Uma nova substância bloqueia um tipo de raio do Sol antes considerado inofensivo – que, na verdade, também faz mal e não é protegido pelos filtros atuais
Os protetores solares atuais barram os raios ultravioleta do tipo a (UVA) e o tipo B (UVB). Acontece que deixam passar a chamada luz visível, que até pouco tempo atrás era considerada inofensiva – mas que também parece causar danos à pele. A boa notícia é que pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo desenvolveram uma partícula que bloqueia a tal luz visível, e ela deve resultar em um protetor no futuro.
Essa luz, como sugere o nome, é a que ilumina o dia – ao contrário dos raios ultravioleta, que são invisíveis. “Há cerca de dez anos, os estudos começaram a indicar que o excesso dela também é nocivo. Ao pesquisar os mecanismos por trás disso, observamos que atua em conjunto com raios ultravioleta do tipo A”, comenta Maurício Baptista, professor do Instituto de Química e um dos autores do trabalho.
Não que o ultravioleta do tipo B (UVB) seja inofensivo – ele também está ligado ao câncer. Contudo, apenas uma pequena parcela dos raios de sol é feita desse vilão, e contra ele o corpo tem um sinal de alerta: a vermelhidão. Já a luz visível e o UVA não ardem e não “queimam” a pele, mas seus danos aparecem depois de anos a fio de exposição.
“Hoje sabemos que os casos mais profundos de câncer de pele estão relacionados ao UVA e provavelmente à luz visível, que não é barrada pelos protetores solares atuais”, emenda o químico.
Estrago em dose dupla
A exposição ao UVA abre caminho para que um pigmento chamado lipofuscina se acumule. E essa substância torna os queratinócitos, células que compõem a maior parte da pele, sensíveis à luz visível.
“Juntas, elas provocam a oxidação em um nível mais profundo da derme. É um mecanismo de ação diferente do dos raios ultravioleta B, que são absorvidos pelo DNA de células mais superficiais”, explica Baptista.
Pele 100% protegida
Para afastar o perigo da luz visível, só mesmo uma barreira física ou química que impeça que seu contato direto com a pele. Pensando nisso, a equipe da USP, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, desenvolveu e patenteou uma nanopartícula coberta por uma microscópica camada de melanina artificial, o pigmento que determina a cor da pele.
“A ideia é que ela seja utilizada como componente dos protetores solares, no tom mais apropriado para cada pessoa”, explica Baptista. A camada de cor absorve e reflete a luz que atingiria a pele.
O efeito, aliás, é parecido com o daqueles protetores solares infantis coloridos – sim, esses produtos já bloqueiam parte dos raios visíveis. A diferença é que a substância criada na USP não deixa sua pele verde ou azul, o que ajuda você a andar por aí sem atrair olhares de todo mundo ao seu redor.
A nova formulação deverá lembrar as maquiagens para o rosto com fator de proteção solar. Ela será adaptada para o corpo todo e com indicação de uso, como os filtros contra o UVB e UVA disponíveis. A USP busca agora fabricantes interessados em viabilizar o projeto.
Cabe apenas ressaltar que um pouco de exposição ao sol é essencial para a saúde do organismo. Afinal, são os raios ultravioleta que incitam a produção de vitamina D, uma substância primordial para os ossos e para o metabolismo.