Observatório com físicos da USP, Unicamp, Unesp, UnB, UFABC, Berkley (EUA) e Oldenburg (Alemanha) mostra que número de infectados, considerando dados desta quinta-feira (19), vem dobrando a cada 54 horas. Total deve passar de 3 mil já na terça-feira (24).
O ritmo da disseminação do novo coronavírus (Sars-CoV-2) no Brasil é, hoje, igual ao da Itália semanas atrás – e ele está acelerando.
Segundo um estudo conduzido pelo Observatório Covid-19 BR, que analisa os números da pandemia no país e do qual fazem parte por sete universidades, o número de casos deve passar de 3 mil já na terça-feira (24). A tendência é que ele dobre a cada 54 horas e 43 minutos.
Participam da pesquisa físicos da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade de Berkley (nos Estados Unidos) e Universidade de Oldenburg (na Alemanha).
“Nossos cálculos corroboram a ideia que o início da curva epidêmica brasileira é igual às da Itália e da Espanha — quando estes países estavam no início [da epidemia]”, afirmou ao G1 o professor Roberto Kraenkel, do Instituto de Física Teórica da Unesp.
O balanço divulgado quinta-feira (19) do Ministério da Saúde apontou 621 casos da Covid-19 no Brasil – sete pessoas já morreram.
No mundo todo, a Itália é o país com maior número de vítimas –nesta sexta-feira (20), o país europeu ultrapassou a marca de 4 mil mortos – o total de casos registrados ultrapassa 47 mil.
Um levantamento da universidade norte-americana Johns Hopkins divulgado nesta sexta mostrou que há ao menos 10.031 mortos por complicações da Covid-19 no mundo. Há mais de 245 mil infectados.
O gráfico acima mostra as projeções da Unesp para os próximos dias – a projeção tem um intervalo de mínimas e máximas. Veja as estimativas:
- sábado (21) – 1.091 casos;
- domingo (22) – 1.478 casos;
- segunda-feira (23) – 2.003 casos;
- terça (24) – 2.714 casos; a previsão máxima é de até 3,4 mil casos na terça
Projeção de casos
Um dos cálculos feitos na pesquisa do Observatório Covid-19 BR trata do tempo de duplicação de infectados.
“Uma forma de acompanhar a epidemia é seguir o tempo de duplicação dia a dia. Se as ações de contenção surtirem efeito, vamos observar o tempo de duplicação aumentar. Esta é uma forma de saber se estamos conseguindo ‘domar’ o coronavírus”, detalhou Kraenkel.
De acordo com dados do Ministério da Saúde desta quinta, esse tempo está em 2,28 dias — mas ele caindo. Isso quer dizer que, no Brasil, a cada 54 horas e 43 minutos, o número de contaminados dobra.
Quanto mais baixo for esse intervalo, mais rápida corre a pandemia no país. “Se tenho, digamos, dez casos, quanto tempo leva para ter 20, depois 40 e 80?”, explicou o professor da Unesp, ao falar sobre como é feito o cálculo.
O primeiro caso de coronavírus no Brasil foi confirmado em 26 de fevereiro.
Tempo de duplicação do Covid-19 no Brasil — Foto: Eduardo Pierre/G1
Um fator que interfere nesse cálculo é o número de testes feitos. Na Itália, por exemplo, até o dia 9 de março, havia sido testados 60 mil pacientes — isso dá uma média de mil kits para cada milhão de habitantes. Na Coreia do Sul, o número de testes foi quatro vezes maior.
Ao G1, o Ministério da Saúde informou que, na rede pública, foram feitos 13 mil testes até a última atualização desta reportagem — ou 62 para cada milhão de brasileiros. Não há estatísticas para a rede particular.
Outros países
O gráfico abaixo mostra a evolução do tempo de duplicação de casos do novo coronavírus em outros países. Quanto mais baixa a linha, mais rápido o coronavírus está agindo.
Tempo de duplicação em outros países — Foto: Eduardo Pierre/G1
“Bem no início da epidemia na Itália, o tempo estava perto de 1,8 dia. Hoje, está ao redor de quatro dias”, disse Kraenkel.
No comparativo acima, o Brasil aparece somente no dia 14 de março, quando havia no país 121 casos, número a partir do qual é possível fazer os cálculos.
De olho no crescimento
O tempo de duplicação se reflete na “curva” de casos, que as autoridades tanto querem “achatar”, evitando assim sobrecarga nos sistemas de saúde.
Gráfico elaborado pelo cientista Drew Harris e adaptado pelo biólogo Carl Bergstrom mostra como medidas de prevenção podem retardar o contágio da Covid-19 e evitar o colapso do sistema de saúde — Foto: Carl Bergstrom e Esther Kim/CC BY 2.0
O gráfico acima mostra duas possibilidades de avanço de uma doença — uma tem um crescimento abrupto, acima da capacidade de absorção do sistema de saúde, e outra mais suave, distribuída ao longo de um número maior de dias.
Autoridades de Saúde de todo o Brasil intensificaram nas últimas semanas os pedidos para que a população fique em casa. O isolamento social é defendido como o meio mais eficaz para achatar a curva da epidemia do coronavírus.
Previsões para Rio e SP
O Fantástico do domingo (15) mostrou um estudo preliminar da UnB que prevê, apenas na Grande São Paulo, 1,3 mil casos nos próximos 30 dias – e 30 mil em 60 dias.
Já a Secretaria Estadual de Saúde do RJ traçou duas possibilidades de curva ao longo do período de um mês para o estado: 4 mil casos, se as medidas de isolamento forem eficazes – ou 24 mil, se a população não evitar aglomerações.
Fonte: G1