A menstruação é um evento fisiológico que representa o início da vida reprodutiva feminina.
Ela ocorre por causa da descamação do endométrio, camada interna do útero, que estava sendo “preparada” para uma possível gestação. Quando isso não ocorre, esse tecido é expelido.
O ciclo menstrual padrão dura de 24 a 38 dias e espera-se que o fluxo seja de até oito dias. É normal que adolescentes menstruem entre 9 e 15 anos. Quando não ocorre nessa faixa etária, é recomendado procurar um médico para investigar possíveis enfermidades.
Prestar atenção na quantidade de fluxo também é importante. Mesmo sendo difícil medir o volume sanguíneo a cada período, especialistas afirmam que é fundamental se atentar ao número de absorventes utilizados em um curto intervalo de tempo. O mesmo vale para coletores, absorventes íntimos e outras proteções.
“Se você tiver que trocar seu absorvente por um período menor que duas horas é considerado um fluxo acima do normal e deve ser investigado”, destaca Fátima Oladejo, ginecologista, com pós-graduação em medicina legal e perícias médicas pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). O recomendado ainda, segundo os médicos, é comparar com ciclos anteriores.
Como a menstruação acompanha boa parte da vida da mulher, é essencial prestar atenção a possíveis mudanças, já que alterações na cor, cheiro e volume podem indicar doenças. Mas como reconhecer essas variações na prática?
Ciclo menstrual desregulado merece atenção
Quando há um sangramento fora do comum e que apresenta anormalidade, é recomendado procurar um ginecologista. Isso porque essa mudança no organismo pode estar ligada ao uso de medicações, tumores ou desequilíbrios hormonais.
Neste último caso, a paciente pode menstruar de 15 em 15 dias, o que não é considerado saudável pelos médicos. Geralmente, ocorre pela falta de hormônios como progesterona e estrogênio. Questões emocionais também podem interferir.
Outra causa comum são os distúrbios ovulatórios, que podem ser causados pelo uso de medicação, doenças na tireóide e é comum em mulheres que estão na menopausa ou que acabaram de menstruar.
Pode ainda estar relacionado às causas endometriais, que são distúrbios da parte mais interna do útero, que pode ser provocada pela própria ovulação ou remédios. O uso de anticoagulantes, usados no tratamento de doenças cardiovasculares, por exemplo, também pode interferir na quantidade de sangue.
Por último, as alterações provocadas por tumores podem ser geradas por pólipos, que deixam o endométrio mais “inchado”. Há também os miomas, que são tumores benignos. “Existem vários tipos e é preciso avaliar a causa do sangramento. Não é qualquer um”, diz Gabriela Rezende, membro da Comissão Nacional de Ginecologia Endócrina da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
A médica destaca ainda o cuidado com os tumores malignos, já que esses podem se manifestar no endométrio e no colo do útero. “São cânceres. Esses tumores são mais comuns em mulheres mais velhas”, alerta.
A linha terapêutica para curar essas disfunções deve ser feita de forma individualizada, pois cada mulher terá um histórico de sintomas. Os médicos já conseguem fazer uma primeira avaliação em consultas médicas e, caso seja necessário, serão realizados exames ginecológicos.
Qual deve ser a cor do sangue?
Além do número de dias e quantidade de menstruação aceitável durante o ciclo, é preciso reparar na cor do sangue nesse período.
Embora pareça ser somente um vermelho “único”, o fluxo pode ter diversas tonalidades, podendo indicar problemas de saúde ou nenhum tipo de alteração. Veja abaixo:
Escuro e sem coágulos
Indica o começo do ciclo menstrual e fluxo intenso. A princípio, não há indicativo de alterações no organismo.
Escuro e com coágulos
Pode ser sintoma de hemorragia e os coágulos, que são pedaços de sangue mais viscosos, podem indicar a presença de miomas.
Vermelho vivo
Está ligado ao sangue arterial, pólipos, miomas e tumores malignos. “Não é uma boa referência de prognóstico. Indica uma área com bastante vascularização e sangue”, diz Marcos Takimura, ginecologista obstetra e coordenador do curso de Medicina da Universidade Positivo, em Curitiba (PR).
Rosado
Pode indicar rompimento do hímen, logo no início da primeira relação sexual. Mas quando o fluxo está mais aquoso também pode ser causado pela diminuição de estrogênio e deficiência nutricional.
Marrom ou similar à ‘borra de café’
Se manifesta com pequenos escapes e pode ocorrer no início ou final de cada período, mas não é indicativo de doenças.
É bem comum em mulheres que usam métodos contraceptivos como DIU e implante subdérmico.
Laranja
Pode estar misturado com o muco cervical, indicando corrimentos ou até infecções.
Cinza
Indício de alguma infecção no organismo e é preciso uma investigação minuciosa com o médico.
Cheiro importa?
O ideal é que a menstruação tenha odor de sangue levemente ferroso. Quando isso não ocorre, é necessário que a mulher preste atenção.
“Muitas vezes, a descarga de fluxo se mistura com o fluido e não necessariamente significa uma infecção uterina. Mas não deve ter um odor insuportável”, ressalta Rezende.
Se houver um cheiro fétido, lembrando peixe podre, pode indicar vaginoses e endometrites. “Pode ser uma infecção bacteriana no endométrio”, reforça Oladejo. Também pode estar relacionado a doenças inflamatórias pélvicas.
As vaginoses pioram no período menstrual pela própria alteração do pH. O pH da vagina é ácido, por volta dos 4 ou 4,5 e, por conta do fluxo, tende a ficar mais alcalino, chegando aproximadamente a 6, o que facilita a proliferação de bactérias.
Quando o sangramento ocorre de forma irregular repercute na saúde íntima e provoca um desequilíbrio da flora vaginal. “O mau cheiro é pela quantidade de gases que as bactérias eliminam”, explica Takimura.
Dessa forma, é fundamental se atentar ao tempo de troca sugerido pelos fabricantes de absorventes e coletores.
“Lembrando que a menstruação é uma matéria orgânica, mas a partir do momento que sai do corpo fica exposta a outras bactérias”, reforça Oladejo.
Também deve-se evitar uso de roupas apertadas e calcinhas que não sejam de algodão.
Perda de sangue excessiva provoca anemia?
Como o normal é menstruar de dois a oito dias, quando o fluxo excede esse período pode levar a quadros de anemia. A perda exacerbada de sangue no organismo faz com que a mulher tenha deficiência de ferro e, em casos extremos, precise até de cirurgia.
Por isso é necessário, logo nos primeiros sintomas fora do padrão, procurar um profissional de saúde para investigar cada quadro. Em algumas pacientes, será feito um acompanhamento nutricional, com mudanças na alimentação e ingestão de suplementos.
– Este texto foi publicado originalmente em BBC News