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Paraguai listou dois que não estavam presos como fugitivos e aliados do PCC.

Agentes penitenciários na entrada do presídio regional de Pedro Juan Caballero, no Paraguai - 22.jan.2020 - Gabriel Stargardter/Reuters

Agentes penitenciários na entrada do presídio regional de Pedro Juan Caballero, no ParaguaiImagem: 22.jan.2020 – Gabriel Stargardter/Reuters

Há cinco anos, Enrique Duarte Ramírez, 70, mal se mexe sozinho. Com Parkinson, vive com a família em Villarrica, no Paraguai. Mas estava na primeira lista de fugitivos da prisão regional de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS), a 430 quilômetros de onde Duarte Ramírez mora.

Além de Duarte Ramírez, estava na lista de 75 fugitivos Alberto Ariel Cristaldo Valiente, que trabalha numa pastelaria em Bella Vista do Norte, cidade paraguaia na divisa de Bela Vista (MS), 135 quilômetros ao norte de Pedro Juan Caballero.

Na madrugada de 19 de janeiro, um domingo, a Polícia Nacional do Paraguai informou que 75 homens fugiram da prisão —parte em um túnel, parte pela saída principal do presídio. Horas depois, a polícia divulgou a lista de fugitivos. Entre eles, Duarte Ramírez e Cristaldo Valiente. A lista chegou a ser republicada por jornais do Paraguai.

De acordo com carcereiros da prisão de Pedro Juan Caballero entrevistados pela reportagem, a contagem foi feita rapidamente. Agentes foram, cela a cela, verificar quem estava e quem faltava. Os que não estavam foram tidos como fugitivos, mas as autoridades paraguaias não explicaram como os nomes de Duarte Ramírez e Cristaldo Valiente, que sequer estavam presos, entraram na lista de homens que deviam estar nas celas.

Dias depois, o governo admitiu o erro e afirmou que os dois citados não haviam sido presos — e não poderiam, portanto, ter fugido da penitenciária. O vice-ministro de Política Criminal do Paraguai, Hugo Volpe, apontou que o ofício foi retificado imediatamente.

Mas Duarte Ramírez e Cristaldo Valiente se queixam de que tiveram seus nomes e imagens amplamente divulgados como criminosos ligados ao PCC.

Enrique Duarte Ramírez e Alberto Valiente foram expostos como fugitivos de prisão no Paraguai de forma errada - Reprodução

Enrique Duarte Ramírez e Alberto Valiente foram expostos como fugitivos de prisão no Paraguai de forma errada Imagem: Reprodução.

A família de Duarte Ramirez se chocou ao ver a imagem do idoso, anos mais novo, divulgada entre os fugitivos. Segundo os familiares, apesar de estar com Parkinson, ele trabalhava, com restrições, em uma fazenda local.

Ele foi preso uma única vez, quando militava contra o ditador paraguaio Alfredo Stroessner, que governou o país entre 1954 e 1989.

Já Cristaldo Valiente afirma que nunca teve problemas com a Justiça. Ele não entende por que teve o nome ligado ao caso. Apesar de o governo paraguaio ter admitido ambos os erros e ter retirado seus nomes das listas, não houve um pedido público de desculpas, tampouco uma compensação sobre o prejuízo gerado a eles e suas famílias.

“A Polícia Nacional divulgou minha foto e meu documento dizendo que sou um fugitivo. Foi um grande erro. Sou uma pessoa trabalhadora e honesta. Estão fazendo um grande dano para a minha família e minha pessoa. Tenho como provar onde trabalho e onde vivo”, afirmou Cristaldo Valiente.

Lista segue com 75 fugitivos

A lista feita pela Polícia Nacional do Paraguai foi divulgada à imprensa local antes de ser enviada a agentes de investigação paraguaios e brasileiros. A Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai, por exemplo, afirma que, até hoje, não recebeu nenhuma lista oficial.

A polícia trocou os nomes de Duarte Ramirez e Cristaldo Valiente por outros dois fugitivos, também paraguaios, e manteve a contagem em 75.

A PM (Polícia Militar) do Mato Grosso do Sul, que age na fronteira entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, aponta que recebeu a nova lista e que colabora na busca pelo lado brasileiro.

Presídio regional de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS) - Divulgação

Presídio regional de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS) Imagem:

Divulgação A reportagem tentou acompanhar, por três dias, o trabalho da polícia paraguaia na fronteira. Nos dois primeiros dias, os policiais não deixaram o batalhão porque chovia; no terceiro, todo o efetivo estava alocado na prefeitura de Pedro Juan Caballero, onde ocorria uma manifestação.

O comissário Roberto Alfonso, chefe da Polícia Nacional em Pedro Juan Caballero, disse que o trabalho de busca está sendo bem executado. “Estamos recebendo reforço de Assunção, com pessoal tático e técnico. Com o correr do tempo, creio que vamos conseguir recapturá-los. Não digo 100%, mas o máximo possível”, afirmou.

Pedro Juan Caballero é um território extremamente estratégico para o PCC. Como o Paraguai é um dos principais produtores de maconha e tem facilidade para a entrada e saída da cocaína que chega via Peru, Colômbia e Bolívia, Pedro Juan Caballero é local de passagem para o tráfico internacional de drogas e de armas.

Uma vez no território nacional, a droga do PCC é enviada aos principais portos do país e, de lá, exportada para Europa, África e Ásia dentro de navios, o que é tido como a principal fonte de renda da facção.

 

Fonte: UOL

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