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domingo, novembro 24, 2024

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Estudo inédito traça perfil de trabalhadores de saúde considerados “invisíveis”

Uma pesquisa inédita conduzida pelos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) buscou fazer uma apresentação da situação atual de mais de dois milhões de trabalhadores de saúde do nível técnico e auxiliar, que atuam em atividades de apoio na assistência, no cuidado e no enfrentamento à pandemia de Covid-19.

Os resultados do estudo apontaram que esses indivíduos, muitas vezes considerados “invisíveis” e periféricos dentro do serviço de saúde, enfrentam uma dura realidade de desigualdades, exploração e preconceito.

Perfil dos entrevistados 

Cerca de 72,5% são mulheres e 59% pretos ou pardos. A faixa etária entre 36 e 50 anos representa 50,3% dos profissionais, enquanto 32,9% possuem até 35 anos. Apesar de serem jovens em sua maioria, 23,9% relataram ter alguma comorbidade, como hipertensão arterial, obesidade, doenças pulmonares, depressão e diabetes.

Pouco mais da metade (52,6%) trabalha nas capitais e regiões metropolitanas. Em relação ao tipo de estabelecimento de atuação, os hospitais públicos foram mencionados por 29,3%, as unidades de atenção primária em saúde por 27,3% e os hospitais particulares por 10,7%.

Cerca de 85,5% possuem jornada de até 60 horas semanais e 25,6% precisam de um segundo emprego para sobreviver. Muitos deles desenvolvem atividades extras, como pedreiro, segurança ou porteiro de prédio, moto táxi, motorista de aplicativo, babá, diarista, manicure e vendedor ambulante.

Desgaste emocional, estresse e agressões 

Cerca de 80% desses trabalhadores vivem em situação de desgaste profissional relacionado ao estresse psicológico, à sensação de ansiedade e ao esgotamento mental. Além disso, a falta de apoio da empresa contratante foi citada por 70% dos voluntários do estudo, sendo que 35,5% admitiram sofrer violência ou discriminação durante a pandemia. Entre as agressões, 36,2% aconteceram no ambiente de trabalho, 32,4% na vizinhança e 31,5% no trajeto casa-trabalho-casa.

Os resultados apontam ainda que 53% destes profissionais se sentem desprotegidos contra a Covid-19 no ambiente de trabalho e 23,1% sentem medo de contaminação pela Covid-19.

A falta, escassez ou inadequação do uso de equipamentos individuais de proteção foram citados por 22,4% e a ausência de estruturas adequadas para realizar o trabalho por 12,7%. Ademais, 54,4% consideram que houve negligência em relação à capacitação para que eles pudessem lidar melhor com os protocolos exigidos durante a pandemia.

Outro ponto importante que foi destacado foi o excesso de trabalho, apontado por mais da metade dos entrevistados (50,9%). As exigências físicas e mentais foram consideradas muito elevadas por 47,9%, com menções sobre a pressão temporal, interrupções constantes, repetição de ações e movimentos, pressão pelo atingimento de metas e tempo reduzido para descanso.

Metodologia 

No total, foram entrevistados 21.480 trabalhadores de saúde pertencentes a 2.395 municípios distribuídos em todas as regiões brasileiras. Eles responderam perguntas sobre as suas condições de vida, a rotina de trabalho e a sua saúde mental através de um questionário online.

O estudo concluiu que muitos desses profissionais, como auxiliares de enfermagem, de saúde bucal, de radiologia, de laboratório e análises clínicas, agentes comunitários de saúde, maqueiros, condutores de ambulância, pessoal da manutenção, equipe da limpeza, da cozinha e administrativo sequer possuem cidadania de profissional de saúde, apesar de já atuarem há dois anos na linha de frente do combate à pandemia de Covid-19.

“Essa imensa parcela de trabalhadores da saúde está diretamente na linha de frente atendendo a mais de 8 milhões de contaminados pela Covid-19 e lidando com mais de 200 mil óbitos em todo o país. Além disso, estão expostos à infecção, sofrem com o óbito de colegas, sendo boa parte desprotegida de cuidados necessários, sem ter voz e meios de expressar a real situação no seu trabalho e vida pessoal, no que se refere à saúde física e mental”, explicou a coordenadora da pesquisa, Maria Helena Machado, em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias.

 

 

 

Fonte: PEBMED

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