Um estudo teve o objetivo de avaliar quais mudanças estariam sendo causadas nos filhos de mães submetidas a situações de estresse na gravidez.
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Sabe-se que estresse materno, ansiedade e depressão durante a gravidez têm sido associados a alto risco de desenvolvimento de problemas emocionais e comportamentais em sua prole em níveis diferentes desde a infância até a idade adulta.
Além da saúde emocional, a fome durante a gestação tem repercussão na saúde mental além do baixo peso ao nascimento. Entretanto, até agora, os estudos eram transversais sem conseguir trazer muito entendimento sobre como a saúde mental materna pode interferir na saúde mental de suas proles.
Um estudo longitudinal em tempos diferentes avaliando a estrutura cerebral da prole poderia estimar, através de exames estruturais de RNM, quais mudanças estariam sendo causadas nos filhos de mães submetidas a situações de estresse.
Métodos
Com esse desenho em estudo bastante interessante publicado no JAMA no fim de janeiro de 2023 mostrou os resultados de uma coorte iniciada em 1991-92 com gestantes tchecas submetidas à escala de Edinburgh para Depressão pós natal respondendo a questionários em períodos determinados: na 20ª semana de gestação, duas semanas após o parto, seis meses após o parto e 18 meses após o parto.
Em 2015 (24 anos após o início com as mães) seus filhos foram contatados para serem avaliados com exames de RNM estrutural. Num segundo momento, em 2020-22 foram novamente contatados para nova avaliação.
Nos dois momentos os jovens responderam a questionários (43 questões) para avaliar situações de estresse que eles passaram recentemente em suas vidas (como forma de avaliação do componente estresse materno e estresse recente sobre seus cérebros). Os resultados, muito interessantes, foram trazidos no trabalho publicado em janeiro de 2023.
Resultados
No primeiro bloco de RNMs os jovens tinham entre 23 e 24 anos de idade somando 131 participantes. Já no segundo momento, a presença foi de 260 jovens entre 28 e 30 anos realizando os exames (51% masculinos). A idade média foi de 29,5 anos (52% masculinos).
Todos os 260 participantes tinham ao final idade média cronológica entre 28-30 anos, mas sua idade estrutural cerebral variou de 18,5 a 43,3 anos (SD idade cerebral 30,5 [4,9] anos. A idade cerebral foi avaliada utilizando-se a medida da espessura do córtex cerebral nas RNM sendo as imagens submetidas a software NAPR (que utiliza um modelo que avaliou 2367 pessoas de 6 a 89 anos idade criando parâmetros para comparação).
De forma interessante alguns participantes do estudo experimentaram uma aceleração em sua idade cerebral em cinco anos, enquanto outros, uma desaceleração no envelhecimento do córtex.
Entre as mães desses jovens 33% obtiveram escore de 13 ou mais na escala de Edinburgh para Depressão Pós Natal indicando diagnóstico de depressão ante natal. Um modelo linear misto mostrou associação entre depressão materna durante a gravidez e o envelhecimento cerebral acelerado (87 participantes, F estatístico 6,07, P = 0,02) independente da época de avaliação da RNM.
Quanto maior a depressão materna mais associação com o envelhecimento cerebral em participantes com mais de 20 anos independente de sexo, estresse recente ou outros fatores como medicação na gestação (199 participantes, β = 0,14, P = 0,04).
Conclusão
O estudo conclui, nesta coorte de mais de 30 anos de evolução, que situações de depressão durante a gravidez podem trazer repercussões por toda a vida dos filhos. O envelhecimento acelerado do córtex cerebral dos jovens foi constatado em RNM estruturais, independentemente do sexo da prole, estresse recente ou qualquer interação com situações de estresse recentes vividos pelos jovens.
Mensagem prática
É importante então um suporte emocional e avaliação da saúde mental materna durante o pré-natal, podendo repercutir no futuro emocional de sua prole.
Texto publicado originalmente no site de notícias e artigos PEBMED
