Publicação afirma que o presidente semeia confusão ao desrespeitar medidas de isolamento social e sugere que ele mude de comportamento ou deixe o governo.
Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução / Instagram)
A revista “The Lancet”, uma das publicações médicas mais prestigiadas do mundo, afirmou em seu editorial que o presidente Jair Bolsonaro é “a maior ameaça no combate à Covid-19 no Brasil”.
A publicação repercutiu uma fala do presidente sobre o número de mortes do país, na qual disse: “E daí? O que você quer que eu faça”. A frase foi dita no dia 28 de abril e se tornou o título do editorial da “Lancet”.
“Ele não apenas continua a semear confusão, desrespeitando abertamente as medidas sensatas de distanciamento e bloqueio físico trazidos pelos governadores estaduais e prefeitos, mas também perdeu dois ministros importantes e influentes nas últimas três semanas”, pontuou a revista ao mencionar as quedas de Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, e Sérgio Moro, da Justiça.
A saída dos ministros, para a revista, “são desarranjos no coração da administração no meio de uma emergência de saúde pública e são também sinais claros de que a liderança brasileira perdeu seu compasso moral, se é que um dia teve”.
Editada no Reino Unido, a Lancet lembra que o Brasil é o mais afetado pela pandemia na América Latina e afirmou que os números são “provavelmente substancialmente subestimados”.
A situação no país, segundo a revista, deve piorar nos próximos dias. O editorial citou um estudo do Imperial College, de Londres, afirmando que o Brasil tem a maior taxa de transmissão da doença no mundo, com hospitais sem leitos e poucos respiradores.
Outros temas abordados pelo editorial são as péssimas condições sanitárias das favelas e as invasões aos territórios indígenas por madeireiros, fazendeiros e garimpeiros.
“Cerca de 13 milhões de brasileiros vivem em favelas, geralmente com mais de três pessoas por quarto e pouco acesso a água limpa. Recomendações de distanciamento físico e higiene são quase impossíveis de seguir nesses ambientes”, citou a revista, que lembrou ainda da carta aberta liderada pelo fotógrafo Sebastião Salgado sobre o “genocídio em andamento”.
A Lancet porém ressaltou as “ações esperançosas” de cientistas brasileiros que têm publicações em revistas científicas.
“No entanto, a liderança no mais alto nível do governo é crucial para evitar rapidamente o pior resultado dessa pandemia, como é evidente em outros países. O Brasil como país deve se unir para dar uma resposta clara ao “E daí?” de seu presidente. Ele precisa mudar drasticamente de rumo ou deve ser o próximo a sair”, finaliza.
fonte: Vogue