Dados do Datasus mostram que, no período de 2009 a 2019, o mês de maio teve, em média, 24.483 internações por doenças respiratórias em São Paulo, enquanto o mês de abril teve média de 25.185 internações do tipo no estado. São os meses com mais internações do tipo no ano.
Para os médicos, o fato de o surto de coronavírus acontecer na mesma época em que os sistemas já estão sobrecarregados com internações de doenças respiratórias poderá ocasionar uma maior demanda por equipamentos especializado.
“A gente vai ter uma sobreposição da epidemia [de coronavírus] com a maior incidência de doenças respiratórias. É uma sobrecarga a mais no sistema”, explica o pneumologista Rogério de Souza.
“O suporte ventilatório que você dá para alguém que tem insuficiência respiratória pelo coronavírus, os equipamentos que você usa para os suportes ventilatórios são os mesmos usados para internações respiratórias”, lembra de Souza.
O sanitarista Gonzalo Vecino, da USP, concorda que os equipamentos necessários serão disputados devido à sobreposição de coronavírus e internações por outras doenças respiratórias.
“Quando o cara precisa ser entubado, fazer respiração artificial, entrar na máquina para entubar, o equipamento é o mesmo, tanto faz se é gripe ou coronavírus. Essa pneumonia do coronavírus é uma pneumonia que usualmente está sendo tratada com respiração artificial, então, é um complicador a concomitância dos picos”, afirma Vecino.
Outro desafio apontado por especialistas no combate ao coronavírus em São Paulo é a alta taxa de ocupação dos leitos de UTI do estado. Em entrevista coletiva, o secretário estadual da Saúde estimou em 85% a taxa média de ocupação dos chamados leitos complementares no estado. Já o coordenador do centro de contingência contra o coronavírus, David Uip, disse que a média é cerca de 90%.
Uip afirma que, além da criação de novas UTIs, será necessário aprimorar a gestão desses leitos.
“Tem que tirar os entraves para que todos os procedimentos aconteçam rapidamente. Às vezes o indivíduo não tem alta por conta de falta de implante de marca-passo. Aqueles doentes crônicos de UTI nós temos que ter um respaldo de encaminhamento. Estamos discutindo os moradores de UTI, como fazer para resolver isso, sempre preservando a saúde o bem-estar de todos os envolvidos”, disse Uip.
Para Vecino, sanitarista e professor da USP, a redução no total de leitos no estado nos últimos dez anos é mais grave sob a óptica das mudanças nas taxas de permanência e de ocupação.
“Se a média de permanência cai e a taxa de ocupação sobe você pode ter menos leitos porque você vai aumentar o giro”, explica Vecino.
Uip reconhece que, além da necessidade de novos leitos de UTI, será necessário investir em mais equipamentos de respiração mecânica para equipar leitos comuns e transformá-los em UTIs respiratórias:
“Eu entendo que nós vamos ter uma dificuldade em relação aos respiradores. Hoje há uma concorrência muito forte no mundo inteiro na compra de respiradores. O ministro afirmou que está negociando com outros países, aqueles que já passaram por isso, para talvez ter alguma forma de trazer esses respiradores para o Brasil”, disse Uip em entrevista coletiva nesta quinta-feira (19).
Entretanto, para Francisco Beldrino, apesar da grande importância da falta de equipamentos, a falta de pessoal pode ser o maior gargalo no tratamento do novo coronavírus em São Paulo.
“Cama você compra, equipamento de modo geral você consegue montar, medicamento de alguma forma chega, mas pessoas treinadas, pessoas que estão acostumadas a lidar com esse tipo de paciente, eu acho que isso vai ser um dos maiores desafios”, afirma Balestrin.
Veja a nota da Secretaria Estadual da Saúde:
O Governador João Doria anunciou nesta quinta-feira (12) a ampliação das medidas de enfrentamento ao novo coronavírus em todas as regiões do estado de São Paulo. A principal delas é a reserva de mil novos leitos de UTI para o atendimento a casos do covid-19. Doria disse que não há razão para pânico e reforçou a importância da campanha de comunicação e prevenção para evitar o alastramento da doença.
“É o que denominamos de rede de enfrentamento contra o vírus. São novas medidas de prevenção e medidas incrementais, como mais leitos, medicamentos, equipamentos e profissionais de saúde. Mais mil leitos de UTI serão disponibilizados no estado de São Paulo. Outra recomendação é aumentar os cuidados especiais com as pessoas de 60 anos”, afirmou Doria. “Neste momento, no dia 12 de março, não há nenhuma razão para pânico ou medidas extremadas no estado de São Paulo em razão do coronavírus”, acrescentou.
Doria concedeu entrevista ao lado do Prefeito de São Paulo, Bruno Covas, o Secretário de Estado da Saúde, José Henrique Germann Ferreira, e o Coordenador do Centro de Contigência do coronavírus em São Paulo, o médico infectologista David Uip.
No momento, a prioridade é garantir atendimento a pessoas mais suscetíveis ao quadro grave do coronavírus, que são pessoas com idade a partir de 60 anos, portadores de doenças crônicas graves e imunodeprimidos, como pacientes que passam por quimioterapia. A meta é que os serviços de saúde das redes pública e privada estejam preparados para atender e orientar todos os pacientes com rapidez, segurança e qualidade.
“Não é uma decisão de ordem política, o instinto de um governador ou uma medida de ordem administrativa. É de ordem sanitária e de saúde pública. Com o devido cuidado para não levar pânico para a população e nem antecipar processos [de isolar toda a população], porque os efeitos são extremamente nocivos para a vida das pessoas e a economia de uma região ou país. Temos que tratar disso com bom senso, equilíbrio e avaliações diárias”, disse Doria. “Não é razoável paralisar, de maneira precipitada, um estado com quase 46 milhões de habitantes”, completou o Governador.
O Coordenador do Centro de Contingência do coronavírus corroborou a decisão do Governo do Estado e reforçou a recomendação de cuidados diários para evitar o alastramento do coronavírus.
Na terça (17), o Centro de Contingência vai reunir diretores regionais de Saúde e de 100 hospitais da rede estadual para indicar os protocolos clínicos de atendimento a casos suspeitos ou confirmados. A meta é uniformizar os serviços e definir critérios para internação de pacientes com coronavírus nos leitos de UTI, inclusive na rede privada.