Se pudéssemos comparar nosso corpo a um carro, a tireoide teria uma função dupla: atuaria ao mesmo tempo como freio e acelerador. Afinal, ela é responsável por ditar a velocidade do metabolismo e garantir que todos os processos estejam dentro de um compasso.
Sabe o que acontece quando essa glândula perde as estribeiras e acelera feito maluca? É desastre na certa! Pois isso é o que ocorre durante o hipertireoidismo, marcado pela produção excessiva dos hormônios tireoidianos T3 e T4, substâncias que determinam o ritmo de funcionamento de todas as células – da cabeça aos pés.
Calcula-se que esse problema, caracterizado por taquicardia, diarreia, queda de cabelo, tremores e insônia, atinja 1,5% da população mundial. Dá algo em torno de 2,5 milhões de brasileiros. De olho na condição, a Associação Americana de Tireoide (ATA) acaba de atualizar suas recomendações de detecção e tratamento.
“Nos últimos anos, tivemos muitos avanços científicos relacionados ao hipertireoidismo, com um grande número de estudos e achados inéditos”, contextualiza o endocrinologista Hans Graf, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
As mudanças na diretriz começam logo no diagnóstico. Antes de entrar nos detalhes, convém deixar claro que, para descobrir se uma pessoa está com a disfunção, uma simples amostra de sangue basta. Ela serve para medir os níveis do T4 livre e do TSH, um hormônio fabricado no cérebro que estimula a glândula. Se o primeiro estiver elevado e o segundo baixo, tudo leva a crer que seja hipertireoidismo. Mas essa informação sozinha não é o suficiente para decidir os próximos passos. Nessa etapa, o médico também deve investigar o fator que está provocando a condição.
E é aí que vem a novidade. Antigamente, para revelar a causa, era necessário lançar mão de exames de imagem, como a cintilografia. Agora, a ideia é priorizar a procura pelo anticorpo TRAb na circulação por meio de um teste de sangue. “A presença dessas moléculas sinaliza uma origem autoimune, ou seja, são as próprias células de defesa do organismo que estão agredindo a tireoide”, esclarece o endocrinologista Cleo Otaviano Mesa Junior, do Hospital de Clínicas da UFPR.
Nesses casos, o hipertireoidismo recebe o nome de doença de Graves. Porém, se o tal do TRAb não der as caras, os vilões são outros – agentes químicos, medicamentos e até infecções podem estar por trás do perrengue. “É a partir do momento que encontramos a causa que conseguimos definir melhor a abordagem terapêutica”, diz Mesa Junior.
Fonte: Saúde Abril