O polimetilmetacrilato (PMMA) é um material sintético que não dispõe de estudos dos efeitos a longo prazo no corpo humano
Lílian morreu no último domingo após aplicação da substância no corpo Reprodução/Facebook
O polimetilmetacrilato (PMMA) é um produto sintético, similar ao acrílico, utilizado como preenchimento em diferentes áreas do corpo e da face. Seu uso é extremamente limitado porque pode causar edemas locais, processos inflamatórios, reações alérgicas e formação de granuloma.
Foi durante a aplicação de PMMA nos glúteos que a bancária Lilian Calixto, 46, passou mal e precisou ser socorrida. Levada ao hospital, não resistiu e morreu horas depois por causa de uma parada cardíaca, na madrugada de domingo (15).
Lílian, que morava em Cuiabá, no Mato Grosso, tinha ido ao Rio de Janeiro para fazer o procedimento com o médico Denis Cesar Furtado, conhecido como Doutor Bumbum. A promessa é que tudo seria feito em um consultório, no entanto, a bancária foi levada para o apartamento do médico, na Barra da Tijuca, zona Oeste.
Durante o procedimento, Denis recebeu ajuda de uma técnica em enfermagem, sua namorada, que já foi presa, e da mãe, que exercia a profissão de médica ilegalmente após ter o registro da profissão cassado. Os quatro foram indiciados por homicídio qualificado e associação criminosa. Denis está foragido.
De acordo com o cirurgião plástico Dênis Calazans, secretário-geral da SBCP, quando usado em grande quantidade, os riscos de embolia e infecção são grandes. Além disso, ele não deve ser usado em aplicação intramuscular. “Uma vez aplicado é impossível retirar todo o produto. Sempre vai ficar algum resíduo”, afirma.
Outro alerta é sobre procedimentos feitos fora do ambiente hospitalar. Calazans explica que qualquer tratamento estético deve ser feito em hospital, clínica ou consultório. “É um tratamento médico e como todo tratamento do tipo, deve ser feito em um hospital, clínica ou consultório, lugares aprovados pela vigilância sanitária, que seguem os quesitos de biossegurança”.
O PMMA é um produto autorizado pela Anvisa para pacientes com HIV que tenham atrofia na face, chamada de lipodistrofia facial.
A SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) se manifestaram sobre o caso, por meio de comunicado. “Procedimentos estéticos invasivos envolvem algo muito sério, a saúde, e não podem estar separados de um atendimento médico responsável”, afirmou a SBD.
Já a SBCP disse que a crescente invasão da especialidade por não-especialistas tem promovido cada vez mais casos de insucesso e casos fatais como esse.
As entidades também destacaram a importância de verificar a formação do profissional que vai fazer o procedimento, restrito a dermatologistas e cirurgiões plásticos, que dispõem de formação necessária para trabalhar com esse tipo de material.
De acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Sergio Palma, é possível verificar a formação do médico no Conselho Regional de Medicina. “Isso pode ajudar a evitar situações de risco decorrentes de possível atendimento por pessoas sem a devida qualificação e sem competência legal para tanto”, afirma.
No caso do cirurgião plástico, a formação leva, no mínimo, 11 anos. Após os 6 anos da graduação em medicina, é preciso passar pela formação de cirurgião geral que dura 2 anos, antes de cumprir mais 3 anos em cirurgia plástica.
Outra crítica é quanto ao uso das redes sociais para a divulação do trabalho médico. O “Doutor Bumbum” costumava usar a internet para divulgar técnicas e procedimentos. “A utilização de mídias sociais para venda de produtos é um problema muito sério, o público acaba comprando a ideia de que o médico é um profissional sério e nem sempre isso corresponde à realidade”, afirma Calazans.