Medida ajuda no controle e erradicação de doenças fatais, protegendo não só crianças, mas a população como um todo
Nos séculos passados, grande parte dos óbitos registrados eram causados por doenças infecciosas fatais. Esse cenário mudou com a chegada das vacinas, que reduziram o número de mortes e garantiram proteção duradoura contra doenças que atingiam crianças, gestantes e também adultos.
Apesar de algumas delas terem sido controladas e erradicadas no País, órgãos de saúde alertam para a importância da cobertura vacinal para toda a população, principalmente entre bebês e crianças. Isso porque algumas doenças podem voltar à circulação, ocasionando sequelas graves que podem ser facilmente prevenidas com a vacinação infantil.
O pediatra e infectologista Renato Kfouri, Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, falou sobre este importante tema durante o Minha Vida ao Vivo, oferecido por Sanofi Pasteur, e explicou por que é importante continuar vacinando a população contra doenças como difteria, tétano, coqueluche, meningite, hepatite e poliomielite.
Leia algumas perguntas abaixo ou confira o Minha Vida ao Vivo na íntegra clicando aqui.
Minha Vida: Quais são as vacinas essenciais para cada fase da vida?
Dr. Renato Kfouri: As vacinas, antigamente, foram desenvolvidas para doenças da infância, que matavam muita gente e eram responsáveis por altas taxas de mortalidade infantil, como difteria, coqueluche, paralisia infantil e sarampo. Logo se percebeu que a gente pode usar vacinas para prevenir doenças em qualquer idade, em adolescentes, adultos, gestantes, gente com doenças crônicas e até quem vai viajar. As oportunidades de vacinação deixaram de ser só da criança. Para cada idade, temos um calendário específico de vacinação.
Minha Vida: Por que é importante administrar a vacinação já na infância?
Dr. Renato Kfouri: O bebê pequeno tem uma imaturidade de suas defesas. Por isso, os bebês pequenos são mais vulneráveis a pneumonias, coqueluches, meningites e diarreias. Essas vacinas, logo no começo da infância, vão proteger justamente esse bebê está mais vulnerável. Então, é importantíssimo que o calendário seja seguido no tempo exato. Atrasar a vacina da criança é um risco que a gente não deve correr.
Minha Vida: Sobre a difteria, que é uma doença cuja prevenção é feita pela vacina, qual é a gravidade dela em bebês, gestantes e crianças?
Dr. Renato Kfouri: A difteria era uma doença muito importante antes da introdução das vacinas, que mudaram completamente o cenário da doença no nosso país. Ela tem como características febre alta, o indivíduo fica com bastante fadiga e com placas na garganta, que atrapalham a respiração. Isso era uma causa importante de óbito entre as crianças brasileiras. Outra doença sobre a qual é importante a gente falar é a hepatite B, que é uma infecção grave do fígado, com sintomas que variam entre olhos amarelados na marca d´água, dor abdominal e urina escura. É fundamental vacinar as crianças, porque em alguns casos elas podem não apresentar sintomas e as consequências, nas situações mais crônicas, podem ser câncer, insuficiência hepática e surgimento de feridas.
Minha Vida: Agora falando sobre tétano, cuja bactéria está presente no nosso ambiente, qual é a gravidade dela em gestantes, bebês e crianças?
Dr. Renato Kfouri: Diferentemente de algumas doenças que transmitimos de pessoa para pessoa, o tétano vive no ambiente, em terra e ferrugens. Então, a transmissão se dá por meio de ferimentos, como um corte ou perfuração, ou temos o tétano transmitido pelo cordão umbilical, chamado de tétano neonatal. Esse segundo tipo de tétano do bebê nós conseguimos, com a vacinação da grávida, fazer desaparecer.
O Brasil recebeu no ano passado o certificado de eliminação do tétano materno e neonatal pela Organização Mundial da Saúde. Mas o tétano acidental continua acontecendo. Nós precisamos vacinar também as crianças no calendário infantil, com cinco doses, aos 2, 4 e 6 meses; e dois reforços aos 3 e 4 anos. E os adultos recebem depois de 10 em 10 anos, junto com a difteria.
Minha Vida: Sobre coqueluche, é verdade que ela pode ser uma doença fatal em bebês?
Dr. Renato Kfouri: É, infelizmente nós tivemos em anos recentes mais de cem óbitos em crianças no nosso país. Coqueluche apareceu de 2011 para cá, não só aqui no Brasil, mas em todo mundo. Era uma doença que havia sido controlada. E aqui temos uma dissociação muito clara: adultos quando pegam coqueluche geralmente desenvolvem uma doença leve.
O recém-nascido, quando pega a doença, especialmente nos primeiros seis meses de vida, costuma ser muito grave. E tem duas formas de proteger: uma é vacinando a grávida. Quando a gente vacina a gestante, conseguimos prevenir a doença porque a mãe passa anticorpos para o bebê, que vai nascer protegido. A outra forma é vacinando o próprio bebê, com vacina aos dois, quatro e seis meses, a vacina tríplice.
Minha Vida: Por último, a poliomielite. Como essa doença age no organismo e como podemos prevenir?
Dr. Renato Kfouri: A paralisia infantil é uma doença que quem é de uma geração passada convivia muito, com crianças e adultos que ficavam sequelados. A criança dorme bem, adquire o vírus, acorda no dia seguinte paralisado e com dificuldade de movimentação de membros, muitas vezes com sequelas definitivas que precisam de próteses.
Esse é um passado para o qual não queremos voltar. Apesar de estarmos livres da pólio há mais 25 anos, existem alguns países que têm a doença ainda. Se a gente descuidar e manter nossas coberturas vacinais baixas, a gente corre o risco de ter a circulação da pólio novamente. Por isso, precisamos continuar vacinando.
Minha Vida: Por que algumas doenças, como a pólio, que eram consideradas erradicadas no Brasil, estão voltando a ser registradas?
Dr. Renato Kfouri: Esse é um fato que está relacionado a coberturas vacinais. Se a gente tem a 90% a 95% da população vacinal, quando entra alguém com sarampo, pólio, difteria, a doença encontra entre nós pessoas suscetíveis. Por isso é importante manter a população vacinada. E as vacinas hoje são tantas no calendário infantil, que é importante que nós possamos combinar todas as vacinas em uma única aplicação para diminuir o número de picadas. Vacinas que combinam essas doenças todas facilitam a adesão ao calendário.
Minha Vida: Nós falamos sobre tantas doenças, mas é importante que o leitor saiba que existe uma vacina capaz de combinar tantas defesas de uma só vez, em uma dose, não é?
Dr. Renato Kfouri: Sem dúvidas, a combinação de vacinas é um facilitador da adesão ao calendário. Uma vacina que a gente dispõe é a que combina difteria, tétano, coqueluche meningite e pólio, além da hepatite b, ou seja, seis doenças em uma única vacina. Claro que não conseguimos fazer isso com todas, existem algumas em que a vacinação é isolada, como pneumonia e diarreia por rotavírus. As possibilidades de combinação vão aumentando a adesão ao calendário e o conforto para família, especialmente para o bebê, que não precisa ficar tomando tanta picada.
Minha Vida: Caso a vacinação tenha sido iniciada no sistema público, ela pode ser complementada na rede privada depois?
Dr. Renato Kfouri: Hoje temos algumas vacinas no setor privado que ainda não estão disponibilizadas no programa nacional de imunizações. Então, temos vacinas diferentes de coqueluche, meningite, pneumonia. Se a família tem condições de propiciar uma vacina no setor privado com maior proteção, acabamos oferecendo essa possibilidade. E essa migração, de tomar uma dose no público e depois no privado, e vice versa, é muito possível.
Essas trocas entre doses no sistema público e no sistema privado podem ser feitas a qualquer momento. As vacinas são seguras, não tem problema de efeito colateral com essa troca. Quem tem acesso a vacinas mais modernas, com menos reações, tem essa possibilidade. Mas quem não puder, tome as vacinas da rede pública que protegem muito bem as crianças.
Fonte: Minha Vida