Desde o início da pandemia de covid-19, cerca de 5 milhões de pessoas em todo o mundo já morreram. Pacientes com doenças pulmonares pré-existentes são reconhecidamente de risco para pior evolução da covid, entre eles, a fibrose pulmonar idiopática (FPI), em que exacerbações da doença podem ter consequências graves no seu seguimento.
Impacto das comorbidades
Assim como pacientes com várias outras condições médicas pré-existentes, aqueles com comorbidades pulmonares subjacentes, incluindo doença pulmonar obstrutiva crônica, asma e doenças pulmonares intersticiais (DPIs), demonstraram ter um risco aumentado de doença grave e mortalidade por covid-19. Estudos anteriores revelaram que pacientes com covid e DPIs pré-existentes, especialmente DPIs fibróticas, correm um risco muito alto de morte. Alguns autores avaliaram a relação entre DPIs pré-existentes e mortalidade em pacientes com covid-19 e mostraram que a diminuição da função pulmonar e um diagnóstico de FPI (em vez de outras DPIs) foram fatores de risco de morte independente entre os pacientes com DPI.
Supõe-se que uma das razões para um prognóstico ruim da covid-19 em pacientes com DPI seja a exacerbação aguda (EA) da doença pulmonar intersticial (EA-DPI). A definição de EA-IPF proposta internacionalmente é amplamente aceita atualmente. Dessa forma, as exacerbações podem ser subcategorizados em “EA desencadeadas” que é seguida por um fator predisponente conhecido, como infecção e procedimentos invasivos, e “EA idiopática” sem desencadeador identificado. As infecções virais são conhecidos fatores desencadeantes de exacerbações das doenças pulmonares. Embora os mecanismos exatos do desenvolvimento de EA permaneçam desconhecidos, acredita-se que um insulto inflamatório sistêmico com níveis elevados de citocinas seja uma parte central de sua patogênese.
Da mesma forma, a infecção por SARS-CoV-2 também induz uma resposta imune excessiva do hospedeiro, a chamada “tempestade de citocinas” em casos graves. Portanto, embora ainda não comprovado estatisticamente, suspeita-se que a covid-19 possa ser um dos gatilhos comuns de EA em pacientes com DPI durante a pandemia. A covid grave exibe insuficiência respiratória súbita com opacidades pulmonares bilaterais recém-desenvolvidas na TC de tórax, que também são comuns em EA-DPIs, e na prática, sua distinção pode ser difícil.
À medida que a pandemia se prolonga, tem sido relatado um número crescente de casos com DPI crônicas que desenvolveram insuficiência respiratória grave por complicações do SARS-Cov-2. A maioria dos casos relatados desenvolve insuficiência respiratória com vidro fosco na tomografia de tórax simultaneamente ao diagnóstico de covid-19, portanto tratados com combinação de terapia antiviral e imunomoduladora contra o vírus.
Nesses casos, é difícil diferenciar entre “covid-19 grave sobreposto a ILDs pré-existentes” e “EA de DPIs crônicos desencadeados por infecção por SARS-CoV-2”. É bem provável que a vacinação reduza a possibilidade de exacerbação das doenças intersticiais. Além disso, o reconhecimento da exacerbação é necessário para o manejo correto, no geral, com corticosteroides.
Mensagens práticas:
Paciente com FPI e com maior comprometimento da função pulmonar estão em risco de pior evolução na covid-19.
As exacerbações agudas das doenças intersticiais podem ocorrer sobretudo após infecções, virais ou bacterianas, ou procedimentos invasivos como a intubação orotraqueal e biópsias pulmonares.
Fonte: PEBMED