Quando David Spiegel soube que a sua próxima paciente o aguardava, ele não precisou perguntar o número do quarto. Sua respiração ofegante podia ser ouvida a meio caminho no corredor.
Ao entrar no quarto da paciente, ele viu uma menina de cabelos ruivos de 16 anos de idade sentada na cama, tomada pelo medo, em meio a um ataque de asma. Ao lado dela, a mãe chorava. A menina havia sido hospitalizada com asma pela terceira vez em três meses.
Spiegel era estudante de medicina em turnos pediátricos no Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos. O ano era 1970. Como parte dos seus estudos, ele tinha aulas de hipnose clínica.
A equipe médica da jovem paciente com asma já havia tentado dilatar suas vias aéreas com injeções de adrenalina. Mas, mesmo depois de duas tentativas, o ataque da menina não diminuía. Spiegel não sabia o que mais poderia fazer.
“Você quer aprender um exercício respiratório?”, perguntou ele.
Ela concordou e Spiegel hipnotizou sua primeira paciente. Depois que a menina entrou no estado de transe característico da hipnose, Spiegel estava pronto para fazer uma sugestão — o “ingrediente ativo” do tratamento hipnótico, que em geral se trata de uma afirmação cuidadosamente elaborada para produz uma reação involuntária.
Mas, enquanto a menina estava sentada na cama, calma e concentrada, Spiegel se perguntava qual sugestão deveria fazer. Ele ainda não havia chegado à aula de asma do seu curso de hipnose.
“Então eu criei algo”, conta ele, relembrando o caso. “Eu disse: ‘cada respiração que você fizer será um pouco mais profunda e um pouco mais fácil’.”
A sugestão improvisada funcionou. Em cinco minutos, a respiração ofegante da paciente havia parado e ela estava deitada na cama, respirando confortavelmente. Sua mãe havia parado de chorar.
Foi um momento didático para o médico e para a paciente. A menina cresceu e se tornou terapeuta respiratória, enquanto Spiegel dedicou sua carreira à hipnose clínica. Nos 50 anos que se seguiram, ele fundaria o Centro de Medicina Integrada da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e, pelos seus cálculos, já hipnotizou mais de 7 mil pacientes.
À primeira vista, a hipnose parece um daqueles fenômenos psicológicos que simplesmente não deveriam funcionar. Mas o que a torna tão interessante é que, muitas vezes, ela funciona. Entrar em estado hipnótico, concentrar-se atentamente e ouvir uma sugestão, para muitas pessoas, é o suficiente para tornar aquela sugestão uma realidade.
Quando uma pessoa hipnotizável ouve que o seu braço começará a se mover sozinho, ele irá. Quando ela ouve que será impossível separar seus dedos entrelaçados, será como se eles estivessem presos com cola.
Quando ela ouve que não se reconhecerá no espelho, ela verá um estranho vagamente familiar imitando seus movimentos através de uma vidraça. E, se a sugestão for que as dores crônicas irão diminuir ou que a ansiedade gradualmente desaparecerá, a hipnose passa a ser uma ferramenta terapêutica valiosa.
Cada vez mais evidências indicam que a hipnose é eficaz para muitas pessoas que sofrem de dores, ansiedade, estresse pós-traumático, parto estressante, síndrome do intestino irritável e outras condições. E, para algumas delas, a hipnose supera os tratamentos padrão em termos de custo, eficácia e efeitos colaterais.
Mas, apesar de décadas de pesquisas sobre a sua importância terapêutica e do entendimento cada vez maior dos seus mecanismos no cérebro, a adoção da hipnose clínica vem sendo incrivelmente lenta. Isso se deve, em grande parte, ao conceito errôneo de que a hipnose é pouco mais que um truque de mágica.
“A hipnose ainda recebe o rótulo de ser algo estranho”, afirma Spiegel. “As pessoas dizem que ela ou é inútil ou é perigosa — nada entre essas duas definições. E ambas estão erradas.”
Começo ‘mesmérico’
Práticas como a hipnose existem em muitas culturas espalhadas pelo mundo há séculos. Desde o transe nas práticas de cura tradicionais do sul da África até o xamanismo na Sibéria, na Coreia e no Japão e a medicina nativa norte-americana, muitas práticas exploram a capacidade do corpo de entrar em estado hipnótico.
A hipnose chegou um pouco mais tarde à Europa e à América do Norte e as origens da versão ocidental da hipnose datam do final do século 18.
Em 1775, o médico alemão Franz Mesmer popularizou a teoria do magnetismo animal. Mesmer acreditava que um fluido magnético invisível viajava através do corpo humano, influenciando nossa saúde e comportamento.
Mesmer tomou para si a tarefa de manipular esse fluido, refinando uma técnica que ficou conhecida como “mesmerismo”.
Durante sua prática médica no então chamado império Habsburgo e posteriormente em Paris, na França, ele descobriu que, sustentando o olhar do paciente e concentrando-se atentamente nele, às vezes fazendo movimentos como passar sua mão do ombro até o braço, ele conseguia resultados terapêuticos.
