Casais homossexuais devem ter o direito a firmar uniões civis, afirmou o papa Francisco em um documentário que estreou nesta quarta-feira (21/10).
“Os homossexuais têm direito a formar uma família”, disse ele no filme, dirigido por Evgeny Afineevsky.
“Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser excluído ou forçado a ser infeliz por isso.”
“O que temos que fazer é criar uma legislação para a união civil. Dessa forma, eles ficam legalmente cobertos.”
De acordo com analistas, este é um dos comentários mais explícitos que o papa já fez sobre relacionamentos homossexuais.
O filme Francesco, sobre a vida e obra do papa Francisco, estreou como parte do Festival de Cinema de Roma.
Na entrevista, ele afirmou também que já “se posicionou quanto a isso”, aparentemente se referindo ao período em que foi arcebispo de Buenos Aires e defendeu alguns mecanismos de proteção legal para casais do mesmo sexo, embora se opusesse a casamentos homossexuais em si.
Além dos comentários sobre a união civil, o filme também o mostra incentivando dois homens gays a frequentar a igreja com seus três filhos.
Biógrafo do papa Francisco, Austen Ivereigh disse à BBC que “não ficou surpreso” com os comentários.
“Esta era sua posição como arcebispo de Buenos Aires”, disse Ivereigh. “Ele se opunha ao casamento homossexual, mas ele acreditava que a Igreja deveria defender uma lei de união civil para casais homossexuais, dando-lhes proteção legal.”
Segundo a atual doutrina católica, as relações homossexuais configuram “comportamento desviante”.
Em 2003, o corpo doutrinário do Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé, afirmou que “o respeito pelas pessoas homossexuais não pode levar de forma alguma à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais”.
O que mais o papa Francisco disse sobre homossexualidade no passado?
Os comentários do papa são os mais recentes de uma série de falas sobre os direitos LGBT — sempre expressando algum apoio, mas não um endosso total.
Em 2013, no livro Sobre o Céu e a Terra, o Papa disse que equiparar legalmente casamentos homossexuais a heterossexuais seria “uma regressão antropológica”.
Ele também afirmou que, se casais do mesmo sexo pudessem adotar, “as crianças poderiam ser afetadas… cada pessoa precisa de um pai homem e uma mãe mulher que possam ajudá-los a moldar sua identidade”.
Naquele mesmo ano, ele reafirmou a posição da Igreja de que atos homossexuais eram pecado, mas que a homossexualidade por si só não.
“Se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?”, indagou.
Em 2014, houve relatos de que o papa Francisco havia expressado apoio às uniões civis homossexuais em uma entrevista, mas a assessoria de imprensa da Santa Sé negou.
Então, em 2018, o papa Francisco afirmou que estava “preocupado” com a homossexualidade no clero, e que este era “um assunto sério”.
‘Poucos sinais’ de mudança efetiva, analisa correspondente da BBC
Escrevendo de Roma, onde é correspondente da BBC, Mark Lowen enxergou na declaração “o apoio mais evidente” que o Papa já fez em relação à união de pessoas do mesmo sexo.
Mas a fala indica um sinal efetivo de mudança, ou é mais uma declaração improvisada do antigo arcebispo de Buenos Aires, conhecido por acenar de vez em quando a inclinações liberais, apenas para voltar à doutrina tradicional quando a pressão institucional aumenta?
Para Lowen, a declaração recai melhor na segunda opção.
“Qualquer mudança doutrinária significativa nesse assunto seria tipicamente apresentada de uma maneira mais formal e após muito debate interno. Há, por enquanto, poucos sinais de que qualquer um dos dois (processos) seja iminente”, analisa o correspondente.
fonte: BBC News