É esperado que os nove meses venham acompanhados de um turbilhão de sentimentos. Mas, às vezes, eles precisam de uma atenção redobrada.
Os 9 meses de espera para a chegada do bebê podem ser regados de inúmeras inseguranças para as futuras mães. O medo de não ter suporte suficiente da família, de algo acontecer com o pequeno e até mesmo o receio de não serem consideradas boas progenitoras são algumas das dúvidas que afligem essas mulheres durante o período da gestação. Entretanto, essas emoções podem começar a se tornar preocupantes ao penderem para a patologia em vez de serem sentimentos recorrentes às grandes mudanças que acontecem durante a gravidez.
O que é
Como explica Mariana Bonsaver, psicóloga da Maternidade Pro Matre Paulista, a ansiedade é um sentimento comum ao ser humano. Isso significa que, em situações novas, ela é até mesmo esperada, pois são inúmeras possibilidades pela frente e não se sabe se elas darão certo ou não.
Esse cenário não é diferente na gestação. Como Mariana pontua, muitas questões surgem com a descoberta da gravidez e o passar dos nove meses: “Como que vai ser a gestação? Como vai ser o parto? Como vai ser meu bebê? Será que eu vou dar conta?”. E está tudo bem sentir cada uma delas, pois elas ajudam a encarar os novos desafios da vida. Entretanto, a luzinha de alerta é acesa quando essas questões não conseguem ser manejadas pela grávida e começam a consumi-la psicologicamente e até mesmo fisicamente, incapacitando-a.
“Os sintomas [do transtorno de ansiedade] são medo muito intenso, angústia, preocupação excessiva, sentimento de culpa, pensamentos negativos ou catastróficos, de que sempre vai acontecer alguma coisa ruim. Além disso, temos alguns sentimentos físicos também como sudorese, palpitação, tremores e falta de ar”, detalha a psicóloga. Esses sinais do distúrbio ainda podem impedir a grávida de trabalhar e se relacionar normalmente com as pessoas.
As causas
Como retoma Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL), a gestação é um período de muitas transformações na vida da mulher, que podem acarretar no desenvolvimento do transtorno de ansiedade.
“Alterações hormonais, alterações nos relacionamentos com as pessoas, alterações corporais, alteração da vivência com o mundo exterior e alteração entre o relacionamento do casal” são algumas das mudanças citadas pelo psiquiatra que podem influenciar no aparecimento do distúrbio.
Além disso, ele também ressalta sobre a predisposição genética para o transtorno. Isso significa que algumas grávidas têm genes que as colocam em grupos mais suscetíveis ao desenvolvimento de distúrbios mentais – como aquelas que já têm problemas psíquicos na família – quando somados a situações de pressão externa.
É importante ressaltar que essa predisposição genética não significa um atestado certeiro de que haverá o avanço da preocupação rotineira para um transtorno de ansiedade em si. Significa apenas que há essa possibilidade e que deve ser uma questão levada em consideração no tratamento, como lembra Mariana.
O tratamento
O primeiro passo para lidar com o transtorno de ansiedade é uma conversa sincera com o obstetra que tem acompanhado os meses de gestação. Esse diálogo ajudará tanto a mulher quanto o especialista a entenderem se o grau de preocupação da gestante está dentro do esperado para a gravidez ou se ele está impossibilitando-a de viver.
Caso o obstetra a indique o tratamento psicoterápico, Antônio enfatiza a efetividade dele. “A psicoterapia é de grande importância nessas situações porque evitamos ao máximo o uso de medicamentos durante a gestação, por isso a abordagem psicoterapêutica tem um valor enorme. No caso, nós indicamos a psicoterapia cognitivo comportamental e a psicoterapia interpessoal”.
Além de contornar o uso da medicação em casos que apenas as sessões resolvem, Mariana esclarece outras funções da psicoterapia que a tornam um recurso importante para o tratamento do transtorno de ansiedade.
“A terapia vai ajudar a pessoa a perceber esses sintomas de ansiedade, quais são os gatilhos, o que está causando esse quadro, e vai ajudar a pessoa a lidar com ele”, pontua a psicóloga.
Ela ainda enfatiza que o acompanhamento na gestação auxilia para que, após o nascimento do bebê, a ansiedade não venha a ficar ainda mais difícil de lidar em decorrência de preocupações excessivas com o bem-estar do pequeno e o laço emocional consiga ser nutrido do jeito mais saudável possível.
Fonte: Bebe Abril