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Os riscos da semaglutida, que ganha popularidade para perda de peso

O empresário Elon Musk afirma que já usou semaglutida e, segundo alguns meios de comunicação dos Estados Unidos, começar esse tratamento se tornou “o segredo mais mal guardado de Hollywood”.

Trata-se de uma injeção para perda de peso cuja popularidade cresce em várias partes do mundo e cujas doses até estão em falta em algumas farmácias.

A droga — vendida sob os nomes comerciais de Wegovy, Ozempic e Rybelsus — foi desenvolvida inicialmente para tratar diabetes tipo 2 e, mais recentemente, começou a ser aprovada em várias partes do mundo como uma nova opção para perder peso.

Vale explicar que há uma diferença entre dosagens, formulações e as indicações de uso em cada um desses nomes comerciais. O Ozempic é um medicamento injetável, traz 1 mg de semaglutida e é indicado para o tratamento do diabetes tipo 2.

O Wegovy também é injetável, traz 2,4 mg de semaglutida foi aprovada como uma terapia contra a obesidade.

Por fim, o Rybelsus vem na forma de comprimidos (com 3,7 ou 14 mg) e foi desenvolvido como um fármaco para controlar o diabetes.

No Reino Unido, a semaglutida como tratamento para obesidade acaba de ser liberada para uso no Serviço Nacional de Saúde, conhecido pela sigla em inglês NHS.

No Brasil, o medicamento à base de semaglutida para perda de peso (o Wegovy) recebeu o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro. No país, ele é considerado um tratamento auxiliar a outras medidas, como adotar dietas com menos calorias e fazer exercícios físicos com regularidade.

O fármaco, administrado como uma injeção sob a pele, faz com que a pessoa se sinta mais cheia e satisfeita, o que a leva a comer menos.

Autoridades de saúde, como a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos, ou o National Institute for Excellence in Health and Care (NICE) no Reino Unido, indicam que o medicamento é seguro e eficaz para controle do excesso de peso crônico em adultos com obesidade que têm pelo menos um distúrbio associado, como hipertensão ou diabetes tipo 2.

Assim como acontece no Brasil, esses órgãos também enfatizam que o uso do remédio deve ser acompanhado de dieta com poucas calorias e programas de atividade física.

De acordo com o NICE, as evidências mostram que a semaglutida pode ajudar a reduzir o peso em mais de 10%, se implementada em conjunto com mudanças na nutrição e na prática de exercícios.

Como mencionado anteriormente, a semaglutida funciona como um inibidor de apetite. Ela “imita” a ação de um hormônio produzido no intestino chamado GLP-1, que tem como alvo áreas do cérebro responsáveis por regular a saciedade e a necessidade de ingestão de alimentos.

O hormônio é liberado depois de uma refeição e normalmente faz com que as pessoas se sintam satisfeitas, o que ajuda a reduzir a ingestão total de calorias ao longo do dia.

Doses de semaglutida

CRÉDITO,GETTY IMAGES. As injeções de semaglutida devem sempre ser prescritas por um médico

As injeções devem ser prescritas por um médico e a recomendação no sistema de saúde do Reino Unido é que o remédio seja tomado por, no máximo, dois anos.

No entanto, o efeito da droga na perda de peso é tão drástico que, em muitos países, a popularidade do tratamento disparou.

Um artigo publicado no ano passado na revista Variety, nos EUA, relata que a droga “saturou a indústria [de entretenimento de Hollywood] nos últimos meses, ajudando pessoas bonitas e ricas a perderem quilos extras rapidamente”.

Os planos de saúde nos Estados Unidos se recusam a cobrir o custo da semaglutida, que é de cerca de US$ 1,3 mil (R$ 6,8 mil) por mês, para pessoas que não são diabéticas ou que não o tomam como medicamento prescrito.

No Brasil, as seguradoras podem cobrir o preço do tratamento em alguns casos. Por ora, ele não está disponível na rede pública de saúde.

No exterior, a popularidade da semaglutida cresceu tanto que agora há uma escassez generalizada de doses naquele país, com temores de que as pessoas que dependem da droga por motivos médicos percam o acesso.

Em fevereiro, o executivo-chefe da Novo Nordisk, a farmacêutica que fabrica o medicamento, disse à rede NBC News que produção foi aumentada para atender à demanda crescente.

“Sabemos com certeza que os pacientes estão fazendo fila [para comprá-lo]”, afirmou Lars Jorgensen, representante do laboratório.

Os riscos

A farmacêutica Novo Nordisk ressalta que a semaglutida só deve ser utilizada mediante prescrição médica.

Este tratamento apresenta efeitos colaterais e riscos. Os principais são náusea, dor de estômago, vômito e diarreia.

Outros eventos adversos listados pelo FDA são: dor de cabeça, fadiga, indigestão, tontura, inchaço, flatulência excessiva, gastroenterite e doença do refluxo gastroesofágico.

Uma pessoa mede a cintura de outra com uma fita

CRÉDITO,GETTY IMAGES. A obesidade pode levar a outros distúrbios, como hipertensão, colesterol alto e diabetes tipo 2

A agência americana também observa que os profissionais de saúde devem alertar os pacientes sobre o risco potencial de tumores da tireoide.

“Remédios como o Wegovy não devem ser usados em pacientes com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide ou em pacientes com uma doença rara chamada síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2”, afirma o FDA.

Além disso, a rápida perda de peso também pode fazer com que a pele tenha uma queda na quantidade de substâncias como o colágeno e a elastina, levando ao que alguns profissionais chamam de “rosto de semaglutida” — que se assemelha a uma aparência abatida.

Opção ‘bem recebida’

Mas, para quem enfrenta problemas para perder peso, ou quando os quilos extras levam a outras doenças, a semaglutida é uma alternativa positiva.

A americana Kailey Wood, de 36 anos, tomou o Ozempic por sete meses, depois que seu médico receitou o fármaco.

Ela contou à BBC que, durante o período, perdeu pouco menos de 30 quilos — com isso, deixou de ser obesa e entrou na faixa de Índice de Massa Corporal (IMC) considerada saudável.

“Tenho síndrome dos ovários policísticos e resistência à insulina, mas, honestamente, não tive nenhum problema com meu peso até os 30 anos”, diz ela.

“Eu estava ganhando peso rapidamente. Tinha um personal trainer e segui todas as dietas conhecidas: cetogênica, de baixo teor de carboidratos, jejum intermitente… Nada parecia funcionar.”

Quando Kailey foi fazer exames com o médico, ela foi informada de que também estava com hipertensão e colesterol alto. Para piorar, devido aos riscos associados à síndrome dos ovários policísticos, corria o risco de desenvolver diabetes tipo 2.

“Os efeitos a longo prazo [de ser obesa] me assustaram porque tenho duas filhas”, diz ela.

“Eu só queria fazer o meu melhor, mostrar a elas como é ser uma mãe saudável, capaz ir lá e brincar.”

Kailey, que trabalha para uma startup de tecnologia e tem sua própria página no TikTok, observa que quem deseja usar a semaglutida precisa estar ciente dos efeitos colaterais da droga.

“Quando se começa a tomar esse remédio, o corpo quase entra em choque: você sente dor de cabeça, enjoo, cansaço…”, explica.

“Mas o organismo começa a se acostumar com isso. Você tem que estar atenta e ouvir seu corpo.”

Kailey diz que acha “de muito mau gosto” que alguns estejam promovendo a droga na mídia americana como um “produto para uma perda de peso rápida”.

Ela acha que isso revela uma mensagem inadequada.

“O que o remédio realmente está fazendo é mudar a vida das pessoas: tratar o paciente antes que ele desenvolva outras doenças”, diz.

Helen Knight, diretora de Avaliação de Medicamentos do NICE, no Reino Unido, diz que, “para algumas pessoas, perder peso é um verdadeiro desafio, então um medicamento como a semaglutida é uma boa opção”.

Já Duane Mellor, nutricionista e professor sênior da Escola de Medicina da Universidade Aston, na Inglaterra, afirma que “é importante lembrar que viver com alto peso corporal ou obesidade não é uma escolha de estilo de vida”.

“Para melhorar a saúde, esses indivíduos devem ser apoiados.”

Segundo o especialista, a semaglutida não deve ser encarada como um tratamento de estilo de vida, mas “com o objetivo de melhorar a saúde”.

  • Texto originalmente publicado em BBC News

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