Mesmer ficou rapidamente famoso – e cada vez mais extravagante. Seus salões em Paris eram “sombrios e sugestivos, com cortinas, grossos tapetes e decorações astrológicas nas paredes”, descreve Jessica Riskin, professora de história da Universidade de Stanford. “O próprio Mesmer vestia-se com uma toga de tafetá lilás.”
Apesar da popularidade de Mesmer, o magnetismo animal logo saiu de moda, mas o fenômeno explorado por Mesmer ganhou força no século 19 com um novo nome: hipnose.
Diversos médicos ilustres desenvolveram sucessivas teorias sobre a sua natureza, distanciando a hipnose das suas origens “mesméricas”. O mais famoso deles foi o fundador da psicoterapia ocidental, Sigmund Freud, que fez algumas das suas análises mais conhecidas com base nos prontuários de pacientes como “Anna O” (a feminista judia austríaca Bertha Pappenheim), que um de seus colaboradores, Josef Breuer, tratou com hipnose entre 1880 e 1882.
Posteriormente, Freud abandonou a hipnose em favor da sua técnica de “livre associação”, não sem antes a terapia hipnótica moldar as bases da psicoterapia ocidental.
O mau uso da hipnose
Enquanto os médicos exploravam seu potencial terapêutico, a hipnose também desenvolvia seus usos pelo mundo do showbusiness.
Os mal-afamados hipnotizadores populares faziam tours pela Europa, sugerindo aos participantes que imitassem galinhas, ficassem rígidos como tábuas ou presenciassem uma aparição da Virgem Maria. Os debates públicos sobre a hipnose intensificaram-se nos anos 1880, até que alguns países começaram a promulgar leis para regulamentar o seu uso.
A preocupação com os abrangentes efeitos da hipnose atingia seu ápice à medida que se aproximava a virada do século.
Em setembro de 1894, Ella Salamon, de 22 anos de idade, morreu depois que ser hipnotizada por um ocultista em um castelo em uma área remota na Hungria. A história reverberou pela comunidade médica e pela imprensa na Europa e na América do Norte.
Três meses depois, na Alemanha, a baronesa Hedwig von Zedlitz und Neukirch, em busca de tratamento para dores do estômago e de cabeça, encontrou um homem que se apresentava como “curador magnético” chamado Czeslaw Czyński. Ele supostamente usou a hipnose para seduzir a baronesa por diversas sessões, culminando em um casamento que causou consternação entre a aristocracia alemã.
A baronesa passou vários meses afirmando que estava realmente apaixonada por Czyński, que tinha olhos atraentes, cabelos exuberantes e dentes brancos.
Naquele mesmo ano, o escritor franco-britânico George du Maurier criou o hipnotizador fictício Svengali, no romance best-seller Trilby. O público devorou o livro em meio às notícias do caso Czyński, afirmando que havia paralelos fantásticos entre as duas histórias.
Escândalos como esses intensificaram os esforços de médicos para se distanciar dos ocultistas e hipnotizadores populares e legitimar o seu próprio trabalho. Muitos médicos defendiam que a hipnose não deveria ser realizada por praticantes leigos.
Mais de um século se passou e essa tensão ainda não foi resolvida. Muitos pesquisadores acadêmicos e praticantes clínicos com quem conversei ainda defendem que a prática do hipnotismo pelos leigos é perigosa e que sua má reputação inibiu o desenvolvimento mais amplo da hipnose na medicina.
Mas, com cada vez mais exemplos da sua eficácia clínica na literatura e novas descobertas sobre o seu mecanismo no cérebro, pesquisadores e médicos estão concentrando seu trabalho na reabilitação da hipnose.
O legado dos excêntricos experimentos de Mesmer é um conjunto diverso de pesquisas, que variam desde experimentos independentes em meados do século 20 misturando hipnotismo, cobras e ácido concentrado, até estudos publicados em periódicos médicos importantes sobre a hipnose como potente meio de alívio de dores sem o uso de medicação.
Mas, antes de examiná-los, decidi que seria uma boa ideia experimentar a hipnose pessoalmente.
Em busca da experiência
Em uma tarde de segunda-feira, enquanto me aproximo do consultório do neurocientista cognitivo Devin Terhune, da Universidade Goldsmiths, em Londres, começo a ficar nervosa por dois motivos.
Primeiro, porque nunca fui hipnotizada antes. Embora eu já tenha falado com diversos pesquisadores e médicos, saber um pouco sobre a teoria não fez com que eu me sentisse preparada para uma sessão real. Afinal, algumas pessoas relatam experiências profundas durante a hipnose, desde sair do próprio corpo até alucinações.
Segundo, porque existe a possibilidade de ocorrer exatamente o contrário — eu ficar sentada com meus olhos fechados por 20 minutos e não conseguir reagir a nenhuma sugestão hipnótica.
Apenas cerca de 10% a 15% da população são classificados como “altamente hipnotizáveis”, ou seja, reagem à maior parte das sugestões. Conhecidos na comunidade hipnótica como “altos”, esse grupo passa por experiências fortes e às vezes profundas durante a hipnose.
Mas a maior parte da população tem uma reação mais silenciosa. Esses indivíduos medianamente hipnotizáveis poderão reagir a algumas sugestões hipnóticas, mas fracassar nos testes mais desafiadores.
