A incidência de doenças respiratórias em crianças e adolescentes é alta em todos os anos, mas a prevalência da tuberculose nesta população é algo que desafia a saúde no Brasil. Da estimativa de 70 mil casos anuais de infecção por Mycobacterium tuberculosis (bactéria que causa a doença) registrados pelo Ministério da Saúde, cerca de 3% ocorrem na população infantil.
Além das mais de duas mil crianças que recebem o resultado positivo, existem muitas outras que não têm acesso ao diagnóstico pela dificuldade de identificação da doença neste público.
A consultora técnica do Programa Nacional de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde, Fernanda Dockhorn Costa, reforçou a preocupação com a importância de diagnosticar e tratar esses pacientes durante a sua participação no evento Conexão Proadi.
O encontro teve por objetivo explicar a importância e os objetivos do Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Agentes Respiratórios em Crianças e Adolescentes (TB PED PROADI-SUS) liderado pelo Hospital Moinhos de Vento em parceria com o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS).
“Sabemos a relevância da tuberculose. O levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstrou que mais de 10 milhões de pessoas foram acometidas pela doença em 2021. E o Brasil continua figurando entre os 30 países de maior incidência”, ressaltou a gerente médica do Hospital Moinhos de Vento, Juçara Gasparetto Maccari.
A médica se diz orgulhosa por ver o hospital liderar um projeto com essa importância para a saúde pública do país.
A líder operacional do projeto TB PED, Marcia Polese Bonatto, explicou que as crianças têm poucas bactérias e isso dificulta o diagnóstico da tuberculose.
“O TB PED propõe, por meio da coleta de escarro induzido, qualificar a amostra pediátrica com possível aumento de sensibilidade nos testes laboratoriais, desta forma, auxiliando no aumento do diagnóstico da tuberculose”, destacou.
O estudo conta com a participação de 22 centros recrutadores, distribuídos entre as regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste do Brasil. São convidados da pesquisa menores de 15 anos. Até o momento, mais de 120 participantes foram recrutados.
Treinamento de profissionais
A especialista acrescentou que, além das grandes entregas em formato de pesquisa, com o recrutamento de participantes nos estudos, o Projeto TB PED elaborou materiais educativos com o intuito de qualificar profissionais de saúde e com impacto direto no SUS.
O curso EAD “Diagnóstico, tratamento e vigilância da infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB)” está disponível na plataforma eDX do Hospital Moinhos de Vento.
No canal do YouTube do hospital, também é possível conferir vídeos com as técnicas necessárias ao diagnóstico. Todo material é gratuito e quem participa recebe certificado após a conclusão.
Desafios da doença
Em torno de 25% da população mundial pode estar infectada por Mycobacterium tuberculosis com a chamada infecção latente — que significa que a doença não está ativa — e, ao longo dos anos, esses indivíduos poderão desenvolver o quadro de tuberculose ativa. Segundo a OMS, 15% dos casos devem acontecer ainda na infância.
A tuberculose afeta desproporcionalmente alguns grupos sociais, estando muito relacionada à pobreza e aos pacientes imunodeprimidos, pontuo a técnica do Programa Nacional de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde, Fernanda Dockhorn Costa.
“Mas as crianças são um grupo específico e vulnerável, que é desfavorecido no contexto do diagnóstico e do tratamento. Por ser uma doença tão silenciosa e de difícil acesso, acaba sendo negligenciada”, afirmou.
Um dos principais pontos de atenção destacados pelo professor do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Clemax Couto Sant’Anna é a diminuição progressiva da vacinação da BCG entre os nascidos vivos no país.
“A vacinação é algo muito importante, porque ela previne o avanço da doença para os casos mais graves. No entanto, ao longo dos anos, a adesão tem sido menor. Chegamos ao patamar de apenas 56% vacinados”, alertou.
Em relação ao diagnóstico, de acordo com o especialista, hoje ele é feito pela avaliação clínica, de forma geral. Mas o médico projetou que o estudo trará uma contribuição mundial importante para o combate à doença, e não apenas para o Brasil.
fonte: MEDICINA S/A