Os grilos normalmente não pulam na água.
Mas quando seu comportamento está sendo habilmente manipulado por um nematomorfo — um parasita comumente conhecido como verme-crina-de-cavalo por causa de sua anatomia longa e fina — ele se lança contra a água como um camicase e acaba se afogando.
Graças a este ato suicida, uma espécie de truta em risco de extinção no Japão (a Salvelinus leucomaenis japonicus) come o grilo e, assim, obtém 60% de sua dieta.
Ao depender menos de outros invertebrados para sua subsistência, as trutas podem sobreviver e ajudar a decompor as folhas que caem na água e reciclar nutrientes, criando um rio mais limpo como resultado.
Essa conexão íntima entre eventos aparentemente separados um do outro é um dos muitos exemplos que destaca o papel vital dos parasitas nos ecossistemas.
No entanto, os parasitas — que obtêm seu sustento de outros organismos vivos — foram historicamente associados a doenças e têm poucos defensores, apesar de estarem seriamente ameaçados.
Essa má imagem se deve, em parte, ao fato de que “a experiência que a maioria das pessoas tem com parasitas é tê-los dentro do próprio corpo, ou em familiares e animais de estimação”, explica Chelsea Wood, especialista em ecologia de parasitas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
Wood é coautora de um estudo que inclui um plano detalhado para conservar essas minúsculas criaturas. Ela afirma que os parasitas “não são as coisas mais agradáveis de se ter dentro do corpo, por isso é lógico que as pessoas os odeiem”.
“Mas, na verdade, temos muito menos experiência com eles onde são mais comuns e mais diversos, na vida selvagem — que é onde eles realmente desempenham papéis muito importantes”.
Na verdade, apenas 4% dos parasitas conhecidos podem infectar humanos.
Os serviços que eles prestam à natureza, por outro lado, são inestimáveis. Entre eles, existem aqueles que, como predadores, mantêm a abundância da população de seus hospedeiros sob controle.
As vespas parasitoides, por exemplo, atuam como controles biológicos de insetos que são pragas para a agricultura, “permitindo-nos economizar bilhões de dólares por ano neste setor” da economia, explica Skylar Hopkins, professora de Ecologia Aplicada da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e coautora da pesquisa publicada na revista Biological Conservation.
Por outro lado, acrescenta Wood, os parasitas fazem algo bastante interessante, “movendo energia da parte inferior da cadeia alimentar para áreas superiores”.
“Eles fazem isso porque muitos têm ciclos de vida complexos nos quais usam várias espécies hospedeiras para completar um período de seu ciclo de vida”, diz.
E quando o fazem, geralmente há um vínculo estabelecido entre a presa e o predador.
Para explicar esse movimento, Wood usa o exemplo de um parasita que ataca o cérebro de um peixe, na costa oeste da América do Norte. O parasita manipula os peixes para que nadem como loucos; eles acabam ficando mais visíveis aos pássaros, que acabam devorando-os.
Isso é conveniente para o parasita entrar na próxima fase de seu ciclo de vida, que ocorre dentro da ave, mas, acidentalmente, esse comportamento gera mais biomassa para suportar uma população maior de predadores.
“A seleção natural favorece os parasitas que não ficam apenas parados dentro da presa esperando que esta seja comida, mas que ajudam ativamente nesse processo. É por isso que vemos a manipulação (do hospedeiro) como comportamento de parasitas em todo o mundo”, diz a pesquisadora.
Ameaça dupla
Embora não sejam “fofos” como um urso polar, exóticos como um pangolim ou belos como uma borboleta colorida — na verdade, suas formas e texturas podem até ser repugnantes —, os parasitas precisam ser protegidos, pois estão em uma situação vulnerável.
E, embora alguns apareçam em documentos oficiais que alertam sobre risco de extinção — como a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza —, os parasitas são frequentemente considerados mais como algo a ser eliminado do que digno de ser preservado.
“Cerca de 10% das espécies de parasitas estão em risco de extinção por causas diretas nos próximos 50 anos”, diz Hopkins.
Ao contrário dos outros animais, os parasitas enfrentam uma ameaça dupla.
Por um lado, existe a “ameaça primária que qualquer outra espécie sofre devido à mudança climática ou perda de habitat ou poluição”, observa Hopkins.
Mas também existe o problema secundário, o da coextinção: se a espécie hospedeira se extinguir, também perderemos o parasita.
“Aliás, o hospedeiro nem precisa ser extinto; se sua população for reduzida e sua densidade baixar, o parasita terá dificuldade de se mover para outro e isso significa seu fim”, diz Wood.
“Quando você adiciona o risco primário ao risco secundário, estima-se que uma em cada três espécies de parasitas esteja potencialmente em risco de extinção”, acrescenta Hopkins.
Diante disso, tentar proteger a espécie hospedeira pode ser a maneira mais óbvia e mais simples.
O problema é que a estratégia só é eficaz parcialmente.
“Alguns parasitas, como os carrapatos, passam algum tempo no hospedeiro, mas também ficam longe dele por um período”, esclarece Hopkins.
“Portanto, se o ambiente em que vivem se tornar inadequado porque, por exemplo, fica muito quente e seco devido às mudanças climáticas, o carrapato pode ser extinto mesmo que isso não aconteça com seu hospedeiro”.
Plano de ação
Uma das metas mais ambiciosas dos planos para proteger os parasitas é descrever metade dos que existem no mundo nos próximos 10 anos.
Hopkins acredita que o motivo pelo qual ainda sabemos tão pouco sobre parasitas é que eles não são fáceis de se ver.
“Eles são muito pequenos e geralmente vivem dentro da espécie hospedeira. Você pode ver um esquilo, uma rã ou um inseto, mas raramente é possível ver um parasita”, diz Hopkins.
“E se eles estão fora de nossa vista, estão fora de nossa mente”, acrescenta.
São necessários mais especialistas e estudos dedicados à taxonomia dos parasitas, para descrevê-los e nomeá-los, pois essa é uma etapa decisiva em um processo de conservação.
“Se as espécies não têm nomes, não podemos salvá-las”, explica Colin Carson, professor da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, e coautor do projeto.
Ressalte-se que as espécies que os pesquisadores pretendem conservar não são aquelas que afetam diretamente o homem ou os animais domésticos.
Outras medidas focam em identificar e evitar ações que estejam causando sua eliminação de nossos ecossistemas, em entender quais espécies estão sob maior risco, em educar a população para que o papel dos parasitas seja melhor compreendido.
“Algumas décadas atrás, todos nós detestávamos os predadores. Não faz muito tempo que os considerávamos uma praga… Demorou algumas gerações para mudar nossa atitude em relação a eles. Hoje, os vemos como animais magníficos que merecem um esforço de conservação”, Wood argumenta.
Ela acredita que parte dessa mudança tem a ver com documentários sobre a natureza produzidos nos últimos anos, e que apresentam os predadores de uma forma completamente diferente do que conhecíamos até então.
“Acho que se fizéssemos algo semelhante com os parasitas, poderíamos ver uma mudança semelhante na percepção das pessoas”, diz.
Fonte: BBC News