Líder da Igreja Geração Jesus Cristo, Tupirani da Hora Lores se tornou em 2009 a primeira pessoa presa no Brasil por intolerância religiosa
Alvo da Operação Rofésh, da Polícia Federal, o pastor Tupirani da Hora Lores foi preso na quinta-feira (24), no Rio de Janeiro. Líder da Igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo, ele é conhecido por promover discursos de ódio contra a população judaica e já havia sido alvo da Operação Shalon, deflagrada em março do ano passado.
A ação foi do Grupo de Repressão a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal (PF), que cumpriu mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão no bairro de Santo Cristo, onde fica a sede da igreja, na Região Central da capital do estado. Segundo a PF, as investigações revelam que o pastor produziu e publicou diversos vídeos com ataques a judeus e membros de outras religiões.
O pedido de prisão, feito pela PF, motivado por crime de racismo, foi determinado pela oitava Vara Federal Criminal. O nome da operação, Rofésh, significa liberdade, em hebraico, principal idioma de Israel. As duas operações são fruto do mesmo inquérito. O pastor foi preso com uma camisa preta, que trazia a inscrição “não sou vacinado”.
A notícia-crime que embasou a operação de 2020 tinha vídeos de um culto presencial, na sede da congregação, nos quais Tupirani da Hora Lores pediu que Deus massacrasse os judeus, que os humilhasse, e clamou que “eles sejam envergonhados, como na Segunda Guerra, e não tenham forças para levantar suas servis”.
Em outro trecho, Hora Lores cobrou ações divinas contra os judeus e se referiu à disputa pelas terras do estado de Israel e à diáspora judaica de modo ofensivo. “Eles saíram às nações para compartilhas das suas heranças em benefício próprio, deitaram com as prostitutas, Senhor. Fizeram alianças, serviram ao mal e desejaram se alimentar com as bolotas e alfarrobas dos porcos, Deus. Porquanto, ficaram sem nada”, disse.
Responsável pela notícia-crime, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) celebrou a operação desta quinta-feira (24). Advogado da entidade, Ricardo Sidi afirma entender que o pastor representa um caso atípico para o judiciário brasileiro.
“A regra é que (acusados) fiquem em liberdade até o trânsito em julgado, mas ele é um exemplo clássico de caso para prisão provisória, porque não consegue parar com a prática reiterada. A prisão é uma vitória, um grande serviço para a sociedade, porque há uma grande dificuldade para calar um sujeito como esse”, afirma o advogado.
A Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj) também comemorou o resultado da ação. Presidente da entidade, Alberto Klein entende que é necessário combater o que chama de falso acolhimento, oferecido por uma série de entidades que promovem a intolerância religiosa.
“Os grupos extremistas acolhem de uma maneira diferente: oferecem o amor para dentro, para quem faz parte do grupo, e o ódio para fora, o que acaba sendo o que as pessoas querem. Se sentem parte de algo e ganham um canal para extravasar o ódio, por meio de intolerância e do preconceito. É o que a sociedade precisa combater”, avalia.
Em 2009, Tupirani da Hora Lores se tornou a primeira pessoa condenada por intolerância religiosa no Brasil. Quatro anos depois, ele e outros fiéis da denominação religiosa foram presos por racismo, homofobia e xenofobia. A PF informa que, além dos crimes de racismo e ameaça, o pastor poderá responder por incitação e apologia de crime, que podem levá-lo a cumprir pena de até 26 anos de reclusão.
No Rio de Janeiro, a Igreja Geração Jesus Cristo é conhecida por espalhar pela cidade estênceis com a inscrição “Bíblia sim, Constituição não”. A prisão ocorre em um momento no qual tem crescido as denúncias de antissemitismo.
No dia 9, a CNN apresentou um relatório da Safernet, organização não-governamental que que mapeia ações de crimes e violações aos direitos humanos no ambiente digital.
Segundo a entidade, foram recebidas 14,7 mil denúncias anônimas de atividades neonazistas na internet brasileira em 2020, dados que incluem ações contra a população judaica. Um crescimento de 1.251% em dois anos, quando comparados com os 1.071 registros de 2019. A Igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo ainda não se manifestou sobre a prisão do pastor.
Fonte: CNN Brasil