As malformações são a principal causa de morte até o primeiro ano de vida, um índice que segue alto no Brasil mesmo com a redução das taxas de mortalidade infantil
Uma das metas do Brasil para 2015, dentro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU (Organização das Nações Unidas), era a redução da mortalidade infantil. Por mais que ela tenha sido atingida, ainda podemos considerar os índices brasileiros elevados em comparação a outros países. Além disso, as mortes que ocorrem antes do bebê completar sete dias de vida não tiveram grande redução: 52% dos óbitos no primeiro ano ocorre na primeira semana.
Dentro desse quadro, as malformações congênitas estão entre as principais causas, sendo as cardiopatias congênitas cerca de 40% delas1.
Entre 1996 e 2019, uma média de 2.700 crianças morreu por ano por malformações cardíacas congênitas2, como Tetralogia de Fallot, Anomalia de Ebstein, entre outras, de acordo com as Estatísticas Vitais do DataSUS. Algo que chama bastante atenção é que durante o período esse índice não diminuiu, como ocorre com outros tipos de doenças.
Como resolver esse problema?
Esse tipo de morte pode ser evitado com um diagnóstico precoce dessas malformações, antes mesmo do nascimento – inclusive essas patologias estão categorizadas como causas evitáveis de morte no DataSUS. Quando pensamos na Tetralogia de Fallot, por exemplo, que corresponde a entre 7 e 10% das anomalias cardíacas congênitas, estima-se que apenas entre 30 e 60% dos casos são diagnosticados antes do parto.
Com o diagnóstico precoce e preciso, é possível então já planejar o que fazer para trata-lo logo após o nascimento, orientando os pais e obstetra para a realização do parto em local especializado em cardiologia pediátrica, aumentando as chances de sobrevida do recém-nascido. Para tanto, o exame de ecocardiografia fetal durante o pré-natal é imprescindível.
O exame se baseia na visualização das quatro câmaras do coração, mas deve ir além e também avaliar a saída dos grandes vasos e o arco aórtico, para diagnosticar patologias que não acometem essa região (como a Tetralogia de Fallot). A Sociedade Internacional de Ultrassonografia em Obstetrícia e Ginecologia (ISUOG) orienta que essa avaliação seja feita nos fetos de baixo risco durante o pré-natal, entre a 18ª e a 20ª semanas1.
Não adianta só se especializar na teoria, sem adquirir prática
O problema é que o profissional capaz de diagnosticar essas patologias precisa ser altamente qualificado. “Muitos bebês ainda morrem por falta de diagnósticos precisos. A transposição de grandes vasos, por exemplo, pode ser corrigida com bons resultados, mas mesmo médicos muito experientes têm dificuldades de detectar esta patologia”, explica a cardiologista e ecocardiografista Dra. Marina M. Zamith, coordenadora do curso de Pós-Graduação em Ecocardiografia Fetal do Cetrus.
De acordo com a diretriz da ISUOG detectar durante o pré-natal a doença cardíaca congênita, usando o ultrassom cardíaco, pode melhorar os desfechos de fetos com tipos específicos de lesões cardíacas.
Mas eles apontam como as taxas de diagnóstico nesse período variam, o que pode ser atribuído, entre outros fatores, à experiência do examinador: a suspeita de anomalias cardíacas requer avaliação minuciosa através do ecocardiograma fetal.
Uma das melhores formas de adquirir experiência é estudando o tema na prática, atendendo casos reais, normais e patológicos, no ambiente seguro da sala de aula. E esse é um dos grandes diferenciais da Pós-Graduação em Ecocardiografia Fetal do Cetrus: os alunos passam uma grande parcela das aulas atendendo pacientes encaminhados e triados, que lhe permitam a prática do diagnóstico de casos reais, seguidos de discussão sobre com orientar a paciente e as opções de tratamento pós-natal.
Esse atendimento é sempre feito com o acompanhamento dos professores e de monitores experientes no tema, assegurando o aprendizado teórico e prático de experiência em um ambiente controlado.
Inicialmente, os alunos realizam o exame de ecocardiografia fetal sob a supervisão e posteriormente todos os casos alterados são demonstrados e discutidos com todo o grupo, permitindo a avaliação de uma ampla gama de patologias, desse as mais simples as cardiopatias mais raras e complexas.
Fonte: Educa CETRUS
Referências
- Síntese de evidências para políticas de saúde Diagnóstico precoce de cardiopatias congênitas. Ministério da Saúde. Brasília: 2017
- Brasil, Ministério da Saúde. Banco de dados do Sistema Único de Saúde-DATASUS. Disponível em http://www.datasus.gov.br