E os cerca de 10 a 15% restantes são conhecidos como “baixos”. Os baixos podem reagir a uma ou duas sugestões fáceis ou até não reagir a nenhuma delas.
Seja você alto ou baixo, as pesquisas indicam que o seu nível de capacidade de hipnose não se altera ao longo da vida. Em 1989, um estudo da Universidade de Stanford examinou 50 estudantes calouros de psicologia para determinar sua capacidade de hipnose e os examinou novamente 25 anos depois.
Os antigos colegas apresentaram avaliações surpreendentemente estáveis após todos esses anos – ainda mais estáveis que outras características individuais, como a inteligência.
O que está por trás dessa característica é uma área de pesquisa recente. Existem indicações de que os níveis de dopamina – um neurotransmissor (mensageiro químico) — no cérebro estão relacionados com a capacidade de hipnose.
Estudos preliminares indicaram um gene chamado COMT, envolvido no metabolismo da dopamina, mas as conclusões foram contraditórias e ainda não surgiu um quadro genético mais claro.
Outro neurotransmissor, o ácido gama-aminobutírico (GABA), também foi relacionado à capacidade de hipnose. Em um estudo na Universidade de Stanford, Spiegel, Danielle DeSouza e seus colegas concluíram que as pessoas altamente hipnotizáveis apresentavam níveis mais altos do neurotransmissor GABA em uma parte do cérebro considerada intimamente envolvida com a hipnose.
Essa região do cérebro (o córtex cingulado anterior) está relacionada, entre outras coisas, com o controle cognitivo e a vontade. GABA apresenta efeito inibidor sobre as células cerebrais, o que levou DeSouza e Spiegel a sugerir que maiores reservas de GABA nessa região do cérebro poderiam ajudar os “altos” a entrar em estado hipnótico com mais facilidade.
Existem também alguns indicadores de características de personalidade relacionados com a capacidade de hipnose, mas não ao nível das cinco características principais. Altos e baixos podem ser extrovertidos ou introvertidos; agradáveis ou desagradáveis; neuróticos ou emocionalmente estáveis; abertos ou fechados a novas experiências; e meticulosos ou altamente desorganizados.
Algumas características mais sutis são encontradas com mais frequência nos “altos”, como se empenhar de forma mais criativa, reagir a indicações do ambiente ou se predispor à autotranscendência, segundo Terhune.
Curiosamente, os pesquisadores da hipnose com quem conversei descreveram algumas características frequentemente observadas em pessoas com alta capacidade de hipnose. São aquelas que ficam tão absortas em um livro que perdem de vista o que está acontecendo ao seu redor, ou que gritam alto quando se assustam ao ver um filme.
No caminho para o consultório de Terhune, recordo aquela vez em que cheguei atrasada para um novo emprego depois de atravessar Londres de metrô na direção errada enquanto lia o livro O Poder, da escritora britânica Naomi Alderman. E lembro que evito tudo o que possa ser remotamente assustador no cinema, desde que soltei um grito horripilante durante aquele filme terrivelmente assustador chamado Harry Potter e a Câmara Secreta.
Fiquei imaginando se conseguiria ser hipnotizada, afinal.
Reação involuntária
Empoleirada sobre o sofá cinza no consultório de Terhune encontra-se uma grande almofada, posicionada como se estivesse pronta para apoiar a cabeça de alguém que subitamente se sentisse com sono.
Ela e uma caixa preta proeminente, algo como uma grande caixa de sapatos, são os únicos objetos que diferenciam a sala de inúmeros escritórios de acadêmicos do campus da Universidade Goldsmiths no sul de Londres. Ali, Terhune pesquisa muitos aspectos da consciência, que vão da hipnose até a metacognição, e estes são os seus acessórios experimentais.
Depois de dar meu consentimento para que sejam conduzidos testes básicos para determinar minha capacidade de hipnose, Terhune rabisca um pequeno ponto em um quadro branco no lado oposto ao sofá, que ele chama de “alvo”, e me convida a me concentrar nele. Eu obedeço e ele começar a ler um roteiro, em voz lenta e constante:
“Vou ajudar você a relaxar e, enquanto isso, vou fornecer algumas instruções para ajudar você a entrar gradualmente em um estado de hipnose. Continue a concentrar-se cuidadosamente no alvo. Por favor, olhe para o alvo. E, enquanto estiver olhando, continue ouvindo atentamente minhas palavras. Você pode ficar hipnotizada se estiver disposta a fazer o que estou pedindo e, se você se concentrar no alvo e no que eu disser…”
Em dois minutos, meus olhos estão fechados e eu me sinto relaxada. Incomumente relaxada.
Observo primeiro no meu rosto que meu sorriso social habitual desaparece. Depois sinto a tensão nos meus ombros diminuir e eles aos poucos vão caindo, se distanciando de minhas orelhas. Eu me inclino para trás, sobre a almofada atrás da minha cabeça.
Estou relaxada, mas ainda consciente do que está se passando e minha mente não se apagou completamente. Pensamentos ocasionais vêm e vão na minha cabeça: “Então, estou realmente hipnotizada agora? Eu conseguiria sair desse estado se quisesse? Consigo ouvir meu coração batendo, estou ansiosa demais para que isso funcione? Isso irá parecer muito estranho? Serei capaz de controlar?”).
