Com o avanço dos tratamentos médicos e o aumento da qualidade de vida, a expectativa de vida da população brasileira vem aumentando nas últimas décadas. Estimativas apontam que, em 2030, cerca de 20% dos habitantes do país serão idosos.
Contudo, o aumento do tempo médio de vida muitas vezes também vem acompanhado de incapacidades e comorbidades. O idoso tende a ter mais doenças crônicas coexistindo e frequentemente tem sua capacidade de autonomia cada vez mais limitada ao longo do tempo.
Um dos principais motivos para isso é a diminuição da mobilidade funcional do idoso, que é a capacidade de realizar funções relacionadas à vida diária, como carregar, mover ou manipular objetos, caminhar, usar meios de transporte e mudar a posição do corpo.
Além das causas biológicas, questões socioeconômicas também podem contribuir para a perda da mobilidade funcional e identificar esses fatores é essencial para a prevenção da incapacidade e para a manutenção da qualidade de vida do paciente idoso.
Análise recente sobre mobilidade funcional do idoso
Com objetivo de analisar a prevalência da limitação da mobilidade funcional autorreferida e os respectivos fatores associados, pesquisadores da Universidade de São Paulo utilizaram dados do Estudo Saúde, Bem Estar e Envelhecimento (SABE), que é um estudo longitudinal de múltiplas coortes, com amostra representativa para a população de pessoas com 60 anos de idade ou mais, residentes do Município de São Paulo.
O período avaliado foi entre 2000 e 2015, avaliando dados das “quatro ondas” (2000, 2006, 2010 e 2015) utilizadas no estudo SABE. Modelos de regressão foram utilizados para analisar as características dos indivíduos (socioeconômicas, comportamentais e de saúde) associadas à limitação da mobilidade.
A mobilidade foi avaliada para quatro quesitos (agachar, carregar objetos, subir escadas e caminhar) e a sua prevalência, para cada ano, encontra-se no gráfico abaixo:
Com relação aos fatores de risco associados a limitação da mobilidade funcional autorreferida, os principais achados foram associação com presença de doenças crônicas, como história de AVC (RP = 1,43; IC 95%: 1,29; 1,58); com presença de doenças osteomusculares (RP = 1,35; IC 95%: 1,23; 1,49); e com queixa de “dor nas costas” (RP = 1,33; IC 95%: 1,22; 1,45). Além disso, aspectos socioeconômicos como renda insuficiente também apresentaram correlação (RP = 1,17; IC 95%: 1,07; 1,28).
Conclusão
Ao avaliar esses resultados, chama a atenção como o relato de dor lombar, tão comum entre pacientes de uma maneira geral, pode ser uma sinalização de necessidade de maior atenção ao paciente idoso, visando a manutenção de sua mobilidade. Atenção especial deve ser dada também a pacientes com doenças crônicas e com baixo nível socioeconômico.
No cuidado aos pacientes idosos, é essencial que o médico tenha uma preocupação atenta com a sua autonomia. Dificuldades para realizar atividades diárias podem comprometer a qualidade de vida do paciente, fazendo com que seja necessário a presença de um cuidador — que muitas vezes será um familiar deslocado do mercado de trabalho — e aumentando o risco de outras doenças, como quedas e transtornos de saúde mental como depressão.
O envelhecimento da população e o aumento do número de indivíduos idosos torna essencial o cuidado voltado à prevenção de agravos em idades avançadas e a identificação precoce dos fatores de risco relacionados à redução da mobilidade pode fazer a diferença nesse sentido.
Fonte: PEBMED