Cigarros, tabaco sem fumaça, dispositivos eletrônicos com diferentes essências e aromas. Com um leque variado de opções, o tabagismo se reinventa e continua a despertar o vício em pessoas em todo o mundo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, mais de 8 milhões de pessoas morrem devido aos impactos da indústria do tabaco.
Para quem decide parar de fumar, os sintomas da abstinência da nicotina estão entre os principais desafios. No entanto, as reações, que podem incluir irritabilidade, dor de cabeça, e alterações do sono, são passageiras e tendem a desaparecer em algumas semanas.
Segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,5%, sendo 11,7% entre homens e 7,6 % entre mulheres. Os índices representam uma população de mais de 20 milhões. No Brasil, 443 pessoas morrem a cada dia por causa do tabagismo.
Os custos dos danos produzidos pelo cigarro no sistema de saúde para a economia podem chegar a R$ 125 bilhões de reais. Além disso, mais de 160 mil mortes anuais poderiam ser evitadas, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
“O cigarro é um ladrão de vidas”, alerta Jaqueline Scholz, cardiologista e diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor (veja a entrevista acima). “A principal causa de morte dos fumantes, todo mundo acha que a parte respiratória, mas não, é a cardiovascular. Infarto e acidente vascular cerebral são os grandes matadores”, diz Jaqueline.
A especialista é a criadora do Programa de Assistência ao Fumante (PAF), um projeto que une terapia comportamental e medicamentosa que aumenta em três vezes o sucesso no combate ao tabagismo.
“São três coisas que você tem que avaliar nesse paciente: saúde mental, quanto que ele tem de depressão e ansiedade e nem sabe que tem. Isso é uma questão importante, que vai definir se ele vai conseguir ou não parar de fumar e até se ele vai ter vontade de parar de fumar. Segundo, o remédio mais eficaz para tirar aquele desejo incontrolável de fumar. E terceira parte, a técnica comportamental“, explica Jaqueline.
De acordo com os especialistas, novas abordagens da medicina contribuem para reduzir o impacto do tabagismo no país.
“O que mudou e ajudou muito no tratamento do tabagismo, primeiro foi o entendimento que tabagismo é uma doença, deixar de atender o tabagista de uma maneira crítica e moralista. Há 20 ou 30 anos, se culpava o fumante por essa doença. Ele precisa de acolhimento, precisa entender que ele tem uma doença porque a nicotina vai para o cérebro e ela modifica o centro do prazer. E o prazer é uma área fundamental para a vida”, destaca Ciro Kirchenchtein, pneumologista e membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
Doenças associadas ao fumo
O tabagismo é considerado uma doença associada à dependência à nicotina. O agravo faz parte do grupo de transtornos mentais e de comportamento devido ao consumo de substâncias psicoativas.
Segundo estimativas da OMS, o fumo é responsável por 71% das mortes por câncer de pulmão, 42% das doenças respiratórias crônicas e aproximadamente 10% das doenças cardiovasculares. O problema também é fator de risco para doenças transmissíveis, como a tuberculose e pode ser a causa para o desenvolvimento de aproximadamente mais 50 outras doenças incapacitantes e fatais, segundo o Ministério da Saúde.
O tabagismo ativo provoca mais de 7 milhões de óbitos por ano no mundo e cerca de 1,2 milhão de mortes ocorrem devido à exposição de não fumantes ao fumo passivo, que consiste na inalação da fumaça de derivados do tabaco por indivíduos que convivem com fumantes em diferentes ambientes, respirando as mesmas substâncias tóxicas que o fumante inala.
“Não necessariamente todos os fumantes vão desenvolver neoplasias ou cânceres relacionados ao cigarro. Alguns pacientes fumam e nunca apresentam uma doença relacionada ao tabaco. Mas é com certeza um fator de risco importante. Mais de 80% dos cânceres de pulmão estão relacionados ao cigarro, 70% dos cânceres de bexiga também estão relacionados ao cigarro, quem fuma tem 30 vezes mais chance de desenvolver uma doença relacionada ao cigarro do que não fumante”, explica Gustavo Melo Caboclo, médico e chefe do Centro de Combate ao Tabagismo do Inca.
Especialistas afirmam que recaídas são comuns na busca pelo abandono do cigarro, mas que esses momentos não devem desestimular os fumantes.
“A recaída pode acontecer, principalmente nos primeiros meses após o abandono do cigarro. Mas também pode acontecer mais tarde, ao longo do processo, dependendo de algum estresse específico, uma questão da sua vida que conduz ao cigarro naquele momento”, afirma Caboclo.
“Muitos estudos mostram que são necessárias, às vezes, mais de quatro tentativas até o paciente conseguir parar de fumar. A recaída é um obstáculo que a gente tem que superar também”, completa.
– Texto publicado originalmente no site CNN Brasil