Eu tento não perseguir os pensamentos em círculos. Terhune me relembra de concentrar-me apenas na sua voz e as interrupções mentais diminuem.
“Para começar, eu gostaria que você mantivesse seu braço na altura do seu ombro”, diz Terhune.
Em vez de se mover sozinho, meu braço permanece relaxado ao meu lado. Imediatamente sinto uma ponta de decepção (“puxa, não sou totalmente hipnotizável?”).
Terhune faz uma pausa e continua em seguida, com voz calma e paciente: “esta ainda não é uma sugestão, não se preocupe, você pode apenas manter seu braço reto à sua frente, como faria normalmente” (“Ah, ok, então posso fazer de propósito.”) Ergo voluntariamente o braço. “Isso mesmo”, diz ele.
Agora vem a sugestão real.
“Eu quero que você preste muita atenção à sua mão — qual a sensação, como ela está. Observe se a sua mão está um pouco dormente ou formigando. O leve esforço necessário para evitar dobrar o seu pulso. Preste muita atenção à sua mão. Eu quero que você imagine que está segurando algo muito pesado na sua mão, como um livro pesado. Algo muito, muito pesado. Segure o livro na sua mão. Agora, sua mão e seu braço se sentem muito pesados com a pressão do peso do livro.”
Do nada, lá está o livro na minha mão. Com os olhos ainda fechados, fico maravilhada com o peso. Parece que existe realmente um volume substancial na minha mão esticada — a única forma de saber que não é um livro real é que não consigo sentir a capa do livro na palma da minha mão.
“À medida que o peso aumenta cada vez mais, o seu braço move-se cada vez mais para baixo, ficando mais pesado, mais pesado, mais pesado, sua mão cai, cai, até não poder mais…”
E assim foi. Terhune quase não teve tempo de terminar a sugestão antes que a minha mão atingisse o sofá.
Ouço o rabiscar do lápis sobre o papel vindo da direção da sua mesa. Ainda me sinto calma e relaxada, mas, em algum lugar da minha cabeça, uma voz está dizendo baixinho: “uau!”.
Depois veio outro teste. Terhune me diz para manter meu braço esticado para frente. “Desta vez, o que quero que você faça é pensar no seu braço ficando incrivelmente firme e rígido”, ele diz.
É como se o meu cotovelo fosse feito de madeira seca e lascada. A sensação não é tão forte quanto a do livro pesado, mas certamente existe ali uma resistência quando tento dobrar o cotovelo.
Depois de um momento, consigo transpor a sensação, que diminui. Mas é preciso esforço.
Depois, mais dois testes. Terhune sugere que eu adormeça e tenha um sonho sobre hipnose. Eu me sinto com sono e estou consciente das imagens flutuantes. Por um momento, um cão terrier escocês branco aparece brincando em um gramado — mas não é de fato um sonho, é mais parecido com aqueles momentos pouco antes de dormir, quando a mente começa a vaguear. E não tenho ideia de que relação possa haver entre os cães e a hipnose.
Terhune me diz em seguida que está tocando a música Jingle Bells, primeiro com volume muito baixo e que irá gradualmente aumentar o volume. Eu não ouço nada, exceto o ruído das árvores ao vento pela janela.
Terminamos com mais dois testes. Primeiro, eu estendo minhas mãos como se segurasse uma bola de futebol. Terhune sugere que minhas mãos estão sendo afastadas por uma força irresistível. A sensação é um pouco similar ao experimento da bola invisível, mas mais forte.
Desta vez, fico curiosa para ver o que acontece se eu forçar um pouco. Tento reunir as palmas das mãos, mas é difícil resistir à sugestão. Em poucos segundos, meus braços estão estendidos ao máximo possível.
No último teste, Terhune sugere que meu braço esquerdo fique extremamente pesado e preciso tentar erguer minha mão esquerda do meu colo. A dificuldade é quase tão grande quanto ao tentar dobrar meu cotovelo — requer bastante esforço, mas consigo erguer minha mão alguns centímetros.
Ao final dos meus testes, Terhune conta lentamente de 20 até zero para me fazer sair da hipnose. Ao chegar em cinco, abro meus olhos. Sinto-me um pouco atordoada, como se tivesse dormido demais e acordado muito rapidamente.
O resultado
Terhune conta que, segundo os testes, ele estima que estou mais ou menos na média da faixa normal de capacidade de hipnose.
Os testes aos quais eu reagi intensamente (o grande peso na minha mão estendida e a força afastando minhas mãos) são aqueles que funcionam para a maioria das pessoas. No teste do grande peso, cerca de 90% da população sente alguma coisa, segundo Terhune — até ele, que é “baixo”.
Reagir aos testes contra os quais eu lutei (o braço rígido e o braço pesado) é um pouco mais raro. E os outros dois testes são muito difíceis — poucas pessoas respondem à sugestão de ter um sonho nítido sob comando e ainda menos pessoas ouvirão Jingle Bells tocando em uma sala em silêncio. Terhune incluiu esses testes considerando a possibilidade de que eu pudesse ser “alta”.
