Com vitória militar de Assad próxima, Moscou quer ação conjunta sem transição política
Druzos sírios carregam bandeiras durante parada nas Colinas de Golã, em área retomada – AMMAR AWAD / REUTERS
NOVA YORK – A Rússia instou nesta sexta-feira as potências mundiais a concentrarem esforços para ajudar na recuperação econômica da Síria e no regresso dos refugiados, enquanto Damasco avança na retomada do seu território após sete anos de guerra.
enquanto Damasco avança na retomada do seu território após sete anos de guerra.
O diplomata russo na ONU Dimitri Polyanski defendeu o fim das sanções unilaterais contra Damasco e disse que os países não devem condicionar a ajuda às exigências de mudança do regime ou à saída do presidente Bashar al-Assad.
A intervenção militar russa em 2015 para apoiar Assad foi um divisor de águas na guerra, que matou mais de 350 mil pessoas e deixou milhões de deslocados.
Diante do Conselho de Segurança, Polyanski declarou que o “reerguimento da economia síria” é um “desafio crítico”, já que o país enfrenta uma aguda escassez de materiais de construção, equipamentos pesados e combustível para reconstruir as áreas destruídas pela guerra.
— Seria prudente que todos os sócios internacionais se unissem para contribuir nos esforços de recuperação da Síria, para evitar conexões artificiais e impulsos políticos — declarou Polyansky.
Mas a França advertiu que não haverá ajuda para a reconstrução até que Assad se comprometa com uma transição política que inclua uma nova Constituição e eleições.
Oito rodadas de negociações apoiadas pela ONU fracassaram em obter um acordo para a Síria, enquanto uma comissão apoiada por Moscou para reescrever a Constituição ainda não iniciou seu trabalho.
Após o fracasso da última rodada de negociações, em dezembro, as forças de Assad retomaram Guta Oriental, na região de Damasco, e assumiram o controle da maior parte da província de Daraa, no Sul.
Ainda no período inicial da guerra civil na Síria, em 2011, manifestantes em Banias pedem liberdade na Síria. Conflito, que nasceu na esteira das manifestações da Primavera Árabe, acabou se tornando cada vez mais violento com atritos entre governo e rebeldes de diferentes facçõesFoto: AFP
Os ataques do governo, com bombardeios, começaram a fazer cada vez mais vítimas em várias cidades pontos de atrito. Alguns dos primeiros grandes foram em 2012, no bairro de Baba Amr, reduto da rebelião em Homs (centro). A imagem mostra o velório de um homem morto nos ataquesFoto: AFP
Menino passa por cima de corpos de crianças mortas em ataque químico em Ghouta, na Síria, em 2013: ataque deixou centenas de mortos. Número é incerto até hojeFoto: Reprodução
Em 2014, o Estado Islâmico conquista a cidade de Raqqa. É o início do autoproclamado califado do grupo, que se expande de maneira veloz e cria um estado de terror em várias cidades sírias e iraquianasFoto: Reuters
Ônibus são usados como barricada em bairro rebelde de Aleppo, em 2015Foto: KARAM AL-MASRI / AFP
Fila de refugiados palestinos se forma no campo de Yarmouk, em Damasco, para receber ajuda humanitária em 2015Foto: UNRWA / AP
A morte do menino sírio Aylan Kurdi, afogado em setembro de 2015 quando a família tentava ir da Turquia para a Europa, chama a atenção do mundo para a questão dos refugiados: com cada vez mais pessoas deixando a Síria, a Europa passa a viver uma grave crise migratóriaFoto: Reuters
Outro menino, o pequeno Omran, chama a atenção para os horrores da guerra ao ser clicado após ser resgatado em estado de choque de um bombardeio em Aleppo, em 2016Foto: MAHMOUD RSLAN / AFP
Em setembro de 2016, sírios carregam bebês em meio a bombardeios contra Aleppo: ofensiva sangrenta do regime reconquistou maior bastião rebelde da guerra, ao custo de dezenas de milhares de civis mortosFoto: AMEER ALHALBI / AFP
Rouhani, Putin e Erdogan se reúnem em Sochi: acordo de 2017 muda os rumos da guerra síria e afasta os EUAFoto: MIKHAIL METZEL / AFP
Explosão na cidade histórica de Palmira, na Síria: Estado Islâmico destruiu parte do patrimônio mundial, mas acabou perdendo terreno com ofensivas de coalizão pró-EUA e da Rússia, junto a AssadFoto: –
Em outubro de 2017, com o Estado Islâmico em forte recuo, forças de maioria curda conseguem reconquistar Raqqa, antes capital dos terroristas. Na imagem, o local é ocupado também por milicianas mulheres — elas eram as mais cerceadas pela visão ultrarradical do grupoFoto: ERIK DE CASTRO / Reuters
Fumaça de bombardeios entre os prédios de Ghouta Oriental, no subúrbio da capital síria Damasco: mais de 500 mortos em apenas uma semana de fevereiroFoto: HAMZA AL-AJWEH / AFP
Homem ferido em bombardeio recebe atendimento em Ghouta Oriental. A ofensiva do regime ao enclave, no início de 2018, marca uma das empreitadas finais de Assad para garantir a vitória na guerra. Com o bastião prestes a ser retomado, resta ao governo reconquistar apenas a província de IdlibFoto: AMER ALMOHIBANY / AFP
O embaixador francês, François Delattre, declarou ao Conselho que Assad está obtendo “vitórias sem paz” e que é preciso retomar as negociações para se obter um acordo final.
— Não participaremos da reconstrução da Síria até que, efetivamente, ocorra uma transição política com processos constitucionais e eleitorais conduzidos de maneira sincera e significativa.
Delattre esclareceu que sem estabilidade “não há razão que justifique o financiamento da França ou da União Europeia nos esforços de reconstrução”.
A Rússia apresentou este mês aos Estados Unidos propostas para a volta dos refugiados sírios na Jordânia, Turquia, Líbano e Egito com o apoio financeiro internacional.