Em menores de quatro anos, a apendicite é uma patologia incomum e sintomas como dor abdominal e febre são os mais prevalentes.
Considerada a emergência cirúrgica abdominal mais comum em crianças e adolescentes, a apendicite deve ser reconhecida precocemente a fim de evitar complicações como abscesso, perfuração, obstrução intestinal, peritonite e sepse.
No que concerne à fisiopatologia, há obstrução da luz do apêndice geralmente por fecalito impactado, sendo a hiperplasia linfoide outra causa plausível de obstrução apendicular.
Classicamente, a clínica consiste em dor periumbilical que migra para o quadrante inferior direito do abdome associada a febre e vômitos. Em menores de quatro anos, contudo, a apresentação costuma ser atípica assim como a coleta da história clínica mais difícil, o que pode retardar o diagnóstico e acarretar no aumento da morbimortalidade.
Em tal faixa etária, a apendicite é uma patologia incomum e sintomas inespecíficos como dor abdominal difusa, vômitos, febre, letargia, distensão abdominal, inapetência e diarreia são os mais prevalentes.
Ademais, quanto mais jovem o paciente, mais rápida a evolução para complicações. Estima-se que em menores de 3 anos, as taxas de perfuração alcançam até 70% dentro de 48 horas.
Exige portanto um alto nível de suspeição clínica e deve ser considerada em quadros de dor abdominal aguda sem apendicectomia prévia. A gastroenterite consiste no erro diagnóstico mais comum ao se considerar que a diarreia está presente em 33% a 41% dos pacientes com idade inferior a 5 anos.
A fim de tornar o diagnóstico mais assertivo, escores como o Pediatric appendicitis score (PAS) e o de Alvorado podem auxiliar, assim como exames de imagem em casos duvidosos, sendo a ultrassonografia abdominal o exame de primeira escolha na investigação.
Entretanto, o resultado negativo não descarta apendicite, pois pode exibir alterações apenas em fases mais avançadas da doença, além de ser operador dependente.
A tomografia computadorizada de abdome, por sua vez, é indicada para avaliação definitiva da suspeita, mas deve ser feita após julgamento criterioso. Na dúvida diagnóstica, deve-se internar a criança para observação, solicitar parecer da cirurgia pediátrica e realizar exames seriados.
– Texto publicado originalmente em PEBMED