O medicamento deve ser prescrito por um médico e não deve ser usado acima do recomendado
O que é a Bupropiona
Bupropiona é um medicamento que inicialmente era usado como antidepressivo, mas que se mostrou eficaz para tratamentos para parar de fumar, por amenizar os sintomas da abstinência do tabaco.
Bupropiona para parar de fumar: como funciona
Normalmente a Bupropiona é dada a pacientes que possuem dependência elevada ao cigarro e que não conseguem parar de fumar devido aos sintomas da abstinência ao fumo.
Isso foi percebido em ensaios clínicos, quando os pacientes fumantes começaram a queixar-se de não sentir mais tanta vontade de fumar. Ela vem sendo utilizada para essa finalidade há 20 anos.
É comum que o médico indique o medicamento para quem fuma 20 ou mais cigarros por dia ou tenha pontuado acima de cinco em teste específico, chamado de Teste de Fagerström, que mede o nível de dependência à nicotina.
A nicotina estimula a liberação da dopamina nas zonas de bem-estar do cérebro. Quando acaba o efeito da nicotina, há redução da dopamina e isto faz com que a pessoa queira fumar novamente, resultando em uma dependência. A Bupropiona atua competindo com a nicotina pelos receptores de dopamina, fazendo com que fumar mais um cigarro para ter liberação de bem-estar seja cada vez menos necessário.
Como medir a dependência à nicotina
O Teste de Fagerström é indicado para medir o grau de dependência à nicotina. Essa dependência dificulta o processo de parar de fumar, pois a substância é viciante.
O teste consiste em responder seis perguntas e somar os pontos relativos às respostas:
1. Em quanto tempo depois de acordar você fuma o primeiro cigarro?
- Dentro de 5 minutos (3 pontos)
- 6-30 minutos (2 pontos)
- 31-60 minutos (1 ponto)
- Depois de 60 minutos (0 ponto)
2. Você acha difícil ficar sem fumar em lugares onde é proibido (por exemplo, na igreja, no cinema, em bibliotecas, e outros)?
- Sim (1 ponto)
- Não (0 ponto)
3. Qual o cigarro do dia que traz mais satisfação?
- O primeiro da manhã (1 ponto)
- Outros (0 ponto)
4. Quantos cigarros você fuma por dia?
- Menos de 10 (0 ponto)
- De 11 a 20 (1 ponto)
- De 21 a 30 (2 pontos)
- Mais de 31 (3 pontos)
5. Você fuma mais frequentemente pela manhã?
- Sim (1 ponto)
- Não (0 ponto)
6. Você fuma mesmo doente, quando precisa ficar na cama a maior parte do tempo?
- Sim (1 ponto)
- Não (0 ponto)
Resultado: nível de dependência (conforme soma dos pontos)
- 0-2 pontos: muito baixa
- 3-4 pontos: baixa
- 5 pontos: média
- 6-7 pontos: elevada
- 8-10 pontos: muito elevada
Quando tomar Bupropiona
Antes de iniciar o tratamento, o paciente tem que estar decidido a parar de fumar. A partir da decisão, é indicado consultar um médico para iniciar o uso da Bupropiona e, então, poderá estar preparado para diminuir o uso do tabaco entre a primeira e a terceira semana.
Não há efeitos colaterais em consumir o remédio ao mesmo tempo em que se está fumando, mas é importante lembrar que o objetivo do tratamento é parar de fumar. Portanto, não há sentido em tomar o medicamento e prosseguir com o tabagismo por muito tempo.
Preço da Bupropiona e dosagem
Normalmente indica-se seu uso por três meses, mas tudo depende da história e da vivência de cada paciente. O medicamento não cria dependência e não há necessidade da retirada gradual.
Ela é vendida sob prescrição médica em comprimidos de 150 mg e 300 mg pode ser receitada até duas vezes por dia. Uma caixa com 30 cápsulas de Bupropiona 150 mg custa em média de R$ 150 a R$ 200, comercializada com os nomes comerciais Wellbutrin e Zyban.
A quantidade a ser usada também varia de acordo com diversos fatores, como peso corporal, condições cardiovasculares, sensibilidade ao medicamento. O fármaco atinge seu pico em três horas e tem meia-vida de 21 horas.
É importante sempre seguir à risca as orientações de um médico e nunca se automedicar. Somente um profissional pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento.
