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Força-tarefa de pesquisadores ajuda país a enfrentar coronavírus

O trabalho simultâneo é fundamental para encontrar estratégias de controle do surto, baseadas em dados do comportamento do vírus

coronavírus nem havia desembarcado no país, mas cientistas do Brasil já estavam de olho neste ser minúsculo, que parece ter virado o vilão número um do planeta na última semana.

Agora, após São Paulo confirmar o primeiro caso em nosso território, haverá um número ainda maior de microscópios e outros equipamentos focados no problema – 48 horas foram suficientes para equipes do Instituto Adolfo Lutz e da Universidade de São Paulo (USP), com a ajuda de ingleses, sequenciarem o genoma do vírus que infectou o brasileiro. E os ministérios da Ciência e da Saúde já montam uma rede de pesquisadores para decifrar a doença.

O trabalho simultâneo é fundamental para encontrar soluções mais rapidamente – estratégias de controle do surto, baseadas em dados do comportamento do vírus, testes de diagnóstico, tratamentos e até uma vacina. Assim, o Brasil já começa a ajudar na montagem do quebra-cabeças da epidemia – o que envolve gente do mundo todo.

Especialistas brasileiros e representantes dos dois ministérios compartilharão dados na Rede Vírus MCTIC, criada oficialmente na semana passada, que mira a doença vinda da China e a influenza (gripe comum) e outras viroses emergentes.

Os objetivos são integrar pesquisas e definir prioridades. Será feita uma teleconferência esta semana com cientistas de EUA, Canadá, Índia, Austrália e Reino Unido. Vão participar da rede a Academia Brasileira de Ciências, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Sociedade Brasileira de Virologia e universidades federais.

O sequenciamento em só dois dias do genoma do coronavírus exemplifica o potencial das parcerias. O trabalho de desvendar cepas (subtipos) desse vírus tem sido feito por vários países e levado, em média, 15 dias.

A rapidez brasileira – do Adolfo Lutz, da Faculdade de Medicina da USP e da Universidade de Oxford (Reino Unido) – foi possível porque já existe há um ano um projeto, o Cadde, criado para desenvolver novas técnicas – rápidas e baratas – para monitorar epidemias em tempo real. Foi um desdobramento da Rede Zika – criada em outro surto, que fez subir os casos de microcefalia no País em 2016.

Originalmente, o Cadde se concentrou em arboviroses, como dengue e zika. Da febre amarela, que voltou com força em 2018, já foram sequenciadas quase mil amostras. “Trabalhamos agora na análise desses dados. Mas não queríamos trazer dados só depois da epidemia. A ideia é poder entendê-la enquanto acontece para dar respostas. Com esse coronavírus, teremos a primeira chance de fazer isso”, diz Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da USP.

Em outro estudo recente, a Fiocruz, com as universidades de Milão (Itália) e da Flórida (EUA), investigou as dinâmicas e vestígios do início e dispersão do novo surto. Com ferramentas de bioinformática, a análise de 29 sequências genéticas reforça que a origem foi mesmo em Wuhan, na China, mas indica que o ponto de partida pode ser novembro – e não dezembro, como se imaginava.

Já o infectologista Esper Kallas, da Faculdade de Medicina da USP, lidera a comissão de crise do Hospital das Clínicas, que há um mês planeja como enfrentar o novo vírus. O esforço se divide em três frentes: criar protocolos de atendimento a pacientes, estudar a disseminação do vírus em ambiente hospitalar e contato com laboratórios estrangeiros para usar remédios já empregados para outros fins que possam ter novo uso.

Fora do país, já se testam medicamentos de aids e ebola para o novo coronavírus. “Talvez o remédio de tratamento esteja na farmácia. Mas não basta testar isso aleatoriamente. É preciso estudo criterioso”, diz Kallas. O projeto tem o apoio de universidades americanas, como as de Miami e da Califórnia.

Embora o vírus que causa a Covid-19 seja novo, coronavírus humanos são comuns no Brasil. De sete tipos mapeados, é o quinto a surgir aqui. As duas variações mais perigosas, que saltaram de animais para humanos, não chegaram: a da síndrome respiratória aguda grave (Sars), que matou mais de 800 pessoas em 2002 e 2003, e a da do Oriente Médio (Mers), com 858 óbitos desde 2014.

Especialista no tema, Paulo Eduardo Brandão, da Faculdade de Veterinária da USP, diz que o alto número de variedades não significa que o Brasil seja “propício” para a disseminação do vírus. “O que importa não é o clima, mas a presença ou não de hospedeiros suscetíveis.” Entre as hipóteses para a origem do novo vírus, estão morcegos e serpentes.

Entre os desafios, porém, está a restrição de verba que atinge a ciência brasileira atualmente. Jerson Lima, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (Faperj), lembra que o Brasil não tem laboratório nível 4 de biossegurança para pesquisa com vírus que requerem essa classificação.

Para o novo coronavírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pede estrutura nível 3 para experimentos com animais, o que é preciso para pesquisar vacinas. Há laboratórios desse nível, como na Fiocruz e na Universidade Federal do Rio (UFRJ). “A vantagem de trabalhar em rede é que diferentes laboratórios podem dividir as tarefas”, afirma Lima.

Sobre a Rede Vírus, o Ministério da Ciência disse que a demanda de verba ainda será avaliada segundo as prioridades.

 

 

Fonte: R7

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