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Diagnóstico de disfunção endocrinológica em pacientes pediátricos graves

A disfunção endocrinológica é comum em pacientes pediátricos graves, sendo uma alteração frequentemente vista nas UTI pediátricas. As alterações mais comuns nesse contexto são as alterações do metabolismo da glicose e as disfunções adrenais e tireoidianas. A gravidade dos quadros gerenciados dentro da UTI pediátrica, aliado aos mecanismos de estresse, também são fatores predisponentes e agravantes das disfunções endócrinas em pacientes graves.

Essas alterações podem ocorrer mesmo em pacientes sem alterações endócrinas prévias e são agravadas por intervenções corriqueiras praticadas dentro da UTI pediátrica, como jejuns prolongados ou infusão de soluções glicosadas.

Pacientes graves com disfunções endócrinas se apresentam mais frequentemente por alterações da glicose (hipoglicemia ou hiperglicemia), hipotireoidismo caracterizado por redução dos níveis circulantes da triiodotironina (T3) e insuficiência adrenal, que pode ocorrer por distúrbios de todo o eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal.

Apesar da desregulação da secreção da vasopressina ser, a rigor, uma alteração endócrina que pode ocorrer em pacientes graves, ela é mais considerada como uma disfunção hipotalâmica do que como alteração endocrinológica, e não é abordada habitualmente nesse contexto.

Critérios específicos para definição da disfunção endocrinológica são extremamente importantes no contexto clínico, uma vez que permitem o diagnóstico e a classificação de disfunção orgânica. Além disso, a avaliação laboratorial da disfunção orgânica pode colaborar com a avaliação de desfechos clínicos específicos nesses pacientes.

Critérios de disfunção endocrinológica pediátrica

Com base em revisão sistemática, a colaboração PODIUM definiu alguns critérios para a disfunção endocrinológica em crianças com doença grave. No total, 84 artigos abordaram a disfunção do metabolismo de glicose, 18 abordaram a disfunção tireoidiana e 22 avaliaram a disfunção do metabolismo da adrenal, além de três estudos que apresentaram avaliações combinadas dessas disfunções. Veja abaixo:

  • Hiperglicemia: glicemia ≥ 150 mg/dL;
  • Hipoglicemia: glicemia < 50 mg/dL;
  • T4 sérico total < 4,2 microgramas/dL (não aplicável a pacientes com doença tireoidiana prévia);
  • Níveis séricos de cortisol pré e pós teste de estimulação com ACTH: pico < 18 micrograma/dL e/ou incremento < 9 microgramas/dL após a estimulação com ACTH.

Os estudos avaliados, alguns deles com alta qualidade de evidência científica, representados por ensaios clínicos randomizados, sugeriram que esses critérios estão associados a pior prognóstico em pacientes graves pediátricos, incluindo índices mais elevados de morte, menos dias livres da UTI e da ventilação mecânica, crises convulsivas e alterações eletrocardiográficas (no caso da hipoglicemia) e tromboembolismo venoso (no caso da hiperglicemia). Assim, esses critérios podem ser um ponto de corte adequado para avaliação da gravidade da disfunção orgânica endocrinológica em pacientes pediátricos graves.

Apesar disso, o critério de avaliação da disfunção adrenal pode não ser tão útil, uma vez que o teste de estimulação com ACTH não está disponível de forma disseminada e a própria interpretação do teste é difícil, com muitos equívocos associados. Os autores enfatizam a importância de se identificar biomarcadores da disfunção endócrina em pacientes graves pediátricos, com potencial de utilização clínica desses marcadores.

O que é a colaboração PODIUM?

A colaboração PODIUM (Pediatric Organ Dysfunction Information Update Mandate) é um painel colaborativo de especialistas com o objetivo de levantar e sintetizar evidências científicas de qualidade no que diz respeito à disfunção orgânica na pediatria. Também tem o objetivo de elaborar critérios atualizados para a disfunção orgânica pediátrica. O painel foi formado por 88 especialistas oriundos de 7 países que conduziram revisões sistemáticas da literatura com relação às disfunções orgânicas mais comuns na pediatria.

O grupo realizou a revisão da literatura publicada no período de 1992 a 2020 com relação à disfunção endocrinológica, com inclusão de 121 estudos.

 

 

 

Fonte: PEBMED

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