Havia dois outros testes que ele não tentou fazer. Um deles é a agnosia, que é a sugestão de esquecer o nome de um objeto simples, como uma tesoura, e para que ele serve.
Terhune me mostra o que teria feito nesse teste. Ele depositaria uma tesoura, junto com um pedaço de fita, uma caneta e uma régua sobre a caixa preta que eu havia observado antes. Ele teria me pedido para apontar para a tesoura, o que uma pessoa muito altamente hipnotizável não seria capaz de fazer. Se você então entregasse a essa pessoa um pedaço de papel e pedisse que ela usasse a tesoura, ela ficaria perplexa.
Outro teste é a amnésia hipnótica, quando se diz a alguém que esqueça tudo o que aconteceu durante a hipnose. Mas a reação a esses testes é rara — tipicamente, cerca de 12% das pessoas reagem, segundo Terhune.
Se você nunca foi hipnotizado antes, sua experiência estatisticamente deverá ser mais ou menos similar à minha.
No trem para casa após a hipnose, ainda com alguma sensação de calma residual, fico remoendo o que havia acabado de acontecer. Por mais real que parecesse para mim, existe algum ceticismo saudável sobre a credibilidade dos relatos subjetivos como evidências científicas. Minha hipnose não se pareceu com nada que eu já houvesse experimentado — tanto que fiquei sedenta por um relato mais objetivo da minha experiência.
O cérebro hipnotizado
O famoso teste Stroop fornece algumas evidências úteis. Ele mede a dificuldade encontrada pelas pessoas para identificar a cor usada para escrever uma palavra, quando essa palavra for o nome de outra cor.
Imagine, por exemplo, a palavra “vermelho” escrita com tinta azul. As pessoas levam mais tempo para dizer que a tinta é azul que quando a tinta é da cor vermelha correspondente.
Quando participantes hipnotizados foram instruídos a não conseguir mais ler, as letras assumiram formas sem significado. Por isso, eles identificaram com mais rapidez a cor das palavras não coincidentes, já que não se distraíam mais com as palavras escritas na página.
Também parece haver diferenças na atividade cerebral quando se solicita a alguém que “finja”, em comparação com a experiência de reação involuntária.
Em um pequeno experimento, pesquisadores estudaram 12 participantes saudáveis em um scanner de tomografia por emissão de pósitrons (PET, na sigla em inglês), para medir a atividade metabólica em algumas partes do cérebro.
Em um conjunto de testes, eles receberam a instrução de fingir que são incapazes de movimentar suas pernas. Em outro conjunto de testes, as mesmas pessoas foram hipnotizadas e receberam a sugestão de que sua perna estaria paralisada. Os estudos das imagens cerebrais mostraram que cada uma das duas condições ativou diferentes regiões do cérebro.
Um estudo posterior expandiu a mesma questão do hipnotismo x fingimento, desta vez usando um scanner de imagens por ressonância magnética (RM), que fornece mais detalhes ao observar tecidos moles.
Desta vez, os pesquisadores observaram que o córtex motor — a parte do cérebro que controla os movimentos do corpo — exibiu atividade nos pacientes sob hipnose. Isso indica que as pessoas hipnotizadas realmente estavam se preparando para tentar mover o seu membro, apesar de não conseguirem mais movimento que o grupo que estava fingindo ter paralisia.
Existe então alguma característica do cérebro hipnotizado que possa explicar a sensação e as experiências peculiares da reação hipnótica? Esta é uma área de pesquisa recente, mas há duas possibilidades.
Parte da história pode ser encontrada na rede de saliência do cérebro, segundo Spiegel. Essa rede nos ajuda a identificar quais aspectos do nosso ambiente merecem ser observados, selecionando informações relevantes entre os conjuntos de dados sensoriais que inundam o nosso cérebro a todo segundo do dia.
Em um experimento, Spiegel e seus colegas hipnotizaram pessoas “altas” e “baixas”, ao mesmo tempo em que analisavam seus cérebros. Os altos apresentaram menor atividade na rede de saliência durante a hipnose.
“Quando isso acontece, você está menos preocupada com o que mais pode estar acontecendo”, explica Spiegel. “Isso permite que você se desconecte do resto do mundo.”
Isso poderá explicar, em parte, a sensação de intensa concentração durante a hipnose. Mas, e quanto à estranha sensação de que o seu corpo está fazendo coisas sozinho? Bem, as melhores evidências apontam para a rede de modo padrão cerebral, segundo Terhune — um conjunto de regiões cerebrais que são mais ativas quando estamos em repouso.
“Acredita-se que ela esteja integralmente envolvida na atividade mental autorrelacionada — sonhar durante o dia, devaneios da mente e assim por diante”, afirma ele.
Acredita-se ainda que uma parte específica dessa rede — o córtex pré-frontal medial anterior – desempenhe papel fundamental na hipnose.
“Essa região parece estar envolvida no processamento autorrelacionado, na metacognição [pensar em pensar] e na capacidade de controlar seus próprios pensamentos”, explica Terhune. “Trata-se de processos que podem ser atenuados em reação à indução hipnótica.”
