Anorexia nervosa, mais prevalente em mulheres, atinge 1% da população; bulimia, também mais incidente no sexo feminino, 2,5%, e a compulsão alimentar, 3,5% dos brasileiros
Em uma época em que o número de visualizações e curtidas norteia a popularidade das pessoas, a obsessão pela imagem perfeita pode atrapalhar no tratamento de doenças que já não são mais consideradas raras, como a bulimia, a anorexia nervosa e a compulsão alimentar.
Segundo definição da médica Claudia Cozer Kalil, coordenadora do Departamento de Transtorno Alimentar da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), “transtornos alimentares são patologias classificadas como doenças psiquiátricas onde a pessoa tem uma relação muito ruim e sofrida com a comida”.
O coordenador do Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Táki Cordás, explica que os três principais transtornos são a bulimia, a anorexia nervosa e a compulsão alimentar.
De acordo com ele, todos os transtornos somados superam a incidência de patologias como a depressão, por exemplo.
Hoje, a anorexia nervosa, mais prevalente em mulheres, atinge 1% da população, a bulimia, também com maior incidência no sexo feminino, 2,5%. Já a compulsão alimentar afeta igualmente homens e mulheres em uma taxa de 3,5% dos brasileiros.
“Fazer uma restrição alimentar muito rigorosa desencadeia qualquer um desses. Ser magro é sinônimo de ter sucesso, de ser bonito, então nós temos uma sociedade que massacra em busca de um modelo ideal de beleza, quando o ideal não existe”, diz Cordás.
A jornalista e escritora Daiana Garbin conta que os padrões de beleza estabelecidos pela sociedade foram os desencadeadores de seus transtornos alimentares.
“Uma revista da minha época de adolescente dizia que a calça jeans ideal era tamanho 34, 36, ou, no máximo, 38. A primeira calça jeans que me serviu quando eu tinha 12 anos era 42, então, eu percebi ali, na minha cabeça de adolescente da época, que meu corpo era muito errado e que eu precisava emagrecer de qualquer jeito, pra que os meninos gostassem de mim, pra que eu fosse aceita pelas coleguinhas da escola”, lembra.
Daiana superou a doença e hoje tem um site e um canal no YouTube, que ajudam pessoas que enfrentam os mesmos problemas.
Para Sophie Deram, nutricionista e coordenadora do Projeto de Genética do Ambulim, a rede social trouxe uma amplificação desse mal-estar com a alimentação, mas também com a insatisfação corporal.
“As redes sociais funcionam com imagens, então aumenta muito a insatisfação corporal das pessoas, não somente mulheres, e a gente vê que isso pode ser um gatilho para procurar uma dieta e para modelar o corpo como está sendo vendido”, diz a nutricionista.
- Texto originalmente publicado em CNN Brasil