Um artigo publicado na Survey of Ophtalmology esse mês revisou a relação entre a doença renal crônica e vários subtipos de glaucoma.
A doença renal crônica (DRC) é definida como uma filtração glomerular menor que 60 mL/min por 1.73 m2 de área de superfície corporal ou uma excreção de albumina urinária maior que 30mg/g por mais de três meses e com implicações para a saúde.
O glaucoma é caracterizado por degeneração das células ganglionares da retina e, relacionado a isso, o aumento da escavação do nervo óptico. Um dos principais fatores de risco é o aumento da pressão intraocular.
Outros fatores são déficits vasculares, fatores genéticos, pressão translâmina crivosa aumentada, estresse oxidativo, infecções por H. Pylori, doenças metabólicas incluindo a DRC. Com existe uma sobreposição na histologia, fisiologia e fisiopatologia de olhos e rins, foi sugerido que estejam interligados.
Um exemplo é a similaridade entre a estrutura vascular da coroide e dos glomérulos e entre mecanismos envolvidos no desenvolvimento das doenças.
São reportadas associações entre DRC e outras doenças oculares, incluindo deficiência visual, retinopatia diabética, degeneração macular relacionada a idade, catarata, oclusão de veia da retina, doença da superfície ocular e glaucoma.
Novo estudo
Um artigo publicado na Survey of Ophtalmology esse mês revisou a relação entre a doença renal crônica e vários subtipos de glaucoma.
O estudo coreano que envolveu 5.971 participantes de, pelo menos, 40 anos de idade, mostrou que uma baixa taxa de filtração glomerular (<45 mL/min por 1.73 m2) foi independentemente associada com glaucoma de ângulo aberto (GPAA).
Resultados
A doença renal crônica (DRC) também foi associada com GPAA mas essa associação não foi significativa após controlar as variáveis. Outros estudos encontraram que não há associação entre DRC e GPAA, incluindo o Beijing Eye Study, que incluiu 1598 indivíduos chineses.
Em estudo asiático incluindo 28.925 participantes também não houve associação significativa entre a taxa de filtração glomerular e o glaucoma de ângulo aberto. A presença de doença renal crônica não se associou significativamente com o glaucoma de Ângulo aberto.
Foram relatados efeitos protetores e nocivos no caso do ácido úrico, que podem ou não ser explicados por um efeito neuroprotetor do mesmo, podendo superar o efeito nocivo da DRC em alguns, mas não em todos os pacientes.
Considerações
A doença renal crônica é um problema de saúde pública mundial e é associada com desfechos cardiovasculares e renais além de morte prematura. A prevalência de doença renal crônica aumenta rapidamente com a idade.
O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo. A prevalência global de glaucoma por idade entre 40 e 80 anos é entre 3% e 4%, o que resultaria em 110 a 120 milhões de pacientes com glaucoma em 2040.
Conclusões
Apesar da relação parecer ser inconsistente, existem evidências de que a prevalência de glaucoma seria maior em pacientes com DRC e vice-versa. A literatura suporta também essa ideia pelo fato de elas terem vias fisiopatológicas comuns. Qual efeito domina pode depender das características da população do estudo e do desenho do estudo.
Mensagem prática
Entende-se, nesse estudo, que a eritropoietina (EPO) sistêmica tenha efeitos neuroprotetores, enquanto níveis elevados de EPO no olho podem ser secundários a danos locais. Mais estudos são necessários para confirmar ou rejeitar de forma convincente uma potencial relação pleiotrópica entre DRC e glaucoma.
Texto publicado originalmente no site de notícias PebMed