A pandemia de Covid-19 teve um impacto bastante negativo no aumento de peso e controle da glicemia dos portadores de diabetes tipo 2, segundo dados de uma pesquisa internacional realizada por pesquisadores da Universidade Fulda de Ciências Aplicadas, na Alemanha e publicada pela revista científica BMC Public Health. Curiosamente, entre os pacientes com diabetes tipo 1 avaliados pela pesquisa, o efeito foi o oposto.
Trata-se de uma revisão e meta-análise de 33 trabalhos que cobrem dez países e 4.700 pessoas e que foi apresentada no encontro anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD em inglês), no final de setembro. De acordo com o estudo, os valores glicêmicos em indivíduos com diabetes tipo 1 melhoraram significativamente durante o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, o que pode estar associado a mudanças positivas no autocuidado e no controle digital do diabetes.
No entanto, esse isolamento social corroborou para a piora em curto prazo nos parâmetros glicêmicos em pacientes com diabetes tipo 2.
Para os autores do estudo, o período de quarentena pode ter levado pacientes com o tipo 1, a maioria convivendo com o diabetes desde a infância, a aprofundar a consciência sobre sua condição. Em compensação, os do tipo 2, que em grande parte desenvolveram o quadro já adultos, podem ter sido afetados mais fortemente pelo estresse, alimentando-se mal e deixando de lado a atividade física.
No entanto, mais pesquisas serão necessárias, particularmente sobre as causas e o gerenciamento eficaz desse tipo da doença durante a pandemia.
Mudança foi sentida nos consultórios médicos
Esse cenário preocupante já vinha sendo percebido pelos médicos em seus consultórios com o avanço da vacinação e a gradual retomada das consultas presenciais, como foi o caso do endocrinologista Fadlo Fraige Filho, especialista em diabetes, tireoide, obesidade, crescimento e doenças hormonais, e professor titular da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC e Presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD).
“Na verdade, há uma diferença cultural entre os dois tipos de diabetes. A do tipo 1 já vem de uma forma impositiva, fazendo com que a pessoa tenha que fazer seus controles diários. Já em relação ao tipo 2, o que ocorre é que ainda existe uma falta de conscientização da necessidade do tratamento adequado. A grande maioria das pessoas, por não sentir nenhum sintoma, negligencia o tratamento. E ainda há um ponto importante: enquanto o tipo 1 atinge mais crianças e adolescentes, que costumam ter uma prática de atividade física razoável — mesmo durante a pandemia — os adultos e mais idosos com diabetes tipo 2 restringiram muito suas atividades físicas durante o isolamento social e, claro, ganharam mais peso. É fato que o descontrole alimentar aliado com o sedentarismo descontrola o diabetes”, esclareceu o presidente da ANAD em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.
Mulheres com diabetes têm menos probabilidade de receber prevenção cardiovascular abrangente do que os homens?
Vale ainda registrar um segundo estudo, também divulgado no encontro anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes, que mostra que mulheres com diabetes não recebem o mesmo cuidado de prevenção de doenças cardiovasculares (DC) que os homens.
A pesquisa contou com quase 10 mil adultos portadores do tipo 2, com ou sem DC preexistente. Os pesquisadores descobriram que a prescrição de estatinas, aspirinas ou medicamentos para pressão arterial era menor no caso delas. No entanto, pacientes do sexo feminino são menos propensas a experimentar resultados adversos de DC, além de acidente vascular cerebral (AVC).
Os autores afirmam que uma melhor compreensão das disparidades de gênero é necessária para melhorar a implementação dos cuidados recomendados para a prevenção de DC em mulheres com diabetes tipo 2.
“Apesar das evidências sobre os benefícios de controlar fatores de risco, baixando os níveis de pressão e colesterol, uma proporção inaceitável de mulheres não recebe o tratamento recomendado, e a DC é a principal causa de mortes femininas”, enfatizou Giulia Ferrannini, médica do Karolinska Institutet, na Suécia, e uma das autoras do estudo.
Fonte: Portal PEBMED