De acordo com o ‘Tribunal do Crime’, Ricardinho estava sendo “deselegante diante do PCC”. Caso aconteceu na Penitenciária Tourão (CE)
Funk de facção rival fez PCC espancar membro em presídio no Cerá
Mônica Zarattini/19.02.2001/Estadão Conteúdo
Um integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) passou pelo “Tribunal do Crime” por cantar funks de facções rivais dentro da Penitenciária do Cariri, conhecida como Tourão, em Juazeiro do Norte, no Ceará. De acordo com a facção paulista, seu membro “vem causando conflitos para o convívio, sendo deselegante diante do PCC e GDE (Guardiões do Estado)”.
Na escuta de uma ligação entre os integrantes, a Polícia Civil descobriu que o detento conhecido como “Ricardinho” recebeu uma “conduta disciplinar” da sua própria facção, pois estaria cantando funks com apologia a facções inimigas, o CV (Comando Vermelho) e FDN (Família do Norte).
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As escutas fazem parte das investigações da Operação Echelon da Polícia Civil e MP-SP (Ministério Público de São Paulo). Durante as gravações, um homem chamado de “Boy” recebe relatórios sobre o comportamento de outros membros e determina as sentenças dos julgados pelo ‘Tribunal do Crime’.
Segundo o relatório sobre Ricardinho, além dos funks, o integrante já teria errado outras vezes com a facção. Ele também teria defendido um membro do CV que foi ameaçado de ter a cabeça cortada caso entrasse em uma cela do PCC. Ricardinho teria dito que se arrancassem a cabeça dele, teriam que arrancar a sua também. Ao se explicar, ele afirmou que o inimigo era pai de sua sobrinha e, por isso, queria protegê-lo. Ele ainda pediu que, caso matassem o rival, não fosse na sua frente.
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Durante outra ligação telefônica, desta vez em grupo com a liderança, ele teria desligado seu celular, o que foi considerado uma falta de respeito com seus líderes. Na mesma chamada, todos concordaram que seria necessária uma cobrança disciplinar pelas ações de Ricardinho.
Após a decisão, outro integrante coloca Ricardinho de volta na ligação. Boy pergunta se ele está ciente da guerra entre as facções paulista (PCC) e a carioca (CV), e ele diz que não. Boy então questiona os integrantes do Ceará se “está tranquilo” quanto ao que foi decidido sobre Ricardinho. Eles concordam
O julgamento
Dois membros identificados como “Camisa 7” e “Escopeta” são escolhidos pela facção para aplicar a pena de Ricardinho. Antes da surra, eles discutem sobre o estado físico da vítima e o descrevem como sem nenhuma “quebradura”. Eles também falam sobre Ricardinho não tomar remédios controlados e nunca ter passado por nenhuma cirurgia.
Antes de aplicar a sentença, as condições do “Tribunal do Crime” são repassadas: ele vai apanhar do pescoço para baixo, sem instrumentos, apenas pés e mãos e, ao cair no chão, a cobrança disciplinar deve terminar.
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Um integrante chamado de “Peregrino” explica a Ricardinho sua sentença. Logo depois, Escopeta ordena que comece a cobrança. Camisa 7 então agride o acusado seguindo as condições. Assim que ele cai no chão, para.
Ricardinho é avisado de que a cobrança não foi totalmente satisfatória, que os integrantes esperam que ele tenha entendido e pare de trazer problemas ao PCC.
*Estagiário do R7, com supervisão de Ingrid Alfaya