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quinta-feira, novembro 21, 2024

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Gravidez tardia é fator de risco para a síndrome de Down

Probabilidade de bebê ter síndrome de Down salta de 1 em 700 recém-nascidos para 1 a cada 100 em mulheres acima de 40. Saiba como diagnosticar

síndrome de Down, alteração genética produzida pela presença de uma cópia extra do cromossomo 21 (Trissomia 21), atinge, segundo o Ministério da Saúde, 1 a cada 700 nascidos vivos no Brasil. Essa probabilidade, por sua vez, aumenta conforme o avanço da idade materna e acende o alerta para a gravidez tardia.

Comparativamente, aos 25 anos de uma mulher, o risco de dar à luz a um bebê com Síndrome de Down é de 1 para cada 1.300 nascimentos, enquanto aos 35 essa probabilidade é 1 de cada 350 bebês, chegando em 1 de cada 100 aos 40 anos de idade.

Os números associados com a idade materna se explicam pelo fato de a Síndrome de Down ser causada, principalmente, por erros na fase da meiose, durante o processo de divisão celular do embrião. Os riscos desses erros aumentam consideravelmente na medida em que avança a idade materna no momento da concepção.

Ou seja, quanto maior a idade da mulher, maior a possibilidade de ter um bebê com a trissomia 21. A alteração genética que causa essa condição acontece na maioria das vezes de forma espontânea durante a formação do óvulo ou do espermatozoide, ou ainda, durante o desenvolvimento embrionário.

Descoberta pode ocorrer por uma simples ultrassonografia

Descobrir hoje se um feto possui a trissomia do 21, relacionada à Síndrome de Down, é muito mais fácil e seguro do que há algum tempo, quando era preciso esperar o nascimento para ter certeza do diagnóstico.

Em 80% dos casos, a ultrassonografia pode apresentar suspeita de síndrome de Down, desde que o exame seja feito com apuro técnico. Contudo, apenas exame de ultrassonografia com suspeita pode não apresentar alteração genética ou até mesmo apresentar alterações genéticas de outro tipo.

“Quando se tem a suspeita de que o bebê em formação possa ter síndrome de Down, o obstetra deverá oferecer a continuação da investigação através da análise de material genético fetal, com exames como a amniocentese ou biópsia de vilosidades coriais para análise do cariótipo fetal ou de outras técnicas”, explica Eduardo Becker Júnior, presidente da Comissão Nacional Especializada em Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)

NIPT/NACE: exame de sangue analisa DNA do feto

Outra forma de rastreamento, segundo o médico, é um exame chamado NIPT, um exame de sangue que analisa o DNA do feto na circulação materna e não apresenta nenhum risco para mãe ou bebê, tem menores taxas de falso positivo, porém, é um exame mais caro.

“Para rastrear síndrome de Down, o NIPT é melhor do que a ultrassonografia. Só que a ultrassonografia é muito importante para avaliar a anatomia do bebê e outros possíveis riscos”, defende Becker.

A presença da Síndrome de Down pode ser rastreada pela triagem pré-natal não invasiva baseada em DNA, também conhecida como teste pré-natal não invasivo (NIPT/NACE), é um tipo de investigação baseada na análise do DNA fetal circulante presente no sangue materno. Este teste identifica com mais de 99% de precisão a presença da trissomia do 21.

“O NACE tem um importante papel de rastreamento da Síndrome de Down e sua “não invasão” tornou possível tornar essa análise muito difundida. Os riscos são de fato zero para o feto e para a mãe. Para sua realização é necessária uma simples amostra de sangue materno que pode ser realizada a partir da décima semana de gestação”, destaca  Diana Frazzato, biomédica geneticista da Igenomix Brasil.

Outros exames podem detectar a condição

O diagnóstico definitivo dessa condição pode ser feito a partir da realização de amniocentese, procedimento pelo qual se coleta uma amostra de líquido amniótico para que se possa, então, realizar a análise de cariótipo do feto. No entanto, por se tratar de uma coleta invasiva, há um risco, ainda que pequeno, para a gestação.

Assim, a utilização do NACE, exame de sangue que investiga possíveis alterações cromossômicas, pode evitar a realização desnecessária de uma amniocentese, que passa a ser indicada nos casos em que o resultado do NACE identifica a presença de alguma alteração.

Há também a análise cromossômica ou cariótipo, um teste capaz de avaliar o número e a estrutura dos cromossomos de uma pessoa, a fim de procurar qualquer anormalidade.  É um exame que requer pessoal especializado tanto para a realização quanto para a interpretação dos resultados.

O procedimento é feito após extrair sangue venoso periférico ou por biópsia de tecido ou aspiração de medula óssea. Em mulheres grávidas, consiste em colher uma amostra de líquido amniótico ou vilosidades coriônicas (para análise fetal).

Se um ou ambos os membros do casal tiverem uma translocação cromossômica, é aconselhável recorrer ao tratamento de fertilização in vitro (FIV) com diagnóstico genético pré-implantacional (PGD) para alcançar a gravidez desejada.

“É importante que esses casais, que identificam que possuem essa alteração, passem por um processo de reprodução assistida de fertilização in vitro para fazer essa análise de embriões”, pontua Diana.