Vantagens e desvantagens
A principal vantagem do tratamento com Bupropiona é a redução da síndrome de abstinência, um dos principais fatores que levam à desistência do tratamento para parar de fumar. Por isso, aumenta-se a chance de sucesso do tratamento para cessação do tabagismo.
Porém, o medicamento é realmente eficiente em pessoas com dependência química (nicotina) e não dependência psicológica. Além disso, é preciso que seja avaliado se o paciente tem algum transtorno psiquiátrico, pois o uso do medicamento pode desestabilizar o estado mental de quem é vulnerável.
Ainda, a Bupropriona pode interagir com diversos outros medicamentos, principalmente os vasoconstritores e os broncodilatadores. De forma geral, portadores de cardiopatias e portadores de hipertensão devem tomar cuidado e relatar a seus médicos suas condições.
Resultados esperados
Muitos estudos mostram que parar de fumar com qualquer tratamento médico, seja medicamentoso ou de substituição de nicotina (como adesivo de nicotina ou chiclete de nicotina), aumenta de 20 a 30% as chances de parar de fumar.
Já pesquisas feitas apenas com a Bupropiona mostram que seu uso pode duplicar ou mesmo triplicar o índice de capacidade de parar de fumar, quando comparado com o uso de placebo. Um deles foi publicado no New England Journal of Medicine e foi feito com 600 fumantes, um grupo usando placebo e o outro usando o medicamento.
Efeitos colaterais
O medicamento pode causar insônia, boca seca, cefaleia e, em casos mais graves, convulsões, taquicardia, hipertensão, urticária e manchas na pele (rash cutâneo). Por isso mesmo ele deve ser ingerido sempre com acompanhamento médico.
Contraindicações da Bupropiona
Bupropiona não é indicada para pessoas que apresentam hipertensão, problemas cardíacos, convulsões, epilepsia, anorexia nervosa, bulimia, etilismo, problemas graves do sistema nervoso central, gestantes e lactantes, pessoas que usem de inibidores da MAO (monoaminooxidase) e outros medicamentos psicoativos e diabéticos que usem hipoglicemiantes e insulina.
Riscos
Por ser um medicamento para uso psiquiátrico, é muito importante que o médico avalie se o paciente tem algum transtorno desse tipo, pois é possível que a medicação possa desestabilizar o estado mental de quem é vulnerável.
Além disso, tomar a medicação em doses muito altas pode resultar em convulsões. Portanto, sempre siga à risca a dosagem recomendada pelo médico.
Tratamentos aliados
Terapia de reposição de nicotina: Em geral, é importante aliar o tratamento de Bupropiona com tratamentos de reposição de nicotina (como a pastilha de nicotina e o spray nasal de nicotina), para potencializar os resultados. Mas tudo isso depende da avaliação individual de cada pessoa, que só pode ser feita por um médico.
Vareniclina: Apesar de muitos estudos compararem os efeitos da Vareniclina com a Bupropiona, dizendo que o primeiro medicamento é mais eficaz para parar de fumar, algumas análises têm mostrado a eficiência em aliar os dois medicamentos no tratamento.
Um estudo publicado no American Journal of Psychiatry em junho de 2014 dividiu 222 fumantes em dois grupos, um tomando apenas a vareniclina com um placebo e o outro tomando esse remédio associado com a bupropiona.
Enquanto o primeiro grupo teve uma taxa de sucesso de ,% na cessação fumo, o grupo que associou os tratamentos teve um índice de 39,8%.
Quem pode receitar
O ideal é que o fumante que deseja iniciar o tratamento com Bupropiona procure um médico especializado em cessação de cigarro, como um pneumologista, cardiologista ou psiquiatra.
Referências:
Psiquiatra Pérsio Ribeiro Gomes de Deus (CRM-SP 31.656), diretor técnico de saúde do Hospital Psiquiátrico da Água Funda e médico credenciado pelo Hospital Albert Einstein
Pneumologista Luiz Carlos Côrrea da Silva (CRM-RS 4414), membro da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e do conselho consultivo da Aliança de Controle do Tabagismo (ACTBr)
Psicóloga Sabrina Presman, especialista em tabagismo da Associação brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas (ABEAD)
Livro “Tabagismo: Doença que tem tratamento” (Editora ArtMed), organizado pelo pneumologista Luiz Carlos Côrrea da Silva
Fonte: Minha Vida