O ataque de um antigo aliado
A síndrome de Guillain Barré é classificada como uma doença autoimune, em que o próprio sistema imunológico passa a atacar certas partes do corpo de um indivíduo.
No caso específico desta doença, a região acometida é o sistema nervoso periférico, responsável por fazer a comunicação entre o cérebro e as diferentes regiões e estruturas do nosso organismo.
Mas o que leva a esse ataque súbito das células de defesa?
Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, a síndrome é geralmente provocada por um processo infeccioso prévio.
Até o momento, os agentes identificados como possíveis gatilhos para a síndrome de Guillain Barré são:
- Campylobacter, uma das bactérias por trás da diarreia;
- Zika;
- Dengue;
- Chikungunya;
- Citomegalovírus;
- Vírus Epstein-Barr;
- Influenza A (um dos causadores da gripe);
- Mycoplasma pneumoniae;
- Enterovírus D68;
- Hepatites A, B e C;
- HIV;
- Sars-CoV-2 (causador da covid-19).
O ministério ressalta que “muitos vírus e bactérias já foram associados temporalmente com o desenvolvimento da síndrome de Guillain Barré, embora em geral seja difícil comprovar a verdadeira causalidade da doença”.
E não há uma relação entre a gravidade da infecção e o aparecimento da doença: mesmo quadros leves e com poucos sintomas podem engatilhar o ataque ao sistema nervoso periférico.
Segundo os registros oficiais do Brasil, são detectados um a quatro casos por 100 mil habitantes a cada ano. A enfermidade é mais comum na faixa etária dos 20 aos 40 anos.
A infectologista Raquel Stucchi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acrescenta que o Guillain Barré também está eventualmente associado a uma reação vacinal, embora esse efeito colateral seja considerado raro.
“Diversas vacinas têm essa relação causal com a síndrome, que pode ocorrer no período de 60 a 90 dias após a administração da dose”, diz a médica, que também integra a Sociedade Brasileira de Infectologia.
No caso específico dos imunizantes contra a covid-19, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos apontam que esse evento adverso em quem tomou as doses de Janssen ou AstraZeneca também é classificado como algo raro, embora seja mais frequente do que o observado na média da população.
Segundo as autoridades, os benefícios de se vacinar — e, portanto, ficar protegido das doenças infecciosas para as quais as doses são aplicadas — superam os eventuais riscos observados até o momento.
Os sintomas de Guillain Barré
Em linhas gerais, a síndrome começa com formigamentos ou uma sensação de fraqueza. Esses incômodos são progressivos e costumam se iniciar pelos membros inferiores (pés e pernas). Com o tempo, eles “sobem” para o tronco, os braços e as mãos.
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) destaca que os sintomas mais frequentes de Guillain Barré são:
- Dormência;
- Comichões;
- Fraqueza muscular;
- Dor;
- Problemas de equilíbrio e coordenação.
Se esses sinais não forem embora ou piorarem após alguns dias — com o aparecimento de dificuldades para se locomover, engolir ou respirar —, é importante buscar um médico o mais rápido possível para uma avaliação criteriosa.
O diagnóstico da doença depende de alguns exames, como a análise do líquido cefalorraquidiano (o líquor, presente na medula espinhal e no cérebro).
Formas de recuperação
A detecção precoce da síndrome é primordial para iniciar o tratamento assim que possível.
Desse modo, a doença não progride e não acomete outros músculos vitais para a sobrevivência — como é o caso do diafragma, que desempenha um papel fundamental na respiração.
Na fase aguda, em que o paciente fica internado no hospital, o Guillain Barré é combatido com medicações conhecidas como imunoglobulinas intravenosas (IgIV).
Esse fármaco traz anticorpos retirados de diversos doadores, numa tentativa de conter a ação desregulada do sistema imunológico.
Se essa primeira opção não dá certo, os especialistas costumam recorrer à plasmaférese, um procedimento que substitui o plasma sanguíneo do indivíduo para livrá-lo de anticorpos que possivelmente engatilharam o quadro.
Quando o problema agudo é resolvido, a pessoa recebe alta e volta para casa. Mesmo assim, ela ainda pode necessitar de tratamentos de reabilitação — que envolvem fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia, entre outros.
O Ministério da Saúde assegura que todos esses tratamentos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
Texto publicado originalmente publicado no site de notícias BBC News