Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, nos EUA, podem ter descoberto a razão de tantos bebês terem nascido com microcefalia há alguns anos no Brasil em decorrência de infecções pelo Zika. O surto se deu entre setembro de 2015 e abril de 2016 e, das mais de 1,6 mil crianças nascidas com o defeito congênito nesse período no país, mais de 80% dos casos foram registrados só no nordeste brasileiro – e os cientistas acreditam ter encontrado o motivo disso.
Zika
Embora o surto tenha ocorrido não faz muito tempo, o vírus causador da Zika é um velho conhecido dos cientistas, tanto que foi descrito em 1947. No entanto, a infecção jamais havia sido relacionada com malformações de fetos de gestantes portadoras do agente. A primeira vez que essa associação ocorreu foi durante a epidemia de 2015-16, e os pesquisadores da universidade norte-americana descobriram que a cepa do vírus que entrou em circulação na época era especialmente prejudicial para cérebros em formação.
A equipe comparou dados coletados, assim como amostras do vírus, do surto que aconteceu por aqui com os de uma epidemia de Zika registrada na Polinésia em 2013. Além disso, o time infectou ratinhos de laboratório com as 2 variedades dos agentes – a da Polinésia e a outra coletada na Paraíba – e constataram que os animais infectados com a cepa brasileira apresentaram uma incidência muito maior de filhotes nascidos com microcefalia.
Virulência
Durante os experimentos, os pesquisadores observaram que as infecções por Zika causaram mais ou menos o mesmo número de mortes entre os ratinhos, independentemente da variedade. Entretanto, entre os filhotes sobreviventes, enquanto os infectados pelo vírus originário na Polinésia pareciam ter mais facilidade para combater a infecção e melhorar após 2 semanas, mais ou menos, além de praticamente não apresentarem sequelas, os afetados pela cepa paraibana tardavam muito mais para combater o vírus e acabavam sofrendo danos neurológicos significativos e apresentando cérebros bem menores que o esperado.
Os pesquisadores explicaram que, apesar de os testes indicarem que a variedade brasileira parece ser mais virulenta do que a polinésia, é importante considerar que também podem haver outros agravantes que não foram identificados. Um deles poderia ser a ação de outros vírus que circularam na mesma época do surto, como o da dengue, por exemplo, e que podem ter contribuído para tornar o agente mais poderoso ou, ainda, que o Zika tenha sofrido alguma mutação no período.
Já sobre o surto de microcefalia (por sorte) não ter se repetido no ano seguinte, os pesquisadores suspeitam que isso se deva ao fato de muitas pessoas terem se infectado durante a epidemia e se tornado imunes ao vírus, de as gestantes se tornarem mais cuidadosas e usarem repelentes e telas de proteção, e de o próprio vírus ser virulento demais – uma vez que, ao debilitar e matar o hospedeiro, o agente acaba limitando a sua transmissão.
Fontes: Washington University School of Medicine / Tamara Bhandari Science Daily