Paciente deve ser colocado em posição lateral para prevenir possíveis engasgos; confira outras orientações de neurologistas
A epilepsia é uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro marcada por crises repetidas. As causas podem ser lesões no cérebro, infecções, abuso de bebidas alcoólicas e uso de drogas.
A doença traz uma bagagem de preconceitos e estigmas que envolvem questões sociais e psicológicas que vão além da medicina. No passado, as crises das pessoas com epilepsia provocavam medo e espanto e, por isso, elas eram levadas para cultos religiosos e até mesmo internadas com demência.
A epilepsia é um termo atribuído a um conjunto de doenças que levam a uma disfunção do cérebro e que se manifestam com crises epilépticas, que são eventos associados a um mal funcionamento do cérebro.
Existem crises em que a disfunção é localizada em uma área específica do cérebro, a crise focal. Quando isso se espalha para o cérebro como um todo, é chamada de crise generalizada, como a tônico crônica, conhecida popularmente como convulsão. Há também as crises refratárias, que são aquelas que não respondem ao tratamento com fármacos, chamados no passado de anticonvulsivantes.
“De 1 a 2% da população mundial apresenta crises epilépticas ao longo da sua vida. No Brasil, mais de 2 milhões de pessoas têm epilepsia. É um tema de saúde pública”, diz o especialista Carlos Alberto Mantovani Guerreiro, neurologista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com ênfase em Epilepsia e Neurofisiologia Clínica.
Como ajudar uma pessoa com crise de epilepsia
De acordo com os especialistas, um erro comum diante de uma crise é tentar ajudar puxando a língua do paciente ou colocando o dedo na boca. Além de não ajudar, a medida pode machucar a cavidade oral do paciente ou quem está tentando prestar auxílio.
O neurologista Carlos Alberto Mantovani Guerreiro explica que o mais importante é não deixar a pessoa de barriga para cima, mas sim na posição lateral. Com a rigidez do corpo durante a crise, a pessoa não consegue engolir a saliva e pode engasgar.
“A saliva deve ser eliminada para não ter risco de aspirar e virar um problema sério para o sistema respiratório”, comenta Guerreiro. “Primeira coisa numa assistência à uma crise é ter calma. E o mais importante é colocar suporte, travesseiro para não bater a cabeça. A maioria das crises é autolimitada e demora, no máximo, 1 minuto, é interrompida normalmente e a pessoa se recupera”, diz o especialista.
Em casos mais severos, pode acontecer o estado de mal epiléptico, onde as crises são bastante recorrentes e demoradas, e a pessoa corre o risco de morte. Por isso, os especialistas recomendam seguir um tratamento adequado de acordo com cada tipo de epilepsia.
O chefe do serviço de epilepsia do Departamento de Neurologia da Unicamp, Fernando Sandis, explica que cerca de 80% das pessoas com epilepsias focais, aquelas causadas por uma lesão identificada por exames de imagem podem ser curadas a partir de cirurgia.
“Precisamos aprender para saber qual paciente precisa ser mandado de maneira rápida para tratamento. Existe um referenciamento tardio para o diagnóstico. As crianças, por exemplo, tomam fármacos e ficam intoxicadas antes mesmo de se identificar qual o tipo correto de epilepsia e a melhor forma de tratamento”, avalia Kette Valente, presidente da Liga Brasileira de Epilepsia.
Diferentes tipos de epilepsia
O CNN Sinais Vitais também revelou os diferentes tipos de epilepsia e quais as causas e formas de tratamento, desde o uso correto de fármacos até o uso de cirurgia ou dietas. A equipe apresenta a rotina de pessoas com epilepsia que, embora convivam com as crises, podem levar uma vida normal.
A atriz e modelo Laura Neiva relata ter enfrentado dificuldades em aceitar o tratamento com medicamentos. “Logo que eu fui diagnosticada, eu descobri que tinha que tomar remédio para vida toda. Eu fiquei inconformada e parei de tomar remédio, em segredo. E eu tive uma convulsão dirigindo e bati o carro. Então, passei a aceitar o tratamento”, conta.
O programa apresenta ainda a mudança de rotina da atriz Julia Almeida, diagnosticada com a doença. Ela conta como lida com a condição, as crises e fala sobre a importância de se permitir e se escutar para continuar com um cotidiano mais leve.
– Este texto foi publicado originalmente em CNN