Com a atividade temporariamente inibida na rede de modo padrão, pode ficar mais difícil pensar em você como um agente consciente. Esta pode ser a causa da notável sensação de que você não tem total autonomia sobre o seu próprio corpo.
A importância dessa parte da rede de modo padrão na hipnose foi descoberta em vários estudos, mas Terhune acrescenta uma ressalva: “às vezes, não sabemos qual é o ingrediente causador.”
O córtex pré-frontal medial, por exemplo, também está envolvido na elaboração de deduções sobre o estado mental das outras pessoas. Pode ocorrer que, quando você está sendo hipnotizado, também esteja por acaso pensando no hipnotizador e no que ele está pensando.
“Mas esta é a melhor linha de evidência”, conclui Terhune. “É a redução do processamento autorrelacionado e da metacognição.”
Do laboratório para a clínica
Enquanto os pesquisadores acadêmicos analisam em detalhes os motivos pelos quais a hipnose funciona, os médicos estão fazendo uso dos seus efeitos há séculos.
O uso médico mais bem explorado da hipnose talvez seja a tentadora promessa de aliviar as dores sem remédios. Diversas meta-análises (pesquisas que analisam as descobertas de um conjunto abrangente de estudos, determinando a qualidade e o projeto de cada um deles) encontraram resultados consistentes a este respeito.
Uma recente meta-análise de 45 testes de hipnose para alívio de dores concluiu que os participantes de estudos que são hipnotizados experimentam mais alívio das dores que cerca de 73% dos participantes controle. E duas meta-análises do início dos anos 2000 concluíram que a hipnose era superior à assistência padrão e incentivaram seu uso mais amplo em ambientes clínicos.
Como era de se esperar, esses efeitos não são iguais para todos. Quanto mais hipnotizável for uma pessoa, maior será a redução das suas dores, segundo uma análise de 85 estudos experimentais controlados pelos autores, com a participação de Terhune.
Algumas das descobertas mais fascinantes foram realizadas no campo das dores crônicas, definidas como dores que duram por mais de três meses.
No Reino Unido, 13% a 50% das pessoas sofrem de dores crônicas, enquanto, nos Estados Unidos, essa parcela é de cerca de um terço da população. Em todo o mundo, cerca de dois bilhões de pessoas sofrem dores de cabeça recorrentes causadas por tensão, que representam o tipo mais comum de dor crônica.
Por sua natureza, o tratamento das dores crônicas com remédios é particularmente difícil. Os analgésicos opioides causam dependência, trazendo uma série de efeitos colaterais e contribuindo para a epidemia de opioides.
Uma meta-análise de nove estudos aleatorizados demonstrou que a hipnose reduz a intensidade das dores e sua interferência na vida diária — e os pacientes que receberam oito ou mais sessões experimentaram alívio significativo das dores.
Em 2000, Spiegel conduziu um estudo aleatorizado de analgesia hipnótica em 241 pacientes que passaram por procedimentos cirúrgicos invasivos realizados sem anestesia geral. Os pacientes foram divididos em três grupos: um deles recebeu assistência padrão, outro tinha uma enfermeira simpática fornecendo apoio adicional e outro foi hipnotizado.
Todos os três grupos tinham acesso a um botão com o qual poderiam tomar um coquetel de fentanil (um poderoso analgésico opioide) e midazolam (um remédio que causa sonolência e perda de memória).
A cada 15 minutos, antes, durante e depois dos procedimentos, solicitou-se aos pacientes que avaliassem suas dores e seu nível de ansiedade de zero (calmos e sem dores) a 10 (medo profundo, ansiedade e dor).
O grupo com assistência padrão usou mais que o dobro da quantidade de fentanil e midazolam que o grupo com a enfermeira simpática ou o grupo hipnotizado. E o período de tempo necessário para realizar a operação também foi mais longo no grupo com assistência padrão (78 minutos, em média) e mais curto entre o grupo hipnotizado (61 minutos).
“O nível de ansiedade foi zero no grupo sob hipnose”, afirma Spiegel. “Simplesmente houve menos problemas para realizar o procedimento.”
Mas, para sua frustração, não houve aumento considerável do uso de hipnose clínica depois do estudo. Spiegel agora desenvolveu um aplicativo de auto-hipnose chamado Reveri. Ele espera que o aplicativo torne a hipnoterapia com base em evidências mais facilmente disponível a quem desejar ter acesso a ela.
Considerando a eficácia do tratamento hipnótico para uma variedade cada vez maior de condições, por que a disseminação dessa prática tem sido tão lenta?
A questão da coerção
A maior parte das reservas não se deve à falta de evidências, mas a um misto de preocupações e conceitos errôneos sobre a natureza involuntária da reação hipnótica.
“Este é um dos mitos mais difundidos”, segundo Terhune. “Que, se você vier a uma sessão de hipnose comigo, eu posso controlar você, fazer com que você faça coisas inadequadas. Mas as evidências a esse respeito são muito pequenas.”
Amanda Barnier, professora de ciências cognitivas da Universidade Macquarie, na Austrália, explorou essa questão em um estudo com o uso inteligente de cartões-postais.
