A necessidade nutricional dos idosos é determinada por vários fatores, incluindo doenças específicas, consumo de energia, e nível de atividade física. A desnutrição em idosos está associada a piora na qualidade de vida, utilização mais frequente dos serviços de saúde, maior tempo de internação hospitalar, e aumento da mortalidade. Alterações inerentes ao envelhecimento, fisiológicas ou patológicas, aumentam o risco nutricional nessa população.
A falta de capacidade para compensar períodos de baixa ingestão alimentar, devido a intercorrências agudas, pode resultar em alterações de peso persistentes a longo prazo. Isso é ainda mais grave quando combinada a fatores sociais, comorbidades, ou aspectos psicológicos que podem impactar negativamente o peso corporal.
A perda involuntária de peso pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo:
- Ingestão alimentar inadequada (fatores sociais, próteses dentárias mal adaptadas, condições psiquiátricas, disfagia, doenças do trato gastrointestinal, doenças neurológicas, uso de álcool e drogas, efeitos colaterais de medicamentos, entre outros).
- Diminuição do apetite (anorexia)
- Desuso ou atrofia muscular (sarcopenia)
- Efeitos inflamatórios de doenças de base (caquexia)
Critérios diagnósticos para desnutrição
O diagnóstico requer a combinação de pelo menos um fenótipo e um critério etiológico:
- Critérios fenotípicos — perda de peso não voluntária, baixo índice de massa corporal (IMC), ou redução da massa muscular.
- Critérios etiológicos — Redução da ingestão ou absorção de alimentos ou inflamação subjacente devido a doença/lesão aguda ou doença crônica.
Triagem para o estado nutricional
Inclui pesagem, cálculo da perda de peso, associada a ferramentas de triagem:
- A pesagem seriada oferece a triagem mais simples para adequação nutricional e mudança no estado nutricional em idosos.
- A perda de peso é considerada clinicamente significativa se houver uma redução: ≥ 2% do peso corporal de base em um mês, ≥ 5% em três meses, ou ≥ 10% em seis meses.
- Ferramentas de triagem: foram desenvolvidas para identificar idosos em risco nutricional, sendo facilmente encontradas nas plataformas digitais. Nutritional Risk Screening (NRS) 2002; Simplified Nutrition Assessment Questionnaire (SNAQ), SCREEN II; Malnutrition Screening Tool (MST); Mini Nutritional Assessment (MNA).
Abordagem da perda de peso em idosos
Sugestão para avaliação do idoso com perda de peso:
- Tenha uma balança confiável no consultório ou para atendimentos domiciliares, e documente em prontuário a perda de peso ao longo do tempo.
- Avalie o apetite e a ingestão alimentar, bem como a ingesta proteica diária.
- Realize uma história clínica completa através da AGA (Avaliação Geriátrica Ampla).
- Exames laboratoriais podem ser necessários quando existem evidências de doença metabólica ou inflamatória: glicemia, eletrólitos, TSH, hemograma, albumina, AST, ALT, LDH, VHS e PCR, a depender da suspeita clínica.
- Nos pacientes com perda de peso involuntária, a possibilidade de neoplasia deve ser lembrada. No entanto, devemos realizar apenas os exames de screening adequados a idade e contexto clínico, além de exames direcionados às suspeitas levantadas na história clínica. Além disso, a investigação deve levar em consideração os valores do paciente e a funcionalidade de base, de modo que em alguns casos pode-se optar pela não realização de exames invasivos.
Caso alguma doença tenha sido identificada (ex: depressão), o tratamento direcionado para essa condição se faz necessário. Além disso, a reposição nutricional deve ser realizada a fim de restaurar o peso alvo.
Como calcular a necessidade calórica e proteica?
Necessidade calórica em idosos:
- Mulheres: 354,1 – (6,91 x idade [anos]) + PAC x (9,36 x peso [kg] + 726 x altura [m]).
- Homens: 661,8 – (9,53 x idade [anos]) + PAC x (15,91 x peso [kg] + 539,6 x altura [m]).
O Coeficiente de Atividade Física (PAC) é determinado da seguinte forma:
- PAC sedentário = 1,0
- PAC de baixa atividade = 1,12
- PAC ativo = 1,27
- PAC muito ativo = 1,45
Necessidade proteica
- Na maioria dos casos utiliza-se 0,8 g/Kg de peso ao dia. A depender de outros fatores, quantidades maiores podem ser utilizadas (doenças ativas, neoplasias, úlceras de pressão).
- Avalie e corrija a ingestão inadequada de alimentos
- Elimine restrições alimentares sempre que possível.
- Certifique-se que o acesso a alimentos está garantido (apoio social), especialmente em pacientes com limitações funcionais.
- Propor a elaboração de um cardápio de acordo com os gostos individuais.
- Considerar complementar a dieta com suplementos proteicos (facilmente encontrados nos supermercados).
- Se necessário, forneça um suplemento multivitamínico e mineral diariamente até que a causa da ingestão inadequada seja determinada e resolvida.
Estimulantes do apetite para idosos
O uso de estimulantes do apetite pode ser considerado, mas com cautela. Poucos são os estudos sobre esses medicamentos na população idosa com perda de peso. Caso se opte pelo uso, reavaliar constantemente o benefício versus seus efeitos colaterais, que podem ser bastante expressivos. São eles:
- Megestrol na dose de 800 mg ao dia (demonstrou ganho de peso em pacientes com anorexia e caquexia por câncer ou HIV);
- Mirtazapina (pode ser utilizada para melhora da perda de peso frequentemente associada aos quadros de depressão);
- Dronabinol (pode melhorar o apetite em pacientes com distúrbios comportamentais relacionados à doença de Alzheimer);
- Miméticos da grelina (pode levar ao aumento de massa magra e habilidades funcionais).
Fonte: Portal PEBMED