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Poliomielite e sua importância de prevenção

No atual cenário brasileiro de baixas coberturas vacinais, a poliomielite voltou a ser considerada um risco no país.

A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, é uma doença infectocontagiosa viral aguda, causada pelo poliovírus (subtipos 1, 2 e 3), um vírus de RNA pertencente ao gênero Enterovirus e à família Picornaviridae.

O único reservatório natural do poliovírus é o ser humano e sua transmissão é interpessoal direta, através de gotículas de secreção respiratória, ou então do contato com objetos, água ou alimentos contaminados com fezes de indivíduos infectados.

O vírus penetra na mucosa orofaríngea, replica-se neste local e se dissemina por via hematogênica até os tecidos-alvo (miocárdio, meninges, tecidos nervoso e linfático). Nos folículos linfáticos intestinais, o vírus continua sua proliferação e é excretado na luz intestinal, podendo ser isolado das fezes por 3 a 6 semanas.

Em mais de 90% dos casos, a evolução da infecção é assintomática ou apresenta sintomas leves e inespecíficos, como febre, mal-estar, tosse, coriza, vômitos, diarreia, dor abdominal e cefaleia.

A forma mais grave é a poliomielite paralítica, cuja apresentação clínica varia de acordo com a região corporal acometida. A poliomielite bulbar, por exemplo,  caracteriza-se pela paralisia do diafragma e/ou dos músculos intercostais, resultando em um quadro de insuficiência respiratória que, em alguns casos, pode resultar em dependência de ventilação respiratória assistida.

São considerados suspeitos de poliomielite todos os casos de  início súbito de paralisia motora em menores de 15 anos de idade, e também em indivíduos de qualquer idade que viajaram para países com circulação do vírus selvagem ou tiveram contato com pessoas sintomáticas procedentes destes locais, num período de 30 dias antecedentes ao início dos sintomas.

Diante de um caso suspeito, deve-se sempre coletar duas ou mais amostras de fezes, em até 14 dias após o início do déficit motor. As amostras fecais são submetidas a exames de cultura e à técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR).

Através desta última, é possível identificar, além da presença do poliovírus, se é de origem selvagem ou vacinal, e qual é o seu subtipo (1, 2 ou 3).

Não existem opções de tratamento específicos para a poliomielite. Todos os pacientes acometidos devem ser hospitalizados e receber medidas terapêuticas apropriadas de suporte.1

A profilaxia primária da doença envolve medidas de melhoria do saneamento básico, educação populacional e campanhas de promoção de higiene sanitária.  Porém, a estratégia mais efetiva de prevenção é a vacinação, sobretudo do público infantil, de até 5 anos de idade.

Existem duas vacinas contra a poliomielite. A VOP, também conhecida como “Sabin”, é uma vacina oral de vírus vivo atenuado. Atualmente, esta vacina é bivalente, pois fornece proteção contra os subtipos 1 e 3. O vírus tipo 2 foi removido de sua composição a partir de 2016, após ter sido certificado como erradicado do planeta, em 2015.

A VIP, também chamada “Salk”, é a vacina injetável composta por vírus inativado. Trata-se de uma vacina trivalente, ou seja, protege contra os subtipos 1, 2 e 3.

A principal desvantagem da VOP é que, embora raramente, o vírus atenuado pode sofrer mutações e recuperar sua virulência, podendo causar poliomielite. Por isso, ela não deve ser aplicada em indivíduos imunodeficientes ou em seus contactantes, em hospitalizados ou em pessoas que não receberam anteriormente as três doses preconizadas da vacina VIP.

A Sociedade Brasileira de Imunizações estabelece o esquema vacinal composto por 3 doses da vacina VIP, aos 2, 4 e 6 meses de idade. Além disso, são recomendados 2 reforços, aos 15 meses e aos 4 anos de idade.4 Recomenda-se que, se possível, todas as doses sejam feitas com a vacina VIP.

Já o calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI) conta com o esquema básico com 3 doses da vacina VIP (2, 4 e 6 meses) e com os 2 reforços com a vacina VOP, aos 15 meses e aos 4 anos.

Uma interessante estratégia de prevenção contra a poliomielite é a sua combinação com outras vacinas que devem ser administradas na mesma faixa etária. Na rede privada, por exemplo, isso pode ser feito através da vacina hexavalente acelular, que combina a VIP com a tríplice bacteriana acelular e com as vacinas contra hepatite B e Haemophilus influenzae tipo B.  A poliomielite também pode ser prevenida através da vacina pentavalente acelular (que, das vacinas citadas anteriormente, não inclui apenas a da hepatite B) e da tetravalente acelular (associada à tríplice bacteriana dos tipos infantil ou adulto).

Por ser inativada, a vacina VIP não é capaz de causar poliomielite. É a vacina de escolha para imunodeficientes e contactantes, e também para indivíduos que apresentaram quadro de poliomielite associada à vacina após dose anterior de VOP.

O último caso de poliomielite no Brasil foi em 1989 e foi considerada eliminada no país no ano de 1994. Porém, em março de 2023, foi identificado um caso no Peru, em uma criança de 14 meses de idade por um vírus derivado vacinal.

Neste contexto, a Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS) alerta para a necessidade de vigilância, com identificação oportuna de casos suspeitos e notificação dos mesmos.

No atual cenário brasileiro de baixas coberturas vacinais, a poliomielite voltou a ser considerada um risco no país. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, cerca de 84% dos municípios já estão sendo considerados em alto risco de reintrodução do poliovírus, vírus responsável por causar a poliomielite.

É de extrema importância que os profissionais de saúde recomendem e confiram a carteira de vacinação dos seus pacientes para minimizar o alto risco da reintrodução do poliovírus no Brasil.

 

 

 

  • Texto publicado originalmente em PebMed

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