Ela dividiu os participantes do estudo em dois grupos: um grupo de pessoas altamente hipnotizáveis recebeu uma grande pilha de cartões-postais e, depois de indução hipnótica, foi dada a elas a sugestão de enviar um cartão-postal para Barnier todos os dias, até que ela telefonasse.
No dia seguinte, os cartões-postais começaram a chegar — e continuaram chegando.
Quando, em dado momento, Barnier ligou novamente para os participantes do estudo, as reflexões foram fascinantes. “As pessoas que haviam sido hipnotizadas disseram ‘oh, meu Deus, estava fora do meu controle. A chuva caía lá fora e, mesmo assim, eu saía e mandava aquele cartão-postal para você, eu não conseguia me controlar. Era uma compulsão'”, relembra ela.
Mas o experimento não terminou ali. Barnier também usou um grupo controle de pessoas que não haviam sido hipnotizadas, a quem ela simplesmente solicitou que enviassem um cartão-postal todos os dias. “Eu disse: ‘sou estudante de PhD e estou tentando escrever a minha tese. Aqui estão alguns cartões-postais, vocês me enviariam um todos os dias?”
De forma talvez surpreendente, esse grupo também se sentiu obrigado. Quando Barnier telefonou para eles, para falar sobre a sua experiência, eles foram mais pragmáticos. “Eles disseram ‘bem, você parecia desesperada’.”
Com isso, Barnier concluiu que os participantes hipnotizados não estavam sendo obrigados a fazer nada que não teriam feito de outra forma, mesmo sentindo o contrário.
Experimentos anteriores, conduzidos em tempos de regulamentações éticas mais permissivas, concluíram que pedidos mais extremos geraram reações similares.
Em 1939, um experimento alarmante forneceu a participantes profundamente hipnotizados a sugestão de agarrar uma enorme cascavel. Foi dito aos participantes que a cobra era apenas um rolo de corda.
Um participante dispôs-se a agarrá-la, mas foi impedido por uma vidraça. Outro saiu da hipnose e recusou-se a fazê-lo. Dois outros participantes hipnotizados não receberam a informação de que a cobra seria um rolo de corda e ambos tentaram agarrá-la mesmo assim.
E dois dos participantes receberam então a sugestão de que ficaram com raiva de um assistente do experimento por colocá-los naquela situação perigosa. Foi dito a eles que não conseguiriam resistir à tentação de atirar um frasco de ácido concentrado no rosto do assistente — e os dois o fizeram, mas, em um gesto rápido, o frasco de ácido real havia sido substituído por um líquido inofensivo com a mesma cor.
Também se solicitou a um grupo controle de pessoas não hipnotizadas que participasse, mas a maioria não foi muito longe, pois eles ficaram apavorados com a cobra e não chegaram perto dela. Essas conclusões foram replicadas em outro estudo de 1952, mas pesquisas posteriores criticaram o fato de que os participantes controles não receberam a mesma pressão do grupo hipnotizado, tornando a comparação injusta.
Um experimento realizado em 1973 buscou abordar a questão de forma mais robusta, colocando os participantes hipnotizados e não hipnotizados em pé de igualdade. Um grupo de estudantes universitários foi hipnotizado e recebeu a sugestão de sair pelo campus para vender algo que, segundo lhes foi informado, seria a droga heroína. O outro grupo simplesmente recebeu a solicitação — e os dois grupos saíram e obedeceram.
Mas os responsáveis pelo experimento tiveram problemas, pois o pai de uma das participantes era um professor do campus. Ele não ficou nada satisfeito ao descobrir que sua filha estava tentando vender heroína para os colegas.
“A conclusão é que os estudantes de graduação estão dispostos a cometer atos malucos”, afirma Terhune. “Não tem nada a ver com hipnose.”
Como ocorreu com a descoberta de Barnier, muitos dos atos surpreendentes das pessoas hipnotizadas não se devem à hipnose, mas simplesmente ao fato de que as pessoas farão todo tipo de coisas bizarras que você pedir.
O que esses experimentos não respondem definitivamente é se alguém pode ser genuinamente obrigado a fazer algo contra a vontade sob hipnose. Mas, fora do mundo acadêmico, existem muitos casos em que a hipnose foi usada com más intenções.
Uso e abuso
É noite e há trânsito em uma rua movimentada no norte de Londres, em frente a uma loja de esquina.
Dentro da loja, o vendedor está movendo alguns produtos de lugar, quando entra um jovem com aparência confiante, vestindo uma camiseta cinza, jaqueta escura e jeans. Ele se aproxima do vendedor e o toca no braço.
Segundo a imagem embaçada do circuito fechado de TV, ocorrem em seguida algumas coisas estranhas. O vendedor fica paralisado no local, aparentemente em transe. O homem toca no peito e no ombro do vendedor e, em seguida, revista seus bolsos. O vendedor fica imóvel, aparentemente sem notar. Somente quando o ladrão sai da loja, o vendedor parece perceber que foi assaltado.
“Como cientista, esses casos são de difícil interpretação porque não conhecemos todas as circunstâncias”, afirma Terhune. “Você poderia usar a distração para cometer um crime? Certamente que sim. Você poderia colocar alguém em transe e assaltar ou agredir essa pessoa? É muito difícil dizer e muito complicado.”
