Testagem, diagnóstico e tratamento das infecções sexualmente transmissíveis é considerada uma estratégia fundamental para interromper a cadeia de transmissão
A incidência de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) aumenta com a prática de relações sem o uso de camisinha. Essas infecções, quando apresentam sinais e sintomas, aparecem principalmente nas regiões genital e anal, mas também podem se manifestar em outras partes do corpo, como palma da mão, olhos e língua.
Entre os sintomas, estão feridas, corrimentos e verrugas. Esses sinais geralmente são identificados nas ISTs mais conhecidas, como: herpes genital, sífilis, gonorreia, infecção pela clamídia, tricomoníase e infecção pelo HPV (papilomavírus humano).
A testagem, diagnóstico e tratamento das ISTs é considerada uma estratégia fundamental para interromper a cadeia de transmissão. Unidades de atenção básica, como postos de saúde, oferecem de forma gratuita testes rápidos para HIV, sífilis e as hepatites B e C.
No entanto, fatores como vergonha, desinformação e falta de acolhimento nos serviços de saúde são fatores que contribuem para afastar as pessoas do diagnóstico adequado.
Especialistas da área da infectologia alertam que a falta de comunicação às parcerias sexuais sobre o diagnóstico de ISTs favorece a disseminação das infecções.
“Atualmente, as chamadas ISTs, infecções sexualmente transmissíveis, são um grande problema de saúde pública, devido ao aumento da sua incidência. O problema principal é justamente você tratar a pessoa doente e também os seus parceiros. É um ponto fundamental que a pessoa que tem o diagnóstico de uma infecção sexualmente transmissível avise os seus parceiros para que eles tenham a oportunidade também de fazer o exame ou de receber o tratamento”, afirma Ivan França, médico infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Além de potencializar a transmissão de infecções, deixar de informar o diagnóstico de uma IST a um parceiro ou parceira também representa o risco de reinfecções, como explica o infectologista Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“O que acontece se você acaba não aconselhando isso para uma pessoa que tem o diagnóstico de IST: essa parceria perde a oportunidade de ser tratada e, muitas vezes, retransmite ou reinfecta a pessoa que acabou de tratar. Então, é importante ter esse aconselhamento sempre. Muitas vezes, os serviços de saúde acabam não fazendo isso ou a própria pessoa que tem a IST não comunica”, diz Furtado.
O médico infectologista Ricardo Kores destaca que a comunicação deve ser realizada independentemente do vínculo entre as pessoas envolvidas.
“Quando o paciente recebe o diagnóstico de uma IST, sempre orientamos a compartilhar esse resultado com as pessoas com que ele teve contato íntimo próximo. Independente de ser um relacionamento fixo ou estável, um casamento, transa esporádica, ‘contatinho’ ou transa extraconjugal. Isso devido à importância do tratamento de todas as pessoas que foram envolvidas e que possam estar também com essa IST”, afirma o médico.
Sexualidade é cercada de tabus
A sexualidade ainda é um tema que carrega preconceitos e estereótipos. Um levantamento recente, realizado pela MindMiners, aponta que além do estágio de vida em que os indivíduos estão, outras características influenciam o modo como a sexualidade é vivida, incluindo o gênero, o quanto a família é liberal ou conservadora, se houve acesso ou não a uma educação sexual efetiva.
Aspecto comum do desenvolvimento das pessoas, o assunto traz dúvidas e chega a ser visto como um tabu, o que contribui para prejuízos no acesso ao diagnóstico adequado de infecções sexualmente transmissíveis.
“Essa comunicação ainda é revestida de muito tabu, preconceito e estigma por que envolve pré-julgamentos de promiscuidade, doenças graves e infidelidades. Então é um contexto tanto biológico, da infecção em si, como social”, afirma Kores.
O infectologista Ivan França afirma que, para muitas pessoas, dizer que foi diagnosticado com uma IST pode ser motivo de vergonha.
“De novo, a causa é o estigma associado às ISTs, como se fosse algo completamente errado ou pecaminoso. Nesse contexto, se misturam uma série de conceitos com relação a essas ISTs, o diagnóstico, essa busca, as pessoas tem vergonha de testar, muitas vezes são julgadas dentro dos serviços pelos profissionais de saúde, o que é absolutamente ruim esse processo que acaba dificultando o acesso à testagem.
Prevenção
A testagem regular faz parte das estratégias de prevenção combinada, um conjunto de medidas que permitem evitar o contágio por ISTs de acordo com o perfil de cada indivíduo.
O uso da camisinha em todas as relações sexuais — orais, anais ou vaginais — é o método mais eficaz para evitar o contágio das ISTs. O preservativo externo é feito de látex e deve ser colocado no pênis ereto antes da penetração.
O preservativo interno, que é feito de látex ou borracha nitrílica, é usado internamente na vagina, podendo ser colocado algumas horas antes da relação sexual. Os dois tipos de preservativo são distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Além da camisinha, outras medidas complementares contribuem para uma prática sexual segura, de acordo com o Ministério da Saúde. São elas:
- Vacinação para hepatites A e B e contra o HPV;
- discussões com parcerias sexuais sobre testagem para HIV e outras ISTs;
- testagem regular para HIV e outras ISTs;
- realização de exame preventivo de câncer de colo do útero;
- conhecimento e acesso à anticoncepção e concepção;
Outras medidas preventivas específicas contra o HIV
As estratégias de prevenção ao HIV vão além do uso do preservativo. A prevenção combinada busca atender às necessidades e contextos individuais, de modo a evitar novas infecções pelo HIV, sífilis, hepatites virais e outras ISTs.
De acordo com o conceito, a estratégia de prevenção pode ser mais eficaz quando adotada com base nas características específicas do momento de vida de cada pessoa.
Para pessoas que podem ter sido expostas ao HIV, existe uma medida de prevenção de urgência, a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que consiste no uso de medicamentos profiláticos.
A medicação deve ser iniciada o mais rápido possível, de preferência nas primeiras duas horas após a exposição e, no máximo, em até 72 horas. A duração da PEP é de 28 dias e a pessoa deve ser acompanhada por uma equipe de saúde.
Os medicamentos são disponibilizados pelo SUS e devem ser utilizados após o risco de contágio em situações como violência sexual, relação sexual desprotegida, acidente com instrumentos cortantes ou contato direto com material biológico.
Outra forma de prevenção é a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), indicada para pessoas que não vivem com o HIV.
A PrEP consiste na utilização diária de uma combinação de dois medicamentos antirretrovirais (tenofovir + entricitabina), que apresentam composição similar aos utilizados no tratamento do vírus, que reduz em mais de 90% as chances de uma pessoa se infectar quando exposta ao HIV.
A retirada dos medicamentos da PrEP é condicionada às consultas regulares aos serviços de saúde. Por isso, a cada três meses, devem ser realizados exames de acompanhamento que verificam a reação aos medicamentos, além de testes para HIV, sífilis e hepatites B e C.
O medicamento começa a fazer efeito entre 7 e 20 dias de uso, dependendo do tipo de relação sexual. A PrEP é disponibilizada de forma gratuita pelo SUS. O medicamento pode ser comprado na rede privada, com o nome comercial de truvada, somente com prescrição médica.
– Texto publicado originalmente em CNN Brasil