Ela também recomenda falar com um conselheiro genético antes do teste e novamente depois de obter os resultados. O aconselhamento genético é importante para orientar a avaliar os riscos e benefícios dos testes, assim como entender o que os resultados significam.

Genética, mas raramente hereditária

As células do corpo humano contam com 46 cromossomos, distribuídos em 23 pares. Porém, durante a gravidez podem acontecer mutações que alteram a composição normal dos cromossomos, resultando na Síndrome de Down, outras síndromes cromossômicas ou um abortamento, a depender dos cromossomos afetados.

síndrome de Down é causada por um número a mais do cromossomo 21 conhecida como trissomia, ou seja, três cromossomos no lugar de dois.

Na maioria das vezes a cópia extra do cromossomo 21 tem origem no óvulo, e com menos frequência tem origem no espermatozoide. Em último lugar, está a possibilidade dessa alteração surgir após a fecundação, durante o desenvolvimento do embrião.

Essa alteração genética pode ocorrer por três motivos diferentes, identificados por meio da observação dos cromossomos, visto que as características físicas e comportamentais tendem a ser semelhantes. Os portadores, em 95% dos casos, nascem com Trissomia 21 em cada uma das células do corpo humano.

Essa é a forma mais comum, intitulada “trissomia simples”. Muito raramente, em cerca de 1-2% dos casos, ocorre o mosaicismo, no qual algumas células têm três cópias do cromossomo 21, enquanto outras têm as duas cópias usuais.

E existe então uma terceira situação, chamada de Translocação Robertsoniana, responsável por 4% a 6% dos casos. Uma parte ou cópia do cromossomo 21 se funde a outro cromossomo acrocêntrico diferente, em vez de ser anexado a um cromossomo 21 separado. Diana Frazzato esclarece:

“Uma mulher, por exemplo, mesmo possuindo uma translocação entre os cromossomos 14 e 21, “grudados”, ainda sim possui uma cópia de cada um desses cromossomos não translocada, ou seja, separadas. Sendo assim, pode formar óvulos que tenham o cromossomo 14 e 21 separados; nesse caso, se o óvulo for fecundado, teremos um embrião com a quantidade cromossômica normal. Essa mulher também pode formar óvulos com os cromossomos 14 e 21 grudados (translocados), os embriões formados a partir desses óvulos teriam a quantidade correta de material genético, não manifestando a Síndrome de Down, mas apresentariam a mesma translocação que a mãe,”, explica.

Portanto, acrescenta a especialista, apenas na situação de Translocação Robertsoniana podemos falar em transmissão hereditária. Em todos os casos de Síndrome de Down, mas especialmente nos casos de trissomia 21 por translocação, é importante que os pais tenham aconselhamento genético para determinar seu risco. Não há causas comportamentais e ambientais conhecidas da Síndrome de Down.

Por que é importante diagnosticar a Síndrome de Down

As pessoas com Síndrome de Down podem ser afetadas de diferentes formas e, quanto mais precoce for o diagnóstico, melhor será o acompanhamento, qualidade de vida e evolução clínica. As alterações mais comuns são:

– Anomalias congênitas que afetam o coração.
– Problemas nos olhos, como catarata.
– Problemas digestivos, como bloqueio gastrointestinal e problemas crônicos de intestino preso.
– Problemas auditivos
– Deslocamento do quadril
– Apneia do sono
– Desenvolvimento tardio da arcada dentária
– Hipotireoidismo
– Diferentes níveis de deficiência intelectual

O papel do obstetra após o diagnóstico

Quanto ao papel do obstetra após o rastreamento e diagnóstico positivo de síndrome de Down, o especialista afirma que a informação é uma ferramenta muito importante, pois permite que o profissional planeje melhor o atendimento ao bebê com uma condição especial, permite a escolha adequada para o local de nascimento do bebê e a preparação da equipe de obstetras e pediatras.

“Muitos dos bebês com síndrome de Down precisam de atenção especial, sobretudo de cardiologistas. A oportunidade do conhecimento prévio permite um planejamento adequado, tanto para a equipe médica quanto para os pais, seus amigos e familiares”, relata. “A surpresa diagnóstica pode atrapalhar até a adequada formação de vínculo dos pais com o bebê. Uma vez conhecida e aceita a condição, o bebê acaba se beneficiando de um atendimento especializado e adequado”, conclui.

A Febrasgo disponibiliza guidelines sobre o assunto que explicam a seus especialistas associados como fazer o rastreamento de forma adequada.

Números

Cerca de 300 mil brasileiros nascem, anualmente, com Síndrome de Downde acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). A Síndrome de Down, segundo o Ministério da Saúde, tem caráter compulsório na Declaração de Nascido Vivo, por ser uma alteração congênita.

O documento, neste caso, é padrão para o registro no Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos (Sinasc). De 2020 para 2021, o Sinasc notificou 1.978 casos de Síndrome de Down – neste período a prevalência geral no país foi de 4,16 por 10 mil nascidos vivos.

 

 

 

 

Texto originalmente publicado em Vida & Ação

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