Esse assalto no norte de Londres é apenas um dentre uma longa e, em certos casos, angustiante lista de crimes, muitas vezes envolvendo abusos sexuais de pacientes mulheres por hipnotizadores desonestos, que frequentemente exploram o desequilíbrio de poder entre o abusador e a vítima.
“É claro que são casos horríveis e repugnantes”, afirma Terhune. “Esses casos são difíceis porque já estão ocorrendo em uma dinâmica de poder incomum com um especialista ou profissional em quem alguém provavelmente confia. Por mais terríveis que sejam esses eventos, eles ocorrem em muitas situações com relações de poder diferenciais, [como] treinadores, professores ou profissionais médicos.”
Além da dinâmica de poder, existem outros fatores difíceis de identificar, segundo explica Barnier, como as percepções ou os estereótipos da hipnose que as pessoas podem ter (como “na hipnose, eu perco o controle”). Devido a esse conjunto de fatores, “não fica claro se o agente de vulnerabilidade é a própria hipnose ou o contexto mais amplo”, segundo ela.
Tudo isso traz a seguinte questão: como alguém que procura a hipnose pode tomar precauções para ter certeza de que o seu tratamento será o mais seguro possível? Barnier afirma que a regra de ouro é uma só: “se alguém não conseguir tratar você sem hipnose, essa pessoa não deverá tratar você com hipnose”.
Todos os médicos e pesquisadores que consultei para esta reportagem, incluindo Hilary Walker, executiva-chefe da Sociedade Britânica de Hipnose Clínica e Acadêmica, e Joe Tramontana, presidente eleito da Sociedade Norte-Americana de Hipnose Clínica, concordam com essa abordagem.
O Colégio Real de Psiquiatras do Reino Unido também recomenda sempre verificar as qualificações do terapeuta. A entidade afirma no seu website que “a hipnoterapia somente deverá ser realizada por profissionais de saúde qualificados, submetidos a uma organização profissional. Eles deverão ser, por exemplo, médicos, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais ou fisioterapeutas.”
Uma razão da importância desse ponto é que, em muitos países (incluindo o Reino Unido e a Austrália), não há uma organização oficial que regulamente o hipnotismo leigo.
“Na Austrália, você encontra pessoas que fazem cursos de fim de semana ou de seis meses em uma escola de hipnose”, afirma Barnier. E se algo correr errado durante o tratamento? “Não existe uma agência profissional para a qual você possa ir e reclamar.”
Em alguns países, os praticantes da hipnoterapia podem preferir associar-se a uma organização que registre os hipnoterapeutas leigos. No Reino Unido, por exemplo, existe o Conselho Geral de Padrões de Hipnoterapia (GHSC, na sigla em inglês). Mas o conselho informa que nenhuma dessas organizações pode reivindicar o título de órgão regulador oficial, pois “hipnoterapeuta” não é um título protegido da mesma forma que “médico” e “fisioterapeuta”.
O GHSC pede, por exemplo, que os hipnoterapeutas que solicitam inscrição no seu registro obedeçam um código de ética. O conselho também mantém um procedimento de reclamação aberto aos pacientes dos seus membros registrados.
“Mas, como a hipnoterapia não está sujeita à regulamentação estatutária, nem nós, nem nenhuma outra organização [que registre hipnotizadores leigos], podemos evitar que um praticante que tenha sido excluído do registro continue a praticar de forma independente”, segundo um porta-voz do conselho.
A mensagem final dos médicos e das organizações profissionais com quem conversei permanece sendo a de assegurar-se de que qualquer pessoa a quem você busque tratamento tenha as qualificações de saúde apropriadas. E, ao sofrer de um problema de saúde, você deve consultar seu médico ou posto de saúde.
‘Maluquice’ ou parte do dia a dia?
Apesar da sua longa tradição de “maluquice”, como diz Barnier, a hipnose não está tão longe assim de muitas experiências da nossa vida diária.
Para muitas pessoas, é comum perder-se em um bom livro, ou pode ser irresistível ficar absorto em um filme (quem sabe, até um filme de Harry Potter). Ou talvez você possa ficar desatento com as marcas da rodovia enquanto dirige.
Barnier afirma que, se isso já aconteceu, você experimentou algo que não é muito diferente da hipnose. Existem até paralelos entre ficar absorvido pelo seu smartphone e a hipnose. Ambos distorcem a percepção do tempo, reduzem a consciência do seu ambiente externo e causam redução do sentido de controle (aquela sensação de que você simplesmente não consegue parar de rolar a tela).
Mas, se você não experimenta com frequência esse tipo de absorção profunda, isso também é normal. “É como a diferença entre uma pessoa extrovertida e outra introvertida”, explica Barnier. “Elas estão apenas vivendo suas vidas no mundo de formas diferentes.”
Da mesma forma que a hipnose não é tão diferente do nosso dia a dia, ela tem muito em comum com outras ferramentas de intervenção médica. Imagine uma agulha e uma seringa ou um bisturi. Nas mãos erradas, todos têm o potencial de fazer grandes estragos. Mas, em mãos habilidosas, podem ser instrumentos poderosos para fazer o bem.
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Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.