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sábado, novembro 23, 2024

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Por que o ser humano não é ‘programado’ para se exercitar, segundo cientista

O escritor americano Mark Twain, que viveu até os 75 anos, disse uma vez que fazia todo o exercício que precisava atuando como carregador de caixão nos funerais de seus amigos que se exercitavam regularmente.

Ou talvez essas palavras tenham sido do senador americano Chauncey Depew, que morreu aos 94 anos.

De qualquer forma, embora nem todos o expressem com tanto humor, não são os únicos que, ao longo da história, não se mostraram muito afeitos ao exercício.

E não é incomum, disse Daniel Lieberman, paleoantropólogo da Universidade de Harvard e autor de Exercise, ao The Harvard Gazette.

Estamos programados para evitar esforços desnecessários, não para triatlos ou esteiras, disse ele. Então, seria um mito dizer que é normal fazer exercício.

O ser humano, ressalta, nunca evoluiu para fazer exercício e, do ponto de vista científico, é uma atividade estranha.

Ou seja, embora tenhamos evoluído para nos movermos, para sermos fisicamente ativos, “o exercício é um tipo particular de atividade física: é uma atividade física voluntária em prol da saúde e da boa forma”.

Essa é uma “invenção” relativamente nova, enfatizou o pesquisador.

Ilustração de homem com a perna encostada em sofá

CRÉDITO,GETTY IMAGES. O ser humano, diz o especialista, nunca evoluiu para fazer exercício e, do ponto de vista científico, é uma atividade estranha

Não faria sentido, por exemplo, para um caçador ou pequeno agricultor de subsistência gastar energia extra desnecessariamente correndo 8 quilômetros pela manhã: ele perderia calorias valiosas que necessita para atividades prioritárias.

“Temos esses instintos muito arraigados para evitar atividades físicas desnecessárias”, explica o paleoantropólogo.

Hoje, porém, “consideramos que as pessoas são preguiçosas se não se exercitam. Mas não são preguiçosas. São apenas normais”, diz Lieberman.

Mas isso não quer dizer que o exercício não seja benéfico; só explica por que é tão difícil para muitos de nós fazermos o suficiente.

E Lieberman acha que entender isso pode nos ajudar a fazer mais.

“Já que indicar e promover exercícios obviamente não está funcionando, acho que seria melhor pensarmos como antropólogos evolucionistas.”

Felizmente, é exatamente isso que ele é, então aqui estão quatro de suas recomendações:

1. Não fique bravo consigo mesmo

Não se sinta mal por não querer se exercitar, seu instinto é não fazer mais do que o necessário.

Mulher olhando pesos de academia

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Mas também somos seres racionais.

Estamos conscientes de que construímos um mundo que nos beneficiou imensamente, mas, como já não nos obriga a ser fisicamente ativos, colocou em risco a nossa saúde.

É um mundo em que se tornou necessário fazer mais do que o necessário.

Inúmeros estudos têm demonstrado isso.

Se aprendermos a reconhecer esses instintos, podemos superá-los mais facilmente, diz Lieberman.

“Quando me levanto de manhã para correr, muitas vezes está frio e isso é muito complicado, porque não tenho vontade de me exercitar. Minha mente me dá todos os tipos de razões para adiar. Às vezes tenho que me forçar sair pela porta”, diz.

“Meu ponto aqui é ser compassivo consigo mesmo e entender que essas pequenas vozes em sua cabeça são normais e que todos, mesmo ‘viciados em exercícios’, lutam com elas.”

2. Não se esqueça de duas coisas

Existem apenas duas razões pelas quais evoluímos para sermos fisicamente ativos: suprir necessidades e nos gratificar socialmente.

Jovem dançando

CRÉDITO,GETTY IMAGES. Tornar o exercício divertido é uma das principais orientações para adquirir o hábito de se movimentar

“A maioria de nossos ancestrais saía para caçar ou coletar todos os dias porque senão morreriam de fome.”

“As outras vezes em que eles eram fisicamente ativos eram durante atividades divertidas, como dançar e jogar”, diz o especialista.

Para eles, assim como para nós, a diversão trazia benefícios sociais.

Após anos de estudos, o paleoantropólogo aconselha a ter essa mesma mentalidade em relação ao exercício.

“Torne-o divertido, mas também necessário”, diz.

E uma das melhores maneiras de atingir ambos os objetivos é tornar a atividade física uma atividade social, por exemplo, juntando-se a um grupo de corrida.

“A obrigação vai torná-lo divertido, social e necessário”, afirma Daniel Lieberman.

3. Não se preocupe tanto

Lieberman sugere que “A abordagem antropológica final que pode ajudar é não se preocupar com quanto tempo e quanto exercício é necessário”.

Homem da caverna

CRÉDITO,GETTY IMAGES. Apesar do imaginário popular, especialista diz que “nossos ancestrais eram razoavelmente, mas não excessivamente ativos e fortes”

Ele ressalta que temos essa imagem de que nossos antepassados eram realmente incrivelmente fortes… afinal, eles tinham que levantar pedras gigantes e caçar feras pesadas.

Mas o especialista garante que isso está longe de ser verdade.

“Nossos ancestrais eram razoavelmente, mas não excessivamente ativos e fortes.”

“Eles também não corriam todos os dias, ou regularmente; provavelmente faziam isso uma vez por semana ou algo assim.”

Além disso, Lieberman lembra que você não precisa ir tão longe no passado para descobrir, pois ainda existem povos com estilos de vida semelhantes.

“Os caçadores-coletores típicos se envolvem em apenas cerca de 2 ¼ horas por dia de atividade física moderada a vigorosa.”

“Eles não são extremamente musculosos e passam tantas horas sentados quanto nós, quase 10 por dia.”

A mensagem é que, embora exista o mínimo recomendado, um pouco de atividade física é extremamente saudável.

“Saber isso, acredito, pode ajudar as pessoas a se sentirem melhor em fazer pelo menos um pouco de exercício em vez de nenhum”, diz.

Os estudos mostram que 150 minutos de exercício por semana – 21 minutos por dia – reduzem as taxas de mortalidade em cerca de 50%, acrescenta.

Mas é crucial não só fazê-lo, mas também…

4. Não parar de fazer

Casal de idosos brincando com bambolês em parque

CRÉDITO,GETTY IMAGES. A atividade física deve acompanhar as pessoas em todas as fases da vida

“Inventamos o conceito de aposentadoria no mundo ocidental moderno e, junto com isso, a noção de que quando você chega aos 65 anos, é normal ir com calma”, pondera Lieberman.

No entanto, “evoluímos para ser fisicamente ativos durante toda a vida.”

Essa atividade, por sua vez, nos ajuda a viver mais e a permanecer saudáveis ​​à medida que envelhecemos.

“Isso ocorre porque a atividade física ativa uma ampla gama de mecanismos de reparação e manutenção que neutralizam os efeitos do envelhecimento”, explica.

Uma prova disso são os caçadores-coletores de hoje, que tendem a viver quase tanto quanto suas contrapartes nas sociedades industrializadas ocidentais.

A diferença, ele observa, é que sua “expectativa de saúde” (o número de anos saudáveis ​​de vida) quase corresponde à sua expectativa de vida, enquanto nas sociedades industrializadas é comum temer que você passe anos incapacitado antes de morrer.

“À medida que as pessoas envelhecem no Ocidente, elas tendem a perder muita força e poder, e isso torna as tarefas básicas mais difíceis. E quando isso acontece, as pessoas se tornam menos ativas. Quando ficam menos ativas, se tornam menos aptas.”

“É um ciclo vicioso realmente desastroso”, finaliza Lieberman.

Portanto, supere seus instintos, mesmo que sua mente esteja relutante em ajudá-lo, e continue em movimento, mesmo que já não seja necessário.

E se o exercício te aborrece, faça como na Idade da Pedra: comece a dançar!

Este texto foi publicado em BBC News

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