Entrevistas com pediatras feitas por influenciadores digitais e vídeos curtos integram a campanha da Sociedade Brasileira de Pediatria contra o ‘fake news’
“Cuidado com os palpites”, alerta a campanha lançada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) para combater as ‘fake news’ sobre saúde da criança e do adolescente disseminadas pelas redes sociais.
“Representamos 39 mil pediatras em todo o país. Fake News e opiniões sem fundamentos sobre a saúde da criança e do adolescente podem levar a atitudes equivocadas dos pais. Antes de acreditar no que aparece nas mídias sociais, é importante que os pais conversem com o pediatra”, afirma o pediatra Clóvis Constantino, vice-presidente da SBP.
Como exemplo, ele cita o movimento anti-vacina, propagado nas redes sociais, que, ao estimular a não-vacinação, pode expor crianças a doenças já controladas por vacina e ainda desencadear a proliferação de doenças já erradicadas no país. “Esse tipo de notícia leva insegurança às famílias. Na dúvida se uma notícia é falsa ou não, consulte um pediatra”, orienta.
Constantino ressalta que as redes sociais exercem hoje o papel que os vizinhos ocupavam no passado. “Antigamente, eram os vizinhos que davam palpites. Hoje os palpites são disseminados pelas redes sociais. A divulgação de uma notícia falsa se multiplica em uma progressão geométrica brutal”.
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A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) utiliza justamente esse mesmo meio de comunicação – as redes sociais – para desmistificar falsas notícias sobre saúde na campanha #MAISQUEUMPALPITE, com apoio da Pfizer.
Com o objetivo de atingir principalmente os jovens pais, a campanha estará presente no Facebook e Instagram. São posts e vídeos curtos com a participação do boneco Palpitinho, mascote da iniciativa, que representa “todos os palpiteiros que habitam o dia-a-dia dos pais sobre o desenvolvimento infantil”, de acordo com a SBP.
A campanha ainda inclui entrevistas com pediatras feitas por influenciadores digitais do segmento materno-infantil.
A primeira da série será feita pela atriz e apresentadora Thais Fersoza. Ela entrevista o pediatra infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da SBP. A entrevista abordará dúvidas relacionadas à meningite.
Os vídeos com os influenciadores serão veiculados nas redes sociais de cada participante e estarão disponíveis no site da iniciativa.
O site vai disponibilizar ainda informações sobre o desenvolvimento infantil, como vacinas adequadas para cada idade, e outros cuidados com as crianças.
Saúde infantil sofre com desinformação
Uma pesquisa realizada pelo IBOPE Conecta, a pedido da Pfizer, apontou crenças equivocadas em relação à prevenção das doenças infecciosas mais comuns em bebês. O levantamento foi feito com 1.000 pais e mães de todo o país, por meio de entrevistas online.
O estudo ouviu as classes A, B e C, demonstrando que os mitos são comuns a diversos estratos sociais. Chuva, vento e sereno, por exemplo, foram os elementos mais lembrados quando pais e mães foram questionados sobre os fatores que mais expõem crianças pequenas a doenças infectocontagiosas. Essa relação foi apontada, equivocadamente, por 63% dos entrevistados.
A porcentagem sobe para 70% entre os entrevistados da classe A, chegando a 67% na classe C. Já fatores que de fato mais favorecem a transmissão dessas doenças, como permanência em locais fechados e convívio com irmãos infectados, foram menos citados.
Como mostra a pesquisa, as dúvidas aumentam ainda mais quando o assunto são medidas preventivas contra essas doenças.
Embora 94% dos entrevistados classifiquem a vacinação como forma de proteção muito importante, persistem os mitos sobre as doses de reforço, a segurança das vacinas e a própria necessidade da imunização. Ao menos 30% dos pais estão convencidos, por exemplo, de que higiene e cuidados pessoais seriam o suficiente para prevenir doenças infectocontagiosas, o que não é verdade, de acordo com a SBP.
O mito de que vacinas costumam causar a doença que deveriam prevenir também aparece no levantamento. Pelo menos 1 a cada 5 pais entrevistados acreditam que essa relação é verdadeira. A proporção sobe para mais de 1 a cada três quando se analisa a classe A.
Além disso, 26% do total dos entrevistados dizem não saber se essa relação é verdadeira.
Pais desconfiam das vacinas
O estudo mostra que existe uma insegurança em relação às vacinas. Mais de 20% dos entrevistados afirmaram ter dúvidas sobre o assunto e 10% discordam, totalmente ou parcialmente, da ideia de que vacinas sejam de fato seguras.
Cerca de 11% dizem não conseguir opinar. Apenas na classe A, a maioria acredita que as vacinas são realmente seguras.
“Hoje, com a força das redes sociais, qualquer boato se espalha rapidamente. E, no campo da imunização, esse fenômeno se destaca ainda mais. É uma área que acaba sendo bastante impactada nesses tempos de fake news”, afirma o pediatra infectologista Renato Kfouri.
Percepções equivocadas também foram observadas em relação às diferenças entre as vacinas oferecidas pelas redes pública e privada.
A maioria dos entrevistados da classe A (75%) e da classe B (73%) acredita que as alternativas oferecidas por postos e clínicas particulares são iguais ou não se sentem confortáveis para opinar sobre o assunto.
“O Programa Nacional de Imunizações, considerado um dos melhores do mundo, oferece gratuitamente as vacinas prioritárias em termos de saúde pública. Elas evitam as doenças que mais acometem a população, nas faixas etárias com maior risco de adoecer e de apresentar complicações”, explica Kfouri.
“Já o foco dos calendários das sociedades médicas, que são seguidos pelos serviços particulares, é a proteção individual, de modo que estão contempladas todas as vacinas que podem beneficiar aquele paciente. Há, portanto, calendários diferentes, mas as duas estratégias são importantes”, completa.
O levantamento também evidencia dúvidas sobre o esquema vacinal das crianças. Por exemplo: 68% dos pais desconhecem que o atraso na aplicação da segunda ou terceira dose pode interferir no resultado da imunização – ou preferem não opinar sobre o assunto.
Meningite é doença mais temida
A pesquisa revelou que a meningite é a doença mais temida por pais e mães – 72%. Em segundo lugar, está a pneumonia, com 52%, seguida da dengue, com 49%.
Questionados sobre as doenças que podem ser prevenidas por meio das vacinas, 33% dos participantes citaram a pneumonia. Hepatite B e tétano foram as enfermidades mais lembradas. A meningite foi mencionada por 80% dos entrevistados.
A pesquisa ainda mostrou que pais e mães desconhecem sintomas de doenças como a meningite. A rigidez na nuca, por exemplo, foi mencionada por apenas 33% dos entrevistados.
R7