Atualmente, as mudanças que ocorrem no cérebro são mapeadas através de pet scans ou punção lombar
A conferência internacional da Associação de Alzheimer começou na segunda-feira e acaba amanhã. Cada dia foi dedicado a um tema: ciência, biomarcadores, manifestações clínicas e drogas, cuidados e saúde pública. Há novidades promissoras envolvendo essa doença que se tornou uma das maiores ameaças ao envelhecimento saudável. Uma delas se tornou a vedete do evento: os cientistas apresentaram estudos sobre testes com exames de sangue capazes de detectar alterações no cérebro até 20 anos antes de os sintomas de demência começarem a se manifestar. As pesquisas se concentram na medição dos níveis de um tipo determinado de proteína tau, conhecida como p-tau217, que parece ser a mais específica para o Alzheimer e a de detecção mais precoce.
E por que isso é tão importante? Atualmente, as mudanças que ocorrem no cérebro são identificadas através de pet scans ou da punção lombar, na qual é feita a coleta de uma amostra de líquido cefalorraquidiano – ambos métodos invasivos e caros. “É urgente que tenhamos um diagnóstico simples, barato e não invasivo. Embora ainda estejamos lidando com resultados preliminares, que precisam ser ratificados em estudos de longo prazo, a possibilidade de detectar e intervir antes de danos significativos será uma guinada na vida de pessoas, famílias e do sistema de saúde”, declarou a doutora Maria Carrillo, responsável pela área científica da associação.
Há um time internacional de pesquisadores por trás da descoberta, liderado pelo médico Oskar Hansson, da Universidade de Lund, na Suécia. Eles analisaram mais de 1.400 casos e compararam diferentes tipos de marcadores no mapeamento do Alzheimer. O principal achado foi que a medição dos níveis da p-tau217 no sangue conseguia distinguir o Alzheimer de outras doenças neurodegenerativas com uma acurácia entre 89% e 98%, com um custo muito menor que pet scans. Os níveis de p-tau217 eram sete vezes mais altos em pacientes com Alzheimer e, em indivíduos portadores do gene relacionado com a enfermidade, esses níveis começavam a aumentar 20 anos antes do início dos sintomas.
Os cientistas lançaram um estudo mais abrangente, chamado SEABIRD (Study to Evaluate Amyloid in Blood and Imaging Related to Dementia), para validar as descobertas. “É a ponta do iceberg”, definiu Randall Bateman, professor da Washington University de Saint-Louis. Em suas considerações finais, ele afirmou que uma alteração poderá ser detectada antes, num exame de sangue, do que num pet scan. Não se trata de uma opção de tratamento ou cura, mas a perspectiva do mapeamento precoce pode ser uma ferramenta valiosa para lidar com as limitações do futuro. Pacientes que já sofram com perda de memória também terão a chance de descobrir se seu caso é de Alzheimer ou de outra demência menos agressiva. É algo para se comemorar.