Apesar de dentro do consenso, analistas apontam para difusão de alta dos preços e para prováveis reajustes dos combustíveis
Nesta quarta-feira (9), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que houve em janeiro uma alta de 0,54% na base mensal dos preços da cesta de produtos que compõem o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tido como o “número oficial” da inflação brasileira.
O índice veio em linha com o consenso levantado pela Refinitiv, que projetava um acréscimo de 0,55%, e trouxe ainda uma desaceleração na comparação com a variação registrada em dezembro, que foi de 0,73%. Na base anual, por fim, o crescimento acumulado foi de 10,39%, sendo que o número esperado era 10,40%.
“A inflação ainda é alta, mas com o mercado quase cravando o consenso e apresentando recuo importante na comparação com dezembro. Com isso, seu impacto deve ser irrelevante”, comenta João Beck, economista e sócio da BRA Investimentos.
Para ele, há a possibilidade de dezembro, com a desaceleração, ter se fixado como um ponto de inflexão – ou seja, definido como a maior alta da curva e com o índice, a partir de agora, trazendo uma menor inflação.
A opinião corrobora, em parte, com a afirmação da economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, que afirmou que “o dado trouxe uma espécie de alento para o mercado, especialmente para o Banco Central”.
“A expectativa do mercado foi corroborada e nos últimos dias havia se criado um medo de que haveria uma evolução negativa do dado, especialmente após a ata do Copom de ontem”, disse Argenta.
A economista-chefe da CM Capital faz referência ao fato de a instituição monetária brasileira ter deixado em aberto a magnitude das próximas altas da Selic, devido a incertezas “particularmente elevadas” sobre preços de commodities.
A fala do Banco Central foi interpretada pelo mercado como uma possibilidade de o ciclo altista se estender mais do que o projetado. Até então, esperava-se apenas mais uma alta em março e esta menor do que as anteriores, que foram de 1,5 ponto percentual. A curva de juros fechou o pregão de ontem subindo, com a taxa do contrato DI vincendo em janeiro de 2023, por exemplo, avançando 14 pontos-base, a 12,12% – a Selic, atualmente, está em 10,75%.
Interpretações sobre “qualidade do IPCA” são incertas
“O resultado de janeiro foi puxado pelos preços livres, que sazonalmente no início e final do ano costumam a ficar mais caros, o que traz um viés mais positivo para a inflação”, afirma Argenta.
Do outro lado, a economista-chefe da CM Capital afirma que houve participação positiva dos preços administrados, que contam com a definição do governo. “Tivemos uma deflação destes itens em 0,35%. É um bom resultado, mas deve ser revertido no próximo mês, por conta dos combustíveis”, explicou. “Isso deve bater em cheio no IPCA de fevereiro”.
A XP Investimentos em seu relatório sobre o IPCA foi na mesma linha, afirmando que a deflação dos combustíveis deve ser revertida por conta das recentes altas do petróleo e que preços industriais devem continuar a subir.
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, por fim, analisa que a persistência da inflação em bens industriais e em serviços subjacentes, bem como na média dos núcleos, traz uma perspectiva ruim para os dados. ” A disseminação na inflação, marcada pelo índice de difusão, se mantém em patamares altos, e provavelmente fará com que o BC continue tendo que agir duramente contra a alta dos preços”, diz.
Por volta das 14h, a curva de juros trazia uma alta de 12 pontos-base no rendimento do contrato DI vincendo em janeiro de 2023, que vai a 12,24%.
Fonte: InfoMoney