Tempo de vida de verme estudado em pesquisas sobre longevidade aumentou 18% com uso de medicação enoxacino, que provocou aumento da vitalidade. Pesquisa foi publicada em periódico internacional.
Caenorhabditis elegans, verme analisado em pesquisa sobre longevidade do Laboratório de Biologia do Envelhecimento, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, em Campinas. — Foto: Sarah Azoubel Lima/Divulgação
Mais saúde na velhice. O Laboratório de Biologia do Envelhecimento, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, em Campinas (SP), descobriu uma droga capaz de aumentar a vitalidade das células de vermes, interferindo tanto no tempo quanto na qualidade da vida deste ser vivo.
O estudo foi publicado no periódico internacional Redox Biology. O medicamento que apresentou o avanço nas pesquisas, iniciadas há cinco anos com colaboração nacional e internacional, é o enoxacino. Um agente antimicrobiano já usado para tratar infecções urinárias em humanos.
“Muita gente não considera o envelhecimento um processo a ser tratado como uma doença, todo mundo envelhece um dia. O que a gente quer não é tornar as pessoas imortais, mas que elas envelheçam com mais saúde”, explica o coordenador do estudo, Marcelo Mori.
Os vermes Caenorhabditis elegans – medem no máximo 1 mm e são frequentemente usados em estudos sobre envelhecimento por terem um ciclo de vida de até 30 dias – viveram 18% a mais com a droga, se comparado aos que não foram submetidos à substância.
“É o avanço mais recente nas pesquisas brasileiras sobre esse tema”, afirma Mori.
Pesquisador e coordenador do estudo da Unicamp sobre droga que reduz efeitos maléficos da velhice, Marcelo Mori. — Foto: Sarah Azoubel Lima/Divulgação
Como a droga age
Mori explica que o diferencial está no impacto da droga nas moléculas reguladoras microRNAs, presentes no genoma de uma diversidade de organismos, de plantas até animais.
“A gente observa que é uma via que envolve a produção de moléculas chamadas microRNAs. Quando ela está ativada, ela é pró-longevidade. Quando é inibida, está associada ao envelhecimento precoce, a doenças”, explica o pesquisador.
Entre os males causados pela inibição dessas moléculas, estão: diabetes, doenças vasculares e processos inflamatórios associados a doenças crônicas.
Vermes estudados em pesquisa sobre longevidade na Unicamp, em Campinas. — Foto: Marcelo Mori/Arquivo pessoal
Nos vermes, foi visível a preservação da capacidade motora na velhice desses animais que usaram a droga.
“Acontece com o verme e com humanos. A gente vai perdendo músculos, coordenação, os vermes também perdem capacidade motora. No verme a droga consegue preservar por mais tempo a capacidade motora”.
Os pesquisadores concluíram que a via por meio dos microRNAs é chave no controle do processo de envelhecimento baseado em dados de associação genética. O estudo já está sendo feito também em camundongos.
“A gente tem dados positivos contra doenças metabólicas. É bem possível que ela [droga] tenha um comportamento positivo em mamíferos maiores”, acredita o coordenador.
Pesquisa da Unicamp que estuda efeito de medicações em microRNAs causando efeitos benéficos na velhice é coordenada por Marcelo Mori. — Foto: Sarah Azoubel Lima/Divulgação
Princípio ativo em nova droga
Por ser um antibiótico, Mori afirma que, com a descoberta, os pesquisadores estudam uma maneira de usar o princípio ativo para desenvolver uma nova medicação, sem efeitos colaterais.
Atualmente, o enoxacino atua em duas frentes: na bactéria a ser combatida, e diretamente nas células, reduzindo a sua degeneração.
“A gente tem um processo de melhoramento da droga para conseguir chegar num ensaio clínico que traga benefícios para população. […] A gente quer preservar só o efeito nas células, que é o que contribui para a longevidade”, afirma.
Outra droga que vem sendo estudada com efeitos pró-longevidade é a metformina, mas ela apresenta uma ação diferente nas células. Altera o metabolismo, mas sem os efeitos nos microRNAs.
“Como atuam por vias diferentes, pode ser que elas sejam aditivas, é uma possibilidade”, avalia Mori.
Verme estudados em pesquisa sobre longevidade na Unicamp, em Campinas, apresentou aumento no tempo de vida. — Foto: Marcelo Mori/Arquivo pessoal
G1