Na corrida mundial em busca da imunização contra a covid-19, doença causada pelo coronavírus, o Brasil está se destacando como polo de testagem das vacinas. Especialistas atribuem o interesse das empresas farmacêuticas no País às altas das taxas de contaminação e novos casos que ainda são registrados diariamente.
O país como um grande laboratório de cobaias: especialistas dizem que a fase de alto contágio propicia análise dos resultados (Crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a testagem das seguintes vacinas: a britânica, desenvolvida pela Universidade de Oxford, a chinesa CoronaVac, da Sinovac Biotech, e as germano-americanas BNT162b1 e BNT162b2, testadas por um mesmo estudo das empresas BioNTech e Pfizer
De acordo com a infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital Sírio-Libanês e conselheira do Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA), a velocidade de contágio que segue ocorrendo no Brasil acelera o tempo necessário para a testagem das vacinas.
“Para comprovar a eficácia da vacina a gente cria dois grupos. Por sorteio, separamos quem receberá a imunização e o placebo. Temos que observar a incidência de casos nos dois grupos e um ambiente com alta contaminação é favorável para esse teste”, afirma Miriam.
Lessandra Michelin, infectologista e diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), reforça que o cenário no Brasil é adequado para o teste. “A pessoa recebe a vacina e depois ela tem que se expor ao vírus para ver se a vacina protegeu. Então [todo este processo de testagem de novos medicamentos contra o coronavírus] deve ser em locais que ainda tenham muitos casos.”
Para a infectologista e gerente médica de produtos clínicos da Sharecare, Jane de Oliveira Gonzaga Teixeira, o histórico positivo das instituições brasileiras dessa área foram importantes na escolha do País.
“Temos credibilidade no desenvolvimento de vacinas e esse movimento pode gerar algum tipo de transferência de conhecimento desses processos”, destaca Jane.
A coordenadora médica da Conexa Saúde, Layla Almeida, aponta outro motivo que também torna o País vantajoso para os testes. “O fato de não termos tecnologia para a produção da vacina motiva ações do governo brasileiro e mediadas da Anvisa para facilitar a liberação de testes da fase 3”, relata.
Todas as entrevistadas destacaram que essa fase de testagem é segura, por já ser em um momento mais avançado do desenvolvimento da vacina. “Todo medicamento oferece algum efeito colateral, mas eles são mínimos e não devem atrapalhar o processo de testagem”, diz Jane.
Tipo sanguíneo
Recentemente, um estudo chinês revelou que as pessoas com o tipo sanguíneo A têm tendência a desenvolver os sintomas mais graves do novo coronavírus. Segundo a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, 42% população brasileira têm este sangue.
Para as especialistas, no entanto, isso não foi um fator determinante na escolha do País para os testes. “A vacina é direcionada para quem ainda não está infectado com o vírus. Para as pessoas que estão em condições mais graves, temos outros dispositivos para tentar reparar os danos”, explica Jane.
Distribuição das vacinas
As parcerias que o Brasil estabeleceu oferecem uma vantagem no acesso às vacinas, na visão das especialistas. Lessandra cita como exemplo para compra o caso da vacina de Oxford AztraZeneca e, para a transferência de conhecimento, a vacina chinesa, que pode ter sua tecnologia compartilhada com o Instituto Butantã e ser reproduzida em solo nacional posteriormente.
Os Estados Unidos também entraram com força nessa disputa. Ontem (22), o governo americano anunciou um acordo com as farmacêuticas BioNTech e Pfizer para comprar, ainda em 2020, 100 milhões de doses das suas vacinas. O pedido, com valor de US$ 1,95 bilhão, deve ser a produção total das empresas neste ano.
FONTE:Aryel Fernandes/ ISTO É