crianças participantes, no qual as mães foram solicitadas a relatar o número de horas que deixavam seu filho assistir à TV ou ao DVD diariamente.
As respostas foram: sem tempo de tela, menos de uma hora, uma a duas horas, duas a quatro horas e mais de quatro horas de exposição a telas. O desfecho primário foi o diagnóstico de TEA aos três anos de idade.
No geral, 330 crianças receberam diagnóstico de TEA aos três anos de idade. Destes, 251 (76%) eram meninos e 79 (24%) eram meninas, ou seja, os meninos tiveram três vezes mais chances de serem diagnosticados com TEA do que as meninas. Independente do TEA, a resposta mais comum para o tempo de tela foi inferior a uma hora, relatada por 27.707 mães.
A proporção de crianças com TEA aos três anos aumentou à medida que o tempo de tela antes de um ano de vida se estendeu de acordo com as seguintes porcentagens de:
- Sem tempo de tela: 5,8%;
- Menos de uma hora de tela: 22,3%;
- Uma a duas horas de tela: 30,2%;
- Duas a quatro horas de tela: 31,7%;
- Mais de quatro horas de tela: 10%.
A análise de regressão logística mostrou que o maior tempo de tela com um ano de idade foi significativamente associado a maiores chances de TEA aos três anos em meninos. Entre as meninas, no entanto, não houve associação entre TEA e tempo de tela.
Considerações finais
A extensão em que a duração do tempo de tela na infância está associada ao diagnóstico de TEA permanece incerta. Porém esse estudo mostrou que, entre os meninos, o maior tempo de tela na idade de um ano foi significativamente associado ao TEA aos três anos de idade.
Além disso, devido a pandemia de Covid-19, houve uma rápida mudança nos estilos de vida, com os dispositivos eletrônicos sendo utilizados como principais canais de comunicação. Dessa forma, o tempo de tela entre as crianças aumentou em todo o mundo. Em meio a esse clima social, examinar as associações da exposição à tela com a saúde da criança é uma importante questão de saúde pública.
Fonte: Portal PEBMED