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Como evitar a enxaqueca

Especialistas orientam como diferenciar o problema da dor de cabeça comum e o que fazer para prevenir crises

Dor de cabeça, sensibilidade à luz, cheiros ou barulhos, náuseas e vômitos, incômodo visual, formigamento e tonturas. Esses são apenas alguns dos sintomas vivenciados por quem sofre de enxaqueca, uma doença neurológica, genética e crônica.

Dados recentes divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam a enxaqueca como a segunda maior causa de incapacidade em todo o mundo, e a primeira nos países da Europa ocidental e Austrália.

“A gente pode resumir a enxaqueca dizendo que é um distúrbio do processamento neurossensorial. Esse distúrbio é cíclico, ou seja, ele acontece em crises e pode se tornar crônico com uma frequência muito maior. Mas o que está em jogo na fisiopatologia da enxaqueca é uma disfunção na forma como funcionam alguns centros que regulam a percepção. Por exemplo, da dor”, explica Marcio Nattan, neurologista do Grupo de Cefaleias do Hospital das Clínicas de São Paulo.

“Cerca de 15% da população do mundo tem enxaqueca, coisa de um bilhão de pessoas. No Brasil, 31 milhões de pessoas sofrem com enxaqueca. Esse adensamento no mundo é bastante parecido com o Brasil. Exceto, quando a gente fala de enxaqueca crônica, que é a enxaqueca que a pessoa tem 15 dias ou mais de dor por mês. Ela passa mais tempo com dor do que sem. No Brasil, a taxa é mais comum do que no resto do mundo, em torno de 5% da população”, completa Nattan.

A enxaqueca pode ser classificada de maneiras distintas. Basicamente, é possível separar a enxaqueca com aura e sem aura, segundo os especialistas.

A enxaqueca com aura acomete mais ou menos 20% das pessoas. Elas têm dificuldade para enxergar, como o apagamento de um campo de visão, a presença de pontos brilhantes ou dificuldade para focar uma imagem. Outros sintomas são formigamentos nos braços que sobem até a face ou dificuldade da fala. O tratamento desse tipo de enxaqueca requer uma equipe multidisciplinar, que pode incluir profissionais da psiquiatria.

“Apesar de ser um diagnóstico neurológico, os aspectos psiquiátricos que a enxaqueca desencadeia, seja a dor crônica, incapacidade laboral, a incapacidade social, causam ansiedade, podem causar depressão ou outras questões. Assim como quadros psiquiátricos como depressão e estresse, que podem agravar a enxaqueca. Então, a gente sempre olha com muito cuidado, e com muita cautela quando alguém chega com esse diagnóstico, ou com uma queixa de dor de cabeça crônica, ou cefaleia, que a gente ainda não tem o diagnóstico fechado”, diz Inah Proença, médica psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Avanços no tratamento

No episódio, especialistas alertam que apesar da angústia que a enxaqueca traz para o paciente, é necessário evitar a automedicação.

“A pessoa que sofre com dor de cabeça tende a achar que isso é uma coisa normal e acaba recorrendo a tomar um analgésico. Muitas vezes, ela desconhece que há o risco de desenvolver o que a gente chama de cefaleia por uso excessivo do analgésico. Com o tempo, a pessoa começa a perceber que ela não responde mais tão bem ao analgésico, cada vez precisa de mais. O objetivo do tratamento não é só parar de usar analgésico, mais do que isso, é que a pessoa não precise recorrer tão frequentemente ao analgésico”, explica Nattan.

“A automedicação descontrolada é sempre um sinal de alerta para enxaqueca, para depressão, para qualquer outra questão. Esses medicamentos tomados de forma errada ou administrados em posologia errada podem trazer grandes consequências para o organismo. E o uso crônico dessas medicações pode muitas vezes agravar o quadro da enxaqueca”, destaca Inah.

A medida utilizada pela medicina considera que qualquer pessoa que use analgésicos dez dias ou mais durante um mês, está fazendo um uso excessivo.

“Também tem a quantidade de comprimidos por dia. Nós temos pacientes que usam de 6 a 10 comprimidos de analgésico ao dia. Isso, além de piorar a frequência das dores de cabeça também traz um risco para o estômago, para o fígado, porque esses medicamentos são metabolizados e acabam influenciando no sistema do trato gastrointestinal. A mensagem principal é que o tratamento preventivo vai fazer a frequência das dores diminuir”, diz Alexandre Ottoni Kaup, pesquisador e neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Algumas atividades ajudam muito no tratamento da enxaqueca, como a atividade física. A gente tem dados importantes a respeito do cuidar do sono, que é fundamental. A gente vê uma associação muito próxima de distúrbios do sono, como a insônia, como a apneia do sono, na piora da enxaqueca. Distúrbios como transtorno de ansiedade e depressão também estão relacionados à piora da enxaqueca. Então, o cuidado da saúde mental, boa alimentação, é uma promoção de saúde e pode ajudar”, diz Nattan.

Este texto foi originalmente publicado em CNN Brasil

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