A vitamina D é um nutriente essencial não apenas importante para a saúde óssea, mas também benéfico para muitos outros sistemas. O melhor indicador dos níveis de vitamina D no corpo humano é a concentração sérica de 25(OH)D, a qual tem valores de referência variável a depender das diferentes populações.
Níveis séricos adequados dessa vitamina podem ser alcançados pelo consumo de alimentos que contêm naturalmente vitamina D (peixes oleosos, como sardinha, atum, salmão e óleo de fígado de bacalhau, gemas de ovos, cogumelos shitake, fígado ou vísceras), mas a síntese dérmica após radiação ultravioleta-B continua a ser a principal via para obter vitamina D, respondendo por 90% das suas reposições.
Apesar disso, o diabetes mellitus pode ser visto como um fator de risco independente para a deficiência dessa vitamina e a necessidade de suplementação pode ser questionada.
A suplementação de vitamina D
A neuropatia diabética é uma das complicações microvasculares do diabetes mellitus, com incidências de até 30-50%, além de ser causa primária de morbidade e mortalidade nestes pacientes. Baixas concentrações de vitamina D estão associadas com a presença e gravidade da neuropatia sensorial em diabetes.
Estudos prévios já relataram uma melhora significativa dos sintomas e da dor da neuropatia diabética usando suplementação de vitamina D. No entanto, a maioria desses estudos não inclui um grupo controle no desenho da pesquisa e utilizavam dados em doses terapêuticas.
Recentemente, um ensaio clínico randomizado, com 68 pacientes adultos com neuropatia diabética, foi publicado e divulgou informações consistentes sobre a suplementação de vitamina D nessa condição.
Os participantes do estudo foram randomizados em dois grupos: experimental e controle. O grupo experimental recebeu uma dose oral de 5000 UI vitamina D, uma vez ao dia, durante oito semanas além do tratamento padrão para neuropatia diabética (pregabalina 1x75mg, gabapentina 1x100mg ou amitriptilina 1x25mg; a dose foi ajustada de acordo com cada sintoma dos pacientes). Já o grupo controle recebeu apenas o tratamento padrão durante o mesmo período.
Para a mensuração da dor, utilizou-se como instrumento a Escala Visual Analógica, (EVA) com pontuação de 0 a 10, sendo que 0 significa ausência total de dor e 10 o nível de dor máxima suportável pelo paciente. O Inventário Breve de Dor foi utilizado para avaliar o impacto da dor na interferência na vida diária, incluindo qualidade do sono e humor. Os resultados foram categorizados em 4 níveis, desde de um aumento de 50% na melhora em sua pontuação até sem nenhuma melhora.
Os resultados mostraram que, após 8 semanas de tratamento, os níveis séricos de vitamina D do grupo experimental melhoraram significativamente em comparação ao grupo controle (40,02 ± 15,33 ng/mL vs 18,73 ± 6,88 ng/mL; p<0,001) e também em comparação ao nível basal, evoluindo de uma concentração média de 15.87 ± 8.50 ng/mL para 40,02 ± 15,33 ng/mL (p<0,001).
Além do aumento dos níveis séricos de vitamina D, a suplementação oral de vitamina D foi capaz de melhorar significativamente a dor, com redução mais significativa do escore VAS (−3,34 ± 2,03 vs −2,37 ± 2,2, p=0,044), e o humor (88.2% vs 70.6%, p=0.031) do grupo experimental quando comparado ao tratamento padrão sozinho. Não foram encontradas diferenças significativas quanto à melhora na qualidade do sono.
É importante ressaltar que o estudo tem algumas limitações, como o fato do desenho ser open label, ou seja, tanto os pesquisadores como os pacientes envolvidos têm conhecimento a que grupo pertencem. Além disso, a dosagem de vitamina D e o potencial ajuste de dose não foram analisados e comparados.
Qual a mensagem prática?
Os achados indicam que o uso de suplementos de vitamina D pode ser útil na melhora da dor e do humor de pacientes com neuropatia diabética. Entretanto, ainda são necessários estudos com delineamento duplo-cego comparando várias dosagens da suplementação de vitamina D para determinar melhores opções terapêuticas.
Fonte: PEBMED