Muito provavelmente, você já passou por um episódio desses: ao tocar num objeto, como a maçaneta da porta de casa ou do carro, ou ao apertar a mão de alguém, sente um choque. Às vezes, é possível até ouvir um barulho ou ver uma faísca.
Mas, afinal, por que isso acontece?
O professor Claudio Furukawa, responsável pelo Laboratório de Demonstrações do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), explica que o fenômeno tem a ver com a eletricidade estática.
Na maioria das vezes, os átomos se encontram num estado neutro. Na prática, isso significa que a quantidade de prótons e elétrons é a mesma.
Mas esse equilíbrio se altera quando encostamos e friccionamos dois objetos com características distintas.
Nesse momento, os átomos de ambos se aproximam demais, e isso pode “embaralhar” todos aqueles elétrons.
Pode ser que um objeto “roube” uma porção dessas partículas para si. Ou seja: um dos materiais fica com mais elétrons.
Aquele estado de neutralidade anterior, então, deixa de existir. O material que perdeu elétrons fica positivo e aquele que ganhou essas partículas se torna negativo.
É isso o que ocorre, por exemplo, quando arrastamos os nossos pés (principalmente com calçados) num carpete, ou se usamos roupas feitas de lã e tecido sintético por algum tempo.
A fricção desses materiais diferentes (pés-carpete ou braços-blusa sintética) “embaralha” os elétrons, o que eletrifica os corpos envolvidos nessa interação.
Só que os átomos sempre buscam voltar à neutralidade. Daí, quando tocamos num terceiro objeto (que está neutro), como a maçaneta da porta, aquele excedente de elétrons é, literalmente, descarregado.
E isso gera um campo elétrico que nos dá o leve choque (geralmente seguido por um susto).
“A formação desse campo elétrico é capaz até de soltar uma rápida faísca”, descreve Furukawa.
O fenômeno se torna mais frequente em dias secos. A pouca umidade no ar dificulta a troca contínua de partículas, o que faz um corpo acumular mais cargas ao longo de um período.
Isso ocorre porque as moléculas de água são boas condutoras de eletricidade e podem livrar o corpo do excedente de elétrons aos poucos.
Porém, num dia seco, o excesso só é descarregado de vez ao tocar em objetos condutores de eletricidade, como superfícies metálicas ou a mão de outra pessoa.
Vale destacar que o material que recebeu aquela carga (como a maçaneta) não fica eletrificado. O excedente de partículas é distribuído por uma massa muito maior ou acaba aterrada — uma vez que a maçaneta está na porta, que se conecta à parede, que tem ligação com o chão e assim por diante.
Faz mal?
Furukawa estima que, para que uma pequena faísca salte no espaço entre a mão e o objeto, é preciso que exista um campo elétrico de 3 mil volts no espaço de um milímetro.
“Para comparar, entre os dois pólos de uma tomada há 110 ou 220 volts, uma tensão insuficiente para soltar faíscas”, compara o físico.
Já uma pilha tem 1,5 volt. “E se você colocar os dedos nos dois terminais da pilha, não vai tomar um choque”, diz o especialista.
Mas será, então, que levar um tranco elétrico ao tocar em objetos ou pessoas pode fazer mal? A resposta é não.
Segundo Furukawa, isso se deve a dois fatores: a duração do episódio e o local em que ele ocorre.
“Primeiro, a carga de partículas acumuladas é relativamente baixa e volta à neutralidade com rapidez, em milésimos. Segundo, o campo elétrico passa pelos dedos e não atravessa nenhum órgão vital, como o cérebro ou o coração”, explica.
Por mais inofensivas que essas descargas sejam, não dá pra negar que elas são um tanto incômodas. Há algo que pode ser feito para evitá-las?
“A dica é, antes de pegar no local em que você usualmente toma o choque, tocar em outros objetos maiores e mais diversos. No caso da maçaneta, por exemplo, vale mexer no molho de chaves, que possui uma superfície de contato maior”, responde Furukawa.
“Você também pode abrir a torneira e lavar as mãos ou andar descalço para descarregar os elétrons”, conclui o físico.
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Este texto foi publicado originalmente no site da BBC News