Fontes que observam o regime norte-coreano disseram que Kim estava em estado grave após cirurgia. Governos da Coreia do Sul e da China disseram não saber da informação. Falta de transparência torna o real estado de saúde do ditador um mistério.
Última aparição pública de Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte, é uma fotografia em que aparece vistoriando aviões militares datada de 12 de abril — Foto: KCNA/via Reuters
O verdadeiro estado de saúde do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, continua cercado de mistérios após a imprensa norte-americana noticiar, na segunda-feira (20), que ele apresentava estado grave após passar por cirurgia cardiovascular.
Isso porque informações sobre a ditadura norte-coreana são difíceis de serem confirmadas. A Coreia do Norte está entre os regimes mais fechados do mundo, e não relata com transparência o que ocorre com Kim ou outros dados do país.
As primeiras notícias de que Kim estava “em estado grave” foram transmitidas por fontes do governo dos Estados Unidos à imprensa norte-americana. Além disso, um site mantido por desertores da Coreia do Norte também publicou que o ditador teve as condições agravadas devido à obesidade e ao hábito de fumar.
O governo da Coreia do Sul — que monitora a ditadura vizinha — não confirmou o estado de saúde, mas reconheceu que Kim passou por cirurgia. A China, que mantém laços com o regime norte-coreano, disse não ter registro sobre o ditador.
30 de junho de 2019 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cruza a fronteira e se tornou o 1º presidente dos EUA a pisar em solo norte-coreano, acompanhado pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un. O momento ocorreu após simbólico aperto de mãos na Zona Desmilitarizada entre as Coreias do Norte e do Sul — Foto: Kevin Lamarque/Reuters
E, oficialmente, o governo dos EUA também não comprovou a história. O presidente Donald Trump disse na terça-feira (21) que “ninguém confirmou que o presidente da Coreia do Norte está doente”.
“Espero que ele esteja bem. Tenho uma relação com ele muito boa”, afirmou Trump.
Como os rumores começaram?
Kim Jong-un, durante reunião do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte — Foto: STR / KCNA / Via KNS / AFP Photo
Kim Jong-un faltou ao evento de comemoração do aniversário do avô, Kim Il-Sung, que ocorreu em 15 de abril. Mesmo morto em 1994, o ex-ditador é considerado um líder até hoje pelo regime norte-coreano.
Na época, especulou-se que a ausência de Kim era uma medida protetiva contra o novo coronavírus. A Coreia do Norte, oficialmente, diz que não tem nenhum caso de Covid-19 — o que é contestado por observadores internacionais.
A última fotografia em que Kim aparece data de 12 de abril e o mostrava inspecionando aviões militares.
Fontes que monitoram o regime norte-coreano, então, relataram que Kim faltou ao evento após passar por cirurgia cardiovascular no início do mês.
O que diz o regime norte-coreano?
Sul-coreanos assistem na estação ferroviária em Seul uma transmissão televisiva nesta segunda-feira (30) com fotos do líder norte-coreano Kim Jong-un — Foto: Jung Yeon-je / AFP
Até este domingo, a Coreia do Norte não havia se manifestado publicamente sobre o estado de saúde de Kim Jong-un. O regime sequer confirmou que o ditador passou por cirurgia.
A agência estatal KCNA publicou uma série de notas que não mencionam qualquer alteração na saúde de Kim. Um dos textos diz que o ditador enviou mensagem ao presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, para parabenizá-lo pelo aniversário na segunda-feira.
Se Kim morrer, quem assume?
Kim Yo-jong, irmã de Kim Jong-un e cotada para assumir o poder na Coreia do Norte caso o ditador morra ou renuncie, em foto de março de 2019 — Foto: Jorge Silva/Pool/Arquivo/Reuters
É outro mistério. Não se sabe se existe uma linha de sucessão na Coreia do Norte nem como ela funciona. Até Kim Jong-un, o poder passou de pai para filho desde Kim Il-sung, mas não está claro quem chefiaria o país caso o ditador morra ou renuncie ao cargo.
A hipótese mais provável é que a irmã dele, Kim Yo Jong, assuma o poder por um período. No entanto, há disputas internas entre a elite do Partido dos Trabalhadores da Coreia, que governa o país, e que poderiam retirá-la do poder.
O que fez a China?
A China, principal parceiro econômico e político da Coreia do Norte, enviou uma equipe que inclui médicos ao país para prestar assistência em relação ao ditador Kim Jong-un, informaram três fontes à agência Reuters em 24 de abril.
A viagem da comitiva também inclui autoridades chinesas. Segundo a Reuters, não é possível determinar nada sobre a saúde de Kim Jong-un apenas com os relatos da visita da comitiva chinesa ao ditador da Coreia do Norte.
Apesar da preocupação com a saúde de Kim, jornais sul-coreanos publicaram relatos de fontes governamentais que afirmam que o líder estaria inspecionando a construção da área turística designada da cidade – um grande complexo de resort em um antigo porto comercial.
Neste sábado (25), a agência Reuters afirmou que um trem especial, possivelmente pertencente ao líder norte-coreano, foi visto esta semana em uma cidade turística do país. A informação seria complementada com imagens de satélite revisadas por um projeto de monitoramento da Coreia do Norte com sede em Washington.
A presença do trem reforçaria a teoria da inspeção no resort, mas não se sabe se Kim teria sido levado ao local no veículo ou não.